1. LEMBRANÇAS

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NICOLETTI

Dezesseis longos anos se passaram e a única coisa que eu tive da minha mãe foi um bilhete dizendo "Sinto muito, eu te amo

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Dezesseis longos anos se passaram e a única coisa que eu tive da minha mãe foi um bilhete dizendo "Sinto muito, eu te amo.", se ela me ama mesmo como diz, por que não retornou? Se não por mim, então, por todas as suas coisas que ficaram para trás?

Como se fosse ontem, lembro-me bem de após ler o bilhete, dobrei-o e guardei no bolso do vestidinho azul claro que eu vestia, com um pouco de dificuldade, sentei-me na cadeira alta e degustei de meu último waffles com bastante mel e morangos vermelhos bem suculentos.

Aquele dia, passei o dia todo esperando ansiosamente por minha mãe voltar e me dar um daqueles abraços fortes e sufocantes, porém, bem lá no fundo eu sabia que aquele bilhete era tudo que eu teria da minha mãe pelo rosto da minha vida. Quando a noite chegou, eu estava morrendo de fome, não havia comido nada além dos waffles, e não tinha comida pronta e gelada na geladeira. Minha vontade era de preparar um macarrão instantâneo, já havia assistido várias e várias vezes minha mãe preparar um para mim e nunca me pareceu ser difícil, no entanto, minha mãe tinha dito que uma criança de cinco anos nunca poderia mexer no fogo sem uma supervisão de algum responsável.

Estava enrolada em minha coberta quando escutei o motor do carro do meu pai, ele deve estar entrando na garagem, empolgada eu fui aguardá-lo na sala, minha imaginação infantil e fértil demais tinha esperança dele ter comprado uma pizza ou qualquer outra coisa que eu poderia comer ou até mesmo de minha mãe ter chegado junto com ele. Quando ele entrou pela porta da sala cambaleando — sozinho — e me viu parada no meio dela, não me questionou do fato de eu estar acordada quase às onze da noite ou de minha mãe não estar na sala assistindo algum seriado. Ele passou por mim, ignorando totalmente minha presença, contudo, minha fome era tão grande que chegava doer minhas entranhas. Então, já tomada pelo medo, fui até a porta do quarto que ele e minha mãe dividiam.

Bati três vezes antes de tomar um susto com a brutalidade que a porta foi aberta.

— O que você quer, criança inútil? — A voz dele era sombria ao perguntar.

Com a cabeça cabisbaixa, respondi: — Es-estou com fo-fome — Eu gaguejava, enquanto sentia seus olhos me queimando. — Não comi nada o dia todo e mamãe saiu quando eu estava dormindo e não voltou. 

— A vagabunda da Rosé, aquela que você chama de mãe, foi embora e não volta mais. — Disse meu pai com a voz ainda soando meio sombria. Por que ele me odeia tanto? — Ela disse que estava cansada da filha inútil que tem, por isso preferiu ir embora. 

Não vou mentir aquelas últimas palavras fizeram um grande nó se formar em minha garganta, portanto, recusei-me a acreditar no que ele dizia. Ela me deixou um bilhete, dizia que sentia muito e que me amava, então quer dizer que a qualquer momento minha mãe poderia voltar.

Obsession -  Livro 1 [REVISANDO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora