22.

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—Dee? Estais podendo falar?

—Estou.

—Querida, você comentou algo um dia desses, mas que não lembro o que foi. Poderia me dizer de novo?

Penso, penso. A última vez que falei com ele faz... um mês.

—Hm, não lembro o que foi—faço-me de desentendida.

—Ah, certo. Ando cheio de coisas na cabeça. Estou muito esquecido.

—É bem perceptível—murmuro. Você não fala comigo há um mês.

—Ahn?

—Ah, nada. Falei com Floflis.

—Ah tá. Bem, como andam as coisas por aí?

—Andam muito bem—respondo, dando ênfase em "muito bem". –E por aí? Onde está agora?

—Estou na China, no momento. Viemos negociar algumas coisas com algumas empresas daqui.

—Ah.

Ficamos em silêncio por um momento.

—Tenho que ir, querida. Acabaram de me mandar uma mensagem que estaremos indo agora para uma reunião importante...

—Ok, ok, vá lá. Tchau.

—Tchau.

Desligo o telefone. Não estava muito a fim de conversar com ele.

Passo por um espelho. Minha barriga já está bem aparente. Visto uma blusa bem soltinha e uma calça jeans. Calço sapatilhas bege e pego meu jaleco e minha bolsa com minhas coisas.

Mal chego no hospital e já gritam o meu nome.

—Doutora! Uma emergência!

Deixo minha bolsa no carro e só pego o jaleco. Tranco o carro e saio correndo pelo estacionamento colocando o jaleco. Sigo para perto da ambulância e jogam um álcool em gel para mim. Passo nas mãos rapidamente e já vou ajudando.

Um rapaz tinha sido baleado e a bala estava presa no músculo do ombro. Ainda bem que não precisaria de uma cirurgia. Bem, não uma cirurgia para ocasiões muito sérias.

—AAAAIIII!—ele gritava pelos corredores. Corremos com a maca.

Anne me passa luvas prende o meu cabelo num rabo de cavalo enquanto aplicam a anestesia local no rapaz.

Começo o procedimento.

—Qual o seu nome?—tento distraí-lo da dor.

—Samuel.

—De onde você é, Samuel?

—Vancouver. Mas vim do Brasil.

—Brasil?—me animo. –Também sou brasileira. De onde você era no Brasil?

—Nasci no Rio Grande do Sul, mas morei por muito tempo em Salvador. E a senhora?

—Nasci em Salvador, mas morei no Paraná. Que coincidência! É ótimo achar brasileiros por aqui.

—Bem, nem sempre—ele responde. Depois que entendo. Algum brasileiro tinha atirado nele...

—Ah...

—Doutora, sinto que conheço a senhora de algum canto—ele se vira para mim.

—Talvez nós nos vimos alguma vez no Brasil, há muito tempo, mas não lembramos.

—Não—ele me corta.—Acho que conheço você de verdade.

Olho para ele. Bem nos seus olhos. Sinto algo familiar.

—Realmente, você não me é estranho.

Ele vai se virando, mas olha alguma coisa em mim. Sigo o seu olhar. Ele está lendo meu nome bordado em verde.

—Diana Dee Arraes.

—É o meu nome—fico um pouco tensa.

—Diana—ele pronuncia o meu nome novamente.

—Sam, posso te chamar assim?—ele assente. –Poderia me dar o seu nome completo para eu preencher a sua ficha?

—Samuel Damon Arraes.

Escrevo e paro. Leio o nome dele. Releio. Aquele nome era tão familiar...

—Doutora, poderia fazer um teste de DNA?

  O encaro, nervosa.

—Sam, quantos anos você tem?

—Vinte e nove. Diana, por favor. Preciso de um teste de DNA.

Meu coração bate muito forte.

—Seria para quem?—pergunto, mas já sei da resposta.

—Para mim—ele responde—e para você.


Quando eu era do Ensino Fundamental, teve um dia em que fomos ao laboratório de ciências e a professora disse que veríamos as nossas células no microscópio. Primeiramente, eu pensei que íamos ter que cortar um pedacinho pequeno da nossa pele para observarmos. Eu já estava me preparando para oferecer um pedacinho da minha pele, quando a professora falou que a célula seria da mucosa da boca: passaríamos um cotonete na mucosa da boca e colocaríamos numa lâmina de vidro para observarmos no microscópio. Mas continuei animada.

Agora, Anne está examinando o nosso DNA e eu nunca estive tão receosa com o resultado.

Horas depois, ela chega com o resultado, me entrega e dá uma cópia a Samuel.

Ele abre e, depois de ler, ele olha para mim com expectativa.

—Abra, por favor.

Hesito, mas abro.

Leio.

Ai, meu Deus.

—Eu sabia!—ele sorri.—Diana, eu sou seu irmão. Seu irmão mais velho.

Sempre ao Seu Lado {Shawn•Mendes} Livro UmOù les histoires vivent. Découvrez maintenant