Capítulo Cinco

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Entramos no carro de Logan e Stephano. Eu e Steve nos sentamos no banco traseiro. Nesses últimos dias eu já violei a maioria das regras dos meus pais sobre as ruas. Nunca entre no carro de um estranho! Nunca fale com um estranho! Nunca aceite tomar café com um estranho! Nunca se meta em confusões! Bem, eu estou dentro de um carro preto com estranhos dirigindo após termos passado na cafeteria e conversado sobre uma confusão tecnológica que eu estou prestes a me envolver.

Além disso tudo, eu havia mentido para meus pais. E não era uma mentirinha básica que todos os filhos falam para seus pais, como por exemplo falar que vai fazer trabalho quando na verdade está indo para o shopping. Não. Era uma mentira tenebrosa que está me fazendo me sentir mais culpada ainda. Eu disse que faria trabalho com Steve, mas nós dois estamos indo para o centro da cidade fazer a instalação de um aparelho nunca testado. Como eles se sentiriam se soubessem a verdade?

A tensão não parou nem por um segundo. Eu continuo nervosa e com meus joelhos dançando. Apesar do carro estar gelado por causa do ar condicionado, eu continuo suando. Se esse teste der certo... se eu começar a enxergar... Ter mentido valerá a pena.

A viagem da minha escola até o centro da cidade não deve demorar tanto. Até sairmos da parte suburbana de Saint Louis não haverá trânsito. Já não sei direito como funciona no centro. Fui poucas vezes para lá e nem me preocupei em reparar no trânsito.

E quando eu chegar em casa hoje? Se meus olhos estiverem funcionando, verei minha mãe pela primeira vez. Eu já consigo pressentir minhas lágrimas caindo.

Quando o carro começa a fazer baliza para entrar em alguma vaga, eu me viro para Steve e sussurro:

— Onde estamos?

— É um estacionamento — ele sussurra de volta, contendo a emoção na sua voz. — De frente a um enorme prédio. É um dos mais altos daqui.

Saímos do carro. O calor do lado de fora nos atinge. Steve se apressa para vir ao meu lado e me ajudar com a minha mobilidade. Ele me guia enquanto seguimos Logan e Stephano. Aqui no centro, o barulho de buzinas e cantos de pneus são constantes. Sinto cheiro de gasolina por perto.

Atravessamos uma rua extensa para chegar na entrada do edifício. Passamos por uma porta dupla. E nisso, eu me sinto como se tivéssemos mudado de país de uma hora para a outra.

Tudo que acontecia do lado de fora é cessado e engolido pelo que acontece do lado de dentro. Um falatório, passos pra lá e pra cá, cheiro de produto de limpeza perfumado, o ar gelado, o barulho das teclas de computador, o som de máquinas metálicas em serviço...

Eu consigo, de alguma forma, sentir a tecnologia ao meu redor. Consigo perceber que estamos em um salão enorme.

— A NeoTech trabalha duro para a humanidade viver um futuro próspero e tecnológico — ouço uma voz feminina falar de um ponto bem alto do salão. Sua voz não é alta o suficiente para inibir os outros sons do local, mas ainda continua perfeitamente auditiva. — Temos os melhores cientistas da América trabalhando para o desenvolvimento de novas tecnologias. O avanço tecnológico tem facilitado e melhorado cada vez mais a nossa área da saúde...

Paro de prestar atenção no que a mulher está falando para acompanhar os passos de Steve ao meu lado. Não sei se é a ansiedade dele ou os Homens de Preto estão andando muito rápido, mas seus passos estão quase impossíveis de acompanhar.

— Sejam bem-vindos à NeoTech! — ouço Logan dizer à nossa frente. — Aqui é nossa sede principal; onde criamos e desenvolvemos todos os nossos aparelhos.

Ouço algo passar zumbindo como uma abelha bem acima de nós. Sou atingida por uma forte pressão de vento.

— Meu Deus! — fala Steve, empolgado. — Aquilo era um drone?

Invisível (DEGUSTAÇÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora