#02 Os Herdeiros do Olimpo | 15 - Águas Escuras

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POV Percy

Eu deveria ter prestado mais atenção ao que fazia.

Sem contar com os pequenos treinos que tive no Acampamento antes de sair nessa missão, eu não tinha enfrentado um monstro de verdade desde que voltara do Tártaro. A coisa toda com Cimopoleia não tinha envolvido monstro nenhum, apenas uma deusa mimada e vingativa que, surpreendentemente, eu consegui dissuadir de me matar apenas com palavras. Palavras verdadeiras, mas apenas palavras.

Eu devia saber que enfrentar monstros de verdade ia mexer com a minha cabeça. De um jeito ruim. Um jeito muito, muito ruim, que eu não estava preparado para lidar. E principalmente: não estava preparado para que ninguém visse.

É claro que, no começo, eu não percebi. Apenas balancei a espada pra lá e pra cá, cortando monstros ao meio. Desviei de garras, abaixei, puxei as malditas criaturas pelas asas e cortei suas cabeças, me enchendo de pó de monstro. Vi que os outros faziam o mesmo, destruindo tantos quanto podiam, e não me preocupei muito com ninguém. Apenas continuei lutando, ocasionalmente usando meus poderes com o pouco de água que o ar proporcionava, apenas para distrair os monstros o suficiente para me dar uma vantagem.

Eu não percebi quando os monstros pararam de ser reais, mas o céu começou a escurecer de repente. O azul e branco foi se tornando cinza, e depois preto como carvão. O ar ficou pesado, difícil de respirar e a cada fôlego parecia que eu inalava enxofre.

Então os monstros começaram a rir. Arai apareceram novamente. As malditas aves que guardavam maldições monstruosas para mim. Rindo. Zombando. Olhei para todos os lados e percebi que estava de volta ao Tártaro... ou talvez... eu nunca tivesse saído em primeiro lugar.

Tudo não passava de um sonho. Um lindo, maravilhoso sonho, de um momento de pura exaustão, quando meu corpo não aguentava mais lutar e tinha sucumbido ao descanso.

Mas agora eu não podia me dar a esse luxo, e enquanto as arai corriam para mim, gritando meu nome e levantando suas garras e exibindo suas presas, eu concentrei minha força nos elementos ao meu redor, tentando usar meus poderes – em vão, não havia água aqui – e tentando, mais uma vez, brandir minha espada.

— O que está fazendo, Percy? — Uma delas perguntou, a voz anasalada estranha e nada parecida com o que eu tinha acostumado a ouvir.

Era um truque, eu sabia, pra me deixar vulnerável. Não respondi sua pergunta. A adrenalina e o desespero de perceber que nada do que pareceram ser os últimos meses estavam fazendo meu sangue ferver.

Meses. Eu tinha sonhado com meses. Era provavelmente outra maldição, uma que eu tinha recebido, dessa vez, sem perceber.

— Você está certo, Percy. — disse uma arai, parecendo ler meus pensamentos. — E temos muito mais para lhe dar.

Todas atrás dela – seis, para ser exato – riram. Eu fechei os olhos com força e balancei a cabeça, tentando, de alguma forma, negar o que estava acontecendo.

— Fiquem longe de mim! — Ouvi minha voz bradar, tremendo.

As arai perceberam. Elas riram mais, e avançaram ainda mais.

Eu andava para trás a cada passo delas e logo fiquei sem chão. Literalmente. Olhei para trás e não existia nada. Nada além de um vazio sem fim, escuro e consumidor. O medo começou a fluir nas minhas veias. Eu tinha força suficiente para vencê-las? Encurralado como estava?

Elas chegavam mais perto, e a que estava na frente das outras estava quase ao alcance da lâmina da Anaklusmos, e eu não sabia o que fazer. Meu coração palpitava.

HIATUS INDETERMINADO | O Filho do Mar [1] / Os Herdeiros do Olimpo [2]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora