C A P Í T U L O 7

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          Descemos a escada íngreme que levava ao subterrâneo. A atmosfera concebida com pouca luz, climatização especial e controle de umidade, nos envolveu por meio de uma aura mística, letárgica, que exalava um cheiro envelhecido e reconfortante. As maiores raridades do mundo se encontravam lá, escondidas de todo fel e profanação. Mais de dois mil anos de história em pergaminhos e escrituras que moldaram o mundo que possuíamos.

          A furtivos passos, caminhamos por entre as prateleiras de madeira até o fundo da ampla biblioteca, onde se mantinha o menor de todos os cofres que existiam ali. Vincent, em um autocontrole solene, digitou a senha e após um destrave metálico, abriu a espessa porta de grafeno.

          Lá dentro jazia somente um tubo preto e o livro de Avigayil Na'amah. Com um desvelo desmedido, os peguei. Uma sensação de insuportável receio por uma insatisfatória conclusão, invadiu a minha alma. A expressão de vil juízo que Vincent detinha me fez recordar de suas palavras que foram proferidas no mais tardio dos atos, eu já havia criado expectativas.

          Voltamos para o escritório com a circunspeção de voltar tudo para o lugar. Enquanto ele conferia se a porta estava trancada, e a cortina devidamente fechada, guardei o livro no alto de uma das estantes que cercavam o cômodo. Então, me dirigi até a mesa abrindo o tubo aveludado. Retirei de dentro o mais antigo dos pergaminhos que possuíamos. Ainda que tivessem se passado dois mil e seiscentos anos, se fazia presente o odor da pele da ovelha que servira para sustentar a promessa dos Deuses.

          Senti o toque de Vincent em minhas costas, seu olhar me perscrutando atentamente como se nossas reflexões fossem análogas. Após desenrolar a pele sobre a mesa, cravei uma de minhas unhas em meu pulso abrindo um corte suficientemente profundo para que meu sangue caísse sobre o pergaminho. Este, que antes não tinha nada escrito, ao receber as gotas, começou a revelar em um tom tão escuro quanto a noite, suas primeiras palavras.

          ― Liz Aileen Irwin ― as pronunciei concisa.

          Em muitos séculos, fora a primeira vez que senti meu coração oscilar um pouco além do habitual.

          ― É ela ― confirmou Vincent, sorrindo extasiado. Aos poucos, todas as palavras ficaram visíveis nos permitindo ler, juntos, o Contrato de Destino.

          Quase não era possível crer que, depois de tanto tempo, havia chegado a hora de cumprirmos com o que nos fora designado. Nossa redenção íntegra perante os Deuses, fundava-se naquele pergaminho. Tudo que éramos e tudo que constituímos até então, foram em razão daquele Contrato.

          Vincent me envolveu a cintura com suas mãos espalmadas, e um beijo em meu ombro foi dado. Seu abraço por trás me trouxe sentimentos alentadores. Vislumbrei um futuro decoroso, e a sensação de que finalmente viraríamos a página soturna de nossas vidas, atenuavam as lembranças molestas.

          ― Suponho que agora devemos avisar ao Anton, certo?

          ― Ainda não, querido. A inconstância de nosso filho poderá tornar as circunstâncias mais imponderáveis neste início. Na verdade, também não deveríamos contatar Avigayil por enquanto. Quero conhecer essa garota, e receio pelo que pode acontecer quando Louise e Johan descobrirem tudo. Eles parecem demasiadamente protetores com a neta.

          ― Carissimi ― Vincent me virou para ele ―, o que você está pensando em fazer? Espero que ir atrás dessa menina não seja uma de suas predileções. Melhor, confio que nem esteja passando tal absurdo por sua cabeça.

          ― Necessito conhecê-la, Vince. ― Seu olhar fechou tornando-se desagradavelmente rígido.

          ― Nora, você não poderá cogitar essa possibilidade sem que a família dela compreenda tudo. Ainda mais depois do que se sucedera com aquele vampiro, é certo que ela não vai querer se aproximar de você, caso descubra que é uma vampira.

Contrato de DestinoWhere stories live. Discover now