Capítulo 23: Intimidades

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– Absurdo é o que fazes! Olha com quem andas! Bruxas e putas! Meu irmãozinho que já peguei no colo, que troquei os cueiros...

– Para com isso! – E voltou-se para o barqueiro, em senzar. – Lonsau-bin, vamos!

– Não! –Rodógune mudou de atitude de repente, pôs-se de joelhos e implorou – Pensa no que fazes! Não vês que sem ti, Képhalos vai à falência? Queres nos ver todos a ferros?

– Que tolice! O negócio nunca esteve melhor. Basta não falhar com a Casa Imperial.

– Ele não é bom de vendas, tu sabes...

– Aprenderá, ou arranjará quem o faça. Se tu e Képhalos retirardes os insultos a minha companheira, não me custa retomar os laços de família e visitá-los, mas não quero mais saber de vinhos.

Deu-lhe as costas, entrou na gôndola e pediu de novo a Lonsau para se pôr a caminho, enquanto Rodógune lhe lançava impropérios. Quando se afastavam, o barqueiro, que não entendia acaio e só percebera o teor acalorado da discussão, perguntou:

– Quem era? Uma ex-esposa? Namorada?

– Não! É minha irmã mais velha. Ela não se conforma com eu romper a sociedade com o marido dela para ficar com Thana. Foi ele quem criou caso ao querer me forçar a me casar com a filha de um negociante rico para o bem da firma, mas mesmo que mudasse de ideia, não me interessa mais. Sinto mais pelos meus sobrinhos, porque gosto deles e não têm culpa dessa situação.

Lonsau fez um breve silêncio pensativo, enquanto manejava o remo.

– Acho que entendo. Irmãs e tios maternos às vezes querem mandar demais na gente. Felizmente minha família dá-se bem com minha esposa, mas alguns primos meus têm dificuldades.

Phaidros duvidava que o gondoleiro realmente entendesse. Os complicados clãs matrilineares dos senzares eram bem diferentes das famílias patriarcais dos acaios. Problemas com parentes provavelmente existiam em todas as culturas, mas não tinham sempre o mesmo caráter.

Thana os recebeu e pediu desculpas por seu braço fraco não poder ajudá-los com os móveis escada acima, mas deu uma ajuda simbólica com as coisas mais leves e com uma substanciosa caldeirada de peixes e ovos para restaurar as energias. Quando Lonsau recebeu o pagamento e os deixou a sós, ela perguntou a Phaidros, ao sentarem-se na rede:

– Aconteceu algo de ruim? Estás tenso e sinto algo errado...

Phaidros contou-lhe sobre o encontro desagradável com a irmã. Thana propôs:

– Precisas relaxar. Deixa-me massagear-te!

Ele adorou a proposta, despiu-se e deitou-se no tapete. Ela também ficou nua e massageou-o depois de passar óleo de coco nos pés descalços, como de outras vezes. Ora usava um banquinho para se apoiar, ora pisava nele apoiando-se num cajado.

– Sabe o que mais gosto? – Perguntou Phaidros. – É ser uma maneira tão única de dar e receber uma massagem. Só nossa.

– Desculpa-me se isso te desaponta, mas não é tão única assim, já fiz para outras pessoas. – Respondeu ela, matreira. – Mas entendo o que queres dizer. Compartilhar gostos e experiências singulares cria uma cumplicidade toda especial. Aquela nossa lambança de ontem, por exemplo.

– Arre! Tens certeza de que queres lembrar isso?

Ela riu e sapateou com os pés descalços na bunda dele, sentada no banquinho.

– Quero sim! Doeu e deu um trabalhão para limpar, mas foi gozado em todos os sentidos e mudou meu humor. Não era para eu estar tão leve depois de ter mergulhado naquele horror. Eu me lembraria da noite de ontem com carinho mesmo que nos separássemos hoje!

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⏰ Última atualização: Jul 12, 2017 ⏰

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