Bônus dois

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Benjamin

- Tem certeza que estou bem mãe?

- Está filho! Já me perguntou isso mais de mil vezes. Está lindo, mas não irei responder novamente. Lembre-se que a sorveteria fica de frente a casa da Manu, e que estaremos observando vocês. E se fizer algo de errado perderá a confiança da tia dela para sempre.

- Não podia ter pedido para irmos a algum outro lugar?

- Tenho culpa se tem uma sorveteria de frente a casa da garota? Devia ter me avisado.

- Nunca fui a casa dela. – Virei o rosto fingindo que via a paisagem. Estou arrependido de ter comprado essa tiara. Devia ter comprado outra coisa, mas não sabia o quê. Isso foi sugestão do meu pai. Mas sinceridade... Não sei se meu pai sabe comprar presentes. Agora estou achando que ela não irá gostar. - Talvez devesse levar bombons junto.

- Não acho. Como ela não comprou nada para você poderá ficar sem jeito se levar muita coisa. E fique quieto filho, vai chegar lá todo amassado.

Tentei... Juro que tentei. Mas estava difícil. Eu devia ter ligado para ela, mas não houve como. Minha mãe disse que ligaria à mãe dela e assim ficamos combinados. Meus amigos me chamaram para jogar bola e acabei me esquecendo de ligar agora me encontro nesta agonia. O motivo... Não entendo. O presente é só para agradecer o empenho dela em me ajudar este ano. Não tem outro motivo. Claro que não. Nem mesmo quando soquei a cara do Clayton no jogo.  Eu só estava irritado.  Ele estava gritando que eu estava namorando, com a Manuela cara de ruela, mas eu não estou. E ela também não tem cara de ruela. Ela é... Até bem bonitinha. Mas ela era minha amiga.

- Não quero que repita isso de novo. – Gritei com ele.

- Repita o que? Que está namorando ou que sua namoradinha tem cara de ruela? – Eu perdi a cabeça e dei um soco bem na cara dele.

- Os dois. – Eu não estou namorado e ela não tem cara de ruela. Ela é minha amiga. - Então ele saiu correndo gritando e chorando.

Quando paramos à porta da casa dela minha vontade foi de sair correndo e gritando como saiu o Clayton.

- Toma mãe... Entrega você. – Estendi o embrulho.

- O quê? Está louco? Desça Benjamin. Você não me tirou de casa, com tanta coisa que eu tinha a fazer, para chegar aqui e me fazer passar por isso. Sua amiga está nos esperando. Vamos lá. – Ela simplesmente desceu e ficou me olhando. Não houve como não descer. Olhei-me novamente no espelho e suspirei fundo. Antes de soltar o ar a Manu abriu o portão.

- Oi Benjamim. – Disse naturalmente. Ela não estava sentindo esse frio no estomago que eu estava sentindo. Não podia estar sentindo. Se estivesse, sua mão estaria fria como a minha está. Seu estômago estaria como se tivesse comido um bolo de quinze anos sozinho e estaria suando como se o sol estivesse fazendo quarenta graus e não esse tempo frio.

- O-o-oi... Manu. – Eu gaguejei? Foi isso?

- O que foi?

- Sua ti-i-a...

- Por que está gaguejando Benjamin? Minha tia está lá dentro. E ela não morde. Vamos entrar. – Ela segurou minha mão e foi puxando e conversando com minha mãe, falando das flores que estavam no caminho. Como se nada estivesse acontecendo. Ai meu Deus onde fui me meter.

Ela fez as apresentações e quando soube que estava frente à frente com a adogada Liara, esposa do Juiz, a mulher parecia fora de si. Contou várias estórias e depois nos mandou tomar sorvete. E ficou lá conversando com minha mãe. Eu até respirei aliviado.

Ufa!

Depois de fazer o caminho de volta segurando o presente na mão que estava até vermelha e em silencio sem saber como começar ela mesma deu inicio a nossa conversa...

- Isso é para mim? – Apontou para o embrulho que eu estava amassando.

- Ah... Isso? Sim. É só uma lembrança. É de Natal. Por tudo o que me ajudou.

- Está estranho hoje Benjamin. Dê-me. – Ela estendeu a mão e eu muito relutante entreguei.

Abriu vagarosamente o embrulho aumentando ainda mais o meu sofrimento. Cada pedado do papel que abria era um pouco do ar que se prendia no meu pulmão. Porque mulher era tão complicada? Estava começando a entender meu pai e o Pietro. Eles estavam sempre passando por alguma situação com as mulheres e agora eu começava a entender e não sei se queria passar por isso.

- Benjamin... Isso é... Maravilhoso!

- Mesmo? – Até que enfim. Que bom que ela havia gostado. - Fui eu que escolhi. - Menti. Na verdade eu iria dar um grampo de cabelo com uma flor, mas meu pai disse que mulheres gostavam de coisas diferentes das nossas.

- Sozinho?

- Foi. É... – Pensei nas palavas de meu pai. "olha filho isso se parece com a Manu." - Acho que... Se parece com você. – Ela sorriu. Ela sorriu como havia me sorrido tantas vezes naquele semestre. Aquele sorriso. Ai meu Deus estava acontecendo novamente.  Meu coração estava fazendo aquilo novamente... Acelerando, como se fosse sair pela boca.

Eu estava agindo como um idiota. E de repente ela veio e me deu um beijo no rosto. Não acredito e se a tia dela nos visse? E o pior... Se minha mãe nos visse? Iria pensar que não levei em consideração seu conselho.

- Não devia ter feito isso Manu.

- Por que não? Estou agradecendo o presente.

- Ah...

- Mas não devia ter feito isso realmente.

- Está arrependida? – Eu sabia. Ela olhou para trás. E voltou até a mim.  E me beijou novamente. Só que desta vez... Beijou em meus lábios. Beijou em minha boca.
      Os meninos diziam que era uma coisa nojenta. Que ninguém gostava de beijar as meninas.

Mas... Mas... A Manu não estava sendo nojenta.  Estava sendo bom! Eu havia gostado. Gostado muito!

A Esposa do Juiz - RepostagemOnde as histórias ganham vida. Descobre agora