Chapter Eight

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  Era simples, hipoteticamente, apenas fechar os olhos e esperar com que os lábios de Harry tomassem os seus.

Hipoteticamente.

Na teoria, já não era tão simples. Além de que, para Louis, incluía uma porção de termos e suas confusões de mais cedo. Ele sentia vontade de beijar Harry, isto não poderia negar, mas apenas os dois ali naquela casa, o que aconteceria no futuro? E para retornar à Europa e deixá-lo lá?

Envolvimento.

Louis estava assustado, mesmo que jamais viria a admitir isto.

Ele poderia beijar Harry e depois voltar a sua recém-criada rotina —de volta à adolescência— é claro que poderia, mas as coisas não funcionavam mais assim.

Levantou-se, um pouco atordoado, derrubando até a xícara que descansava ao lado do pé do sofá, estava tão perdido com a ideia de se envolver que acabou por se perder, visualmente.

—Eu não devia ter dito isso, me desculpe. – Harry disse seguindo Louis até a cozinha.

—Tudo bem, sem problemas. É só... íntimo demais.

Ok, Harry sorriu. Louis queria socar aquele sorriso.

—Íntimo demais?

Tomlinson enrolava suas mãos em um pano de prato para tirar a forma de pão do forno.

—É.

Procurou não se aprofundar na questão, afinal as perguntas de Harry seriam infinitas, porém sua paciência estava no limite.

  Colocou a travessa em cima da pia, soando um leve estalo pelo contato com a superfície úmida, e antes que pudesse pensar em olhar para o rosto conhecido, procurou se ocupar em arrumar a mesa com panos, talheres, entre outras coisas que encontraria fuçando nas gavetas e armários.

Após tudo estar, dentro de seus padrões; organizado, tirou o pão da travessa e colocou em um prato, no centro da mesa, cercado com manteiga e alguns frios. Sentou-se com uma xícara de água quente em mãos, não demorando muito até que Harry estivesse em sua frente, aguardando a refeição. Louis cortou o pão, e a fumaça quente que saia das entranhas da massa era de deixar qualquer um com água na boca. Um leve sorriso escapou, orgulhoso de seus dons culinários.

Modéstia, a parte, talvez tenha a deixado na Europa.

A refeição se tornou uma batalha silenciosa entre, o apreciar da comida ou a humilhação de tentar explicar o que nem a ti mesmo fazia sentido. Um dilema que queimava os neurônios de Louis. Porém Harry, estava ocupado demais encantado em como a manteiga derretia ligeiramente, misturando-se com a massa.

—Isso está incrível! Eu nunca comi algo tão bom em toda a minha vida. –Dizia degustando a massa como se estivesse há semanas sem comer.

—Deixe de exageros, é apenas um pão como qualquer outro.

—Você é péssimo com comprimentos, admita que seu prato está uma obra-prima, digna de restaurantes caros para que eu tome a liberdade de me acabar com isso, durante todo o dia.

—Tudo bem.  –Disse sorrindo fraco, por fim, não queria prolongar discussões.

  O restante da refeição seguiu da mesma forma que começou, em silêncio. Louis comia tranquilamente, como se não houvesse uma mente barulhenta gritando dentro de si. Já Harry, apesar de estar na mesma situação, procurava manter-se sereno tanto por fora quanto por dentro. Diferente de Louis, Harry não canalizava todos os seus problemas em um apertado espaço de sua mente, ele apenas os via, pensava sobre e tirava uma conclusão a respeito daquilo. Não solução, conclusão. Soluções são outros quinhentos.

  Tommo foi o primeiro a se levantar da mesa, deixou o prato, a xícara e talheres usados na pia, erguendo as mangas do suéter de lã grossa, para começar a lavá-los, porém sendo impedido por mãos grande segurando a  embalagem de detergente.

—Eu lavo, pode deixar.  –Styles avisou antes que o outro o olhasse estranho– Você fez o pão, e fez chá. Não seria justo você lavar tudo.

Ele não tem jeito mesmo. Pensou Louis, erguendo as mãos em forma de rendimento.

—Espere! Não vá para o quarto, por favor.  –Palavras mágicas capazes de paralisar um Louis prestes a pegar se trancar no quarto pelos próximos três meses– E... eu ando muito sozinho aqui, e você foi a primeira pessoa a alugar um quarto por aqui, eu só quero conversar, sabe? É bem deprimente não ter alguém sequer para dar bom dia de manhã, e esse lugar, por mais que eu ame, não ajuda muito. Então se você puder, por favor, sentar numa cadeira e falar qualquer coisa, seria ótimo. Não estou te obrigando nem nada, não quero te pressionar. Sinta-se livre para fazer o que achar melhor.

Caralho.

Caralhocaralhocaralhocaralhocaralho

Como se fala mesmo? Louis nem saiu de onde estava enquanto processava tudo o que Harry havia acabado de dizer. Nossa. Quer dizer, ele sabia que Harry era sozinho, e talvez em algum momento, tenha passado por sua mente que Harry se sentia dessa forma, mas ouvir isso, com todas as letras e sílabas, misturado com aquela voz grossa e rouca, era algo que Louis não tinha sido ensinado a como reagir.

—Você está bem? –Um Styles com as mãos pingando aparece ao seu lado– Foi algo que eu disse?

E nesse momento a resposta de Louis foi até mais inesperada que o pedido de Harry. Ele apenas juntou seus lábios, e se tivesse um segundo a mais para pensar estaria xingando-se por dentro, porém a sensação dos lábios de Harry tomando os seus, as mãos molhadas e gélidas em seu quadril, o puxando para mais perto. Não tinha explicação lógica para aquilo. Era um beijo. Como se explica um beijo?

A junção de duas bocas que pedem silenciosamente uma pela outra? Talvez. Mas aquilo estava longe de haver uma explicação. Era tão quente e parecia errado e certo. Uma confusão de línguas, saliva e nenhum pensamento, apenas, agora, a falta de ar.

—Porra.

Harry falou enquanto esfregava as mãos ainda úmidas nas laterais da calça de moletom enquanto encarava um Louis ofegante, com a boca avermelhada e os olhos perdidos.

—M-Me desculpe, eu não- quer dizer, eu queria mas não era a hora. Céus, Harry! Sabe o que acabamos de fazer?

—Sim, acabamos de nos beijar.

—Idiota. –Um sorrisinho fraco nasceu ali, naqueles lábios que instante atrás tocavam os de Harry– Não foi só isso. Acabamos de foder com tudo, você vai se apaixonar por mim, mas eu terei de voltar para a Europa e viveremos um Querido John gay e sem guerras, apenas você magoado e eu me sentindo um merda.

Styles tocou os ombros daquele que mais parecia uma gatinho melodramático enfurecido.

—Calma aí, garotão! Quem disse que eu irei me apaixonar por você? Não vou ser babaca de dizer que foi um beijo, mas ainda estamos no princípio. Você pensa demais, e a sua mente brilhante te leva tão longe nas suas ideias. Olha pra mim. –Delicadamente levanta o queixo daquele com olhos azuis– Estamos no presente. Este é o agora, se concentre no agora. Eu estou aqui, você está aqui e por mais que isso possa parecer novo e de outro mundo, somos apenas duas pessoas. Pessoas que têm desejos, sonhos e que só vão viver uma vez porque a única certeza que temos é que vamos morrer algum dia. Não seja presunçoso em pensar que isso vai terminar mal se você nem sequer está dando a chance de começar. Não vou te pedir para pensar porque você já o faz demais, porém relaxa um pouco. Aproveita o hoje. Por enquanto, é tudo que você tem.

Louis assentiu, e por fim, Harry beijou sua testa e o deixou lá, parado no meio da cozinha, não olhou para trás enquanto voltava a louça, apenas respirou fundo e enfrentou novamente aquela água gelada dos infernos. Procurou relembrar do beijo de minutos atrás e um sorriso sapeca escapou de seu rosto.

Ainda bem que Louis não pode ver. Pensou alheio. Antes de perceber braços pequenos e quentes envolvendo seu torso. E nossa, que dia de situações inesperadas.

—Não tenho só ao hoje, também tenho você.

Isolation  ➳ L.S Where stories live. Discover now