Steve e eu ficamos lado a lado. Ele dá um passo para frente e abre a porta do final do corredor. Eu o sigo, ficando bem atrás. Passamos pela porta dupla e logo em seguida eu a ouço se fechar nas minhas costas.

Não estamos mais em um corredor. O lugar é silencioso. Parece que estamos sozinhos aqui.

— Onde estamos? — pergunto.

— Parece o hall de entrada de uma casa grande. Tirando o fato que tem uma cadeira parecida com a de um dentista no meio... — Começo a caminhar para frente, tocando no chão com a bengala. Consigo perceber que o piso é de madeira. — Cuidado com o degrau um pouco à sua frente.

Eu sinto a bengala atingir o degrau logo depois que ele fala. Assim que desço, percebo que o chão mudou novamente de piso, para o mesmo do corredor e do saguão lá embaixo.

Ouço Steve se apressar para o outro lado da sala. Seus sapatos produzem um som ecoante no piso de rocha metamórfica.

— Nossa! É linda a visão daqui. — Sinto uma pontada de dor no peito ao ouvir isso. Ele nem parece reparar no que disse. Seu tom é como se estivesse encantado com alguma coisa. — Essa parede é totalmente envidraçada. Dá pra ver Saint Louis inteira daqui. Consigo ver até o arco! É simplesmente...

— Incrível, não? — Ouvimos uma voz vir de outro canto da sala. Eu me assusto. Percebo que Steve também ao ouvir o som agudo da sola de borracha de seus tênis virando rapidamente. — Escolhi esse lugar para fazer a inserção do aparelho porque queria que a primeira vista da nossa cobaia fosse algo perfeito.

A palavra que ele se refere a mim faz meu estômago revirar.

— Cobaia? — pergunta Steve, parecendo incrédulo e incrivelmente corajoso. — Por que você a chamou de...

— Steve... — repreendo-o. — Está tudo bem.

Eu havia feito meu pai assinar o contrato. E nele dizia que eu aceitaria ser designada a qualquer um desses termos científicos.

— Desculpe, Zoe — fala o homem. — Não quis ofender ou causar constrangimento. Se preferir, usamos seu nome normalmente.

— Não — digo. — No contrato dizia que vocês podiam me chamar do que quiser. Pode me chamar de... cobaia.

— Quem é você? — ouço Steve dizer.

Sua voz permanece firme e forte. Eu me surpreendo com a coragem que ele tomou de uma hora para outra.

— Meu nome é Mitchell Columbus — diz ele. — Sou o fundador da NeoTech.

Meu coração falha uma batida. Mitchell Columbus. Esse cara tem uma página no Wikipédia. Eu nunca falei com alguém que tivesse uma página no Wikipédia.

— Você é quem está desenvolvendo o projeto? — pergunto.

— Sim — responde ele. — Sou eu.

Por algum motivo, tudo parece estar sendo um sonho. Algo que está acontecendo apenas em minha cabeça. É difícil acreditar que tudo seja real. Mini drones, cura para a cegueira, cura para a semi surdez, cura para a paraplegia, cura para AIDS... eram tantas coisas...

— Você gostou da visão, Steve? É Steve seu nome, estou certo? — fala Mitchell. — Sabe, eu também amo admirar a vista daqui.

Ouço seus passos se aproximarem até Steve. Por algum motivo, eu hesito e dou um passo para trás.

— Já perdi horas aqui. Apenas olhando pro horizonte e pensando em novos projetos para nossa empresa crescer — ele fala. É como se Mitchell fosse um pai falando sobre algo com o filho. Eu me aproximo um pouco dos dois. — Foi aqui onde tive a ideia para o projeto. Vendo os pássaros passando por perto. Vendo os prédios indo diminuindo ao longe. Vendo aquele arco às margens do grande e azul rio Mississipi.

Invisível (DEGUSTAÇÃO)Where stories live. Discover now