Capítulo 1

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Catarina Taylor, com o seu cabelo louro encaracolado, os olhos castanhos e uma boca que parecia feita para sorrir à mínima provocação, estava sentada em cima da mesa da cozinha e mordiscava com um gesto preguiçoso uma cenoura, pois estava na semana da dieta, por oposição à semana anterior em que o lema tinha sido: come tudo porque as dietas são uma parvoíce. Enquanto falava, observava a sua amiga preparar um prato de verduras.

___ Dizem que vem morar para cá.___ acrescentou.

___ E, então?
Sofia estava de costas para a sua amiga, mas podia imaginar o brilho maligno dos seus olhos enquanto se entregava ao prazer da coscuvilhice. Numa povoação pequena, os rumores como aquele eram coisas do dia-a-dia.

___ E, então? É só isso tens a dizer?

___ Parece-te pouco? ___ Sofia acrescentou especiarias às verduras e um pouco de natas. Cat estava de dieta, mas sentir-se-ia ofendida se lhe oferecessem algo sem calorias.

___ Porque é que não estás curiosa? ___ inquiriu Catarina, num tom acusatório, como se Sofia tentasse deliberadamente sabotar a conversa.___ Todos falam de Gregory Wallace. Anabela, Carolina e as outras raparigas do local já agendaram a sua vida social para os próximos quinze anos, se, de facto, vier morar para a povoação.

___ Coitado! Bom, o jantar está pronto.
Aquilo desviou a conversa por uns minutos, mas quando as duas se sentaram diante do seu prato de esparguete com verduras, Catarina recuperou o tema do dia, empenhada em que Sofia reagisse.
Sofia ouvia a conversa da sua amiga, mas o assunto aborrecia; a. Era a primeira a reconhecer que Gregory Wallace tinha feito muito pela povoação. A sua fortuna estivera por detrás da construção do novo bairro residencial que, apesar das suspeitas iniciais, tinha sido construído com bom gosto e respeito pelo ambiente. E os novos habitantes londrinos, fartos da grande cidade, iriam melhorar a economia local.
Já se falava da abertura de um supermercado e o único hotel da povoação, que decaía ano para ano, tinha-se visto obrigado pelos acontecimentos a melhorar o seu aspecto e agora parecia novo e quase elegante, disposto a receber os esperados turistas. Mas isso não queria dizer nada, ás pessoas comportavam-se como se aquele homem fosse um cavalheiro vestido de armadura a lutar para salvar a pobre Ashdown da sua eminente ruína e decadência, em vez do que realmente era: um homem de negócios que encontrara uma nova maneira de aumentar a sua fortuna.

___ Não estou a ver porque é que esse homem quer viver aqui ___ comentou Sofia, finalmente, deixando os talheres no prato vazio e observando com indulgência a sua amiga resistir durante uns segundos a repetir e depois sucumbir com um suspiro de prazer. ___ Este tipo de homem precisa das emoções de Londres. E não me digas que pensa em instalar-se aqui para cultivar hortaliças e observar os pássaros nos seus tempos livres.

___ És tão cínica, Sofia ___ replicou Catarina, depois de beber um gole de vinho.

___ Sou realista. Gregory Wallace, o solteiro de ouro, vem morar para cá? Não somos uma povoação conhecida pelas belezas locais.

___ Não digas isso diante a Annabela para não a contrariares. E ___ Catarina ergueu-se na cadeira, acariciou o copo de vinho entre as mãos e olhou para a sua amiga com seriedade... ___ Estás cá tu. Não és precisamente uma rapariga feia, pois não, querida? Embora te vistas como se quisesses parecer.
Sofia sentiu que se ruborizava e aproveitou para levantar os pratos da mesa e os colocar no lava-loiça, debaixo da torneira dê água.

___ Por favor, não conheces com isso outra vez.
Detestava que lhe falassem do seu aspecto. Todos pareciam acreditar que a beleza física era uma bênção, que abria portas e tornava tudo mais fácil. Ninguém percebia que aquele tipo de beleza fechava tantas portas quanto abria e Sofia estava farta de não ser compreendida pela sua amiga.

___ Porque é que não deixas de vestir essas saias compridas e essas botas de campesina? Não é por falta de dinheiro.

___ Não ___ replicou Sofia, com amargura. ___ Tenho dinheiro. Alan deixou-nos dinheiro suficiente, como sabes ___ virou-se para olhar para a sua amiga. ___ A má consciência surte os seus efeitos.
Ainda lhe custava brincar sobre aquilo. Mesmo passado cinco anos, pronunciar o seu nome obrigava-a a aclarar a garganta.

___ Não me apetece falar disso ___ concluiu.

___ Porquê? ___ inquiriu Catarina, agressivamente. ___ Se não falas comigo, com quem vais falar?

___ Não quero falar com ninguém, Cat ___ apertou os punhos com força. ___ Jade e eu estamos bem. Sou feliz assim. Não quero falar do passado ___ ao pronunciar o nome da sua filha, os olhos de Sofia dirigiram-se automaticamente para a escada, mas sabia que a criança dormia profundamente.

___ Está bem ___ Catarina encolheu os ombros e aceitou o café que a sua amiga lhe estendia.___ Mas enganas-te. És bonita, Sofia, e não precisas de pinturas nem de fatos especiais para o pareceres. No entanto, escondes-te aqui sem te deixares ver.

___ Tu também moras cá. Não te vi correr para a estação para apanhares o primeiro comboio para Londres.

___ É verdade ___ Catarina sorriu e Sofia descontraiu-se um pouco.
Pelo menos, o jantar não ia acabar com uma nota amarga. Detestava zangar-se com Catarina. Eram amigas desde a infância e apesar disso o tema de Alan era demasiado doloroso para que pudesse falar nisso abertamente. Normalmente, Catarina respeitava a sua reserva.
Mais tarde, quando Catarina se foi embora, Sofia permaneceu de pé no seu quarto, a pensar no que tinha dito. Tudo mentira. Não era feliz. Não era no sentido de acordar todas as manhãs e sentir-se feliz por estar viva.
Só se sentia feliz ao olhar para Jade, mas a maior parte do tempo sentia-se envolta numa nuvem de tristeza vaga e sem motivo. Às vezes, conseguia sacudi-la e sentir uma lufada de ar fresco, de alegria, mas a nuvem voltava a formar-se à sua volta, como uma segunda natureza da qual não conseguia desprender-se.
Como explicar isso a Catarina? A sua amiga pensava que o divórcio era algo habitual e que, pelo menos, ela estivera casada com um homem rico que lhe deixara dinheiro suficiente para viver confortavelmente. Como podia explicar-lhe toda a amargura e humilhação da sua ruptura? Como dizer-lhe que a sua auto-estima fora tão pisada que nunca conseguiria recuperá-la totalmente?
Virou-se e na penumbra do quarto observou aquele rosto e aquele corpo que segundo todos deveria dar-lhe felicidade e boa sorte. Viu o seu cabelo ruivo brilhante, a cair em caracóis até a sua cintura, os olhos enormes e verdes, o nariz direito, a forma perfeita da boca. Conhecia o cumprimento das suas pernas, a estreiteza da sua cintura e orgulhosa curva dos seus seios.
Olhou-se no espelho com objectividade. Se não fosse tão espampanante, Alan não teria olhado para ela e a sua vida teria sido diferente, talvez melhor. Alguma coisa coisa boa tinha saído daquele desastre.


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Caraca veio aí está o primeiro de muitíssimos capítulos, cliquem na estrelinha e comentem
Bjinho no rabo♥

O Atraente Milionário Where stories live. Discover now