A Filha do Presidente

[Sixty-eight]

Assim que entrei no quarto, fechei violentamente a porta atrás de mim e deixei-me levar pelas lágrimas.
Todo aquele tempo a tentar não pensar no pior cenário parece que se transformou exatamente naquilo que eu mais temia.
No fundo sabia que ele acabaria por sobreviver, ele é forte e nunca me deixaria, mas por outro lado tinha medo que ele não pudesse voltar a exercer o seu cargo devido a danos colaterais e sei que isso acabaria completamente com ele, pois ser comandante é parte dele e o seu propósito nesta vida.
Não consegui pregar olho a noite inteira com a cabeça ás voltas e sabia que apenas quando o pudesse ver é que finalmente conseguiria descansar...

1 semana mais tarde...
Posso resumir esta semana como tendo sido a mais agitada e caótica pelo menos para mim, pois fui incapaz de manter o foco nas atividades e missões que deveria cumprir, não conseguia pensar em mais nada a não ser no como estaria ele e no porquê de durante estes últimos sete dias não termos tido notícias do seu estado.
Será que ele estava isento do cargo? Será que nunca mais iria voltar? Duvidas circulavam pela minha cabeça, mas só havia uma forma de tirar a verdade a limpo.
"Terra chama Malia!!!" Gritava a Dawson retirando-me dos meus devaneios.
"Ahh? Desculpa o que disseste?"
"Malia estou aqui à dois minutos a tentar desativar esta bomba e tu estás num mundo completamente à parte..." Disse ela bufando e foi quando me apercebi que o treino hoje era destinado à pratica de desativar bombas, podia ver todos os outros recrutas ainda à procura das restantes bombas, enquanto que alguns tentavam a todo o esforço desativar as suas.
Basicamente a tenente Jonhson tinha plantado diversas bombas em toda a central e formou duplas para andarem à caça das mesmas e desativarem-nas antes que o tempo se esgotasse e como podem imaginar as bombas eram falsas e a única coisa que faziam quando o tempo terminava era um barulho exorbitante.
"Malia, de uma vez por todas ajuda-me!!"
"Sim claro, desculpa. Aqui no guia diz para cortar os dois fios verdes laterais, seguido de três fios vermelhos sem tocar no sensor.." Disse relendo a folha com as indicações e ouvindo logo a seguir um barulho cortante e quando olhei para trás tinha sido uma das equipas a falhar o desafio.
"Ok, mais uma equipa de fora! Nós conseguimos fazer isto!" Suspirei pesadamente e disse logo a seguir:
"Passa-me alicate por favor." Assim que ela o fez cortei exatamente os dois fios verdes e dois vermelhos e a pior parte estava para vir, pois o último fio vermelho encontrava-se precisamente em baixo do sensor o que quer dizer que basta um movimento em falso para a bomba "explodir".
"Malia queres que eu o faça?" Perguntou ela avaliando-me.
"É melhor..." Respondi entregando-lhe o alicate.
Ela aproximou o alicate do bendito fio vermelho, suspirou pesadamente e quando estava prestes a corta-lo, fechei os meus olhos e tapei os ouvidos preparada para o barulho horrível que estava para vir, mas em vez disso percebi que mal ela cortou o fio, o barulho do relógio parou exatamente nos 24 segundos.
"És incrível!" Disse abraçando-a e ela sorriu vitoriosamente.
De seguida o próximo passo era envolver a bomba em papel alumínio e entrega-la ao laboratório onde tratariam de desmonta-la completamente.
"Sexta dupla a terminar: Malia Obama e Samantha Dawson!" Gritou um outro tenente cujo nome ainda não sabia.
"Estão dispensadas por 5H e aproveitem para descansar bem, porque ás 21H todos vocês irão ter um desafio como nunca antes tiveram!" Avisou a tenente Jonhson enquanto observava os restantes recrutas que apresentavam grande dificuldade em concluir a prova.
Eram 16H por isso fui tomar um banho e dirigi-me ao refeitório para lanchar com a Dawson, com o Klaus e com a Karlene que também haviam terminado a sua prova.
"Por estranho que pareça, esta foi uma das provas que mais gostei." Disse a Karlene enquanto bebia o seu expresso.
"Claro que gostaste, porque fui eu que desativei a bomba sozinho e a única coisa que te limitaste a a fazer foi falar como uma louca." Disse o Klaus revirando os olhos.
"Não foi bem assim, eu passei-te o alicate!"
"Uau, passaste-me o alicate, que feito histórico!" Ironizou ele.
"Eu avisei-te que era péssima neste tipo de coisas, mas tu quiseste ficar comigo, não posso fazer nada quanto a isso."
"Foi a primeira e última vez!" Disse ele chateado e a única coisa que eu e a Dawson conseguíamos fazer era gargalhar.
"Bem a nossa prova correu ás mil maravilhas em comparação com a vossa!" Disse a Dawson e enquanto estávamos numa conversa animada, não pude deixar de perguntar:
"Algum de vocês já tem novidades em relação ao estado clínico do comandante Ballard?"
"O que eu ouvi ontem é que ele está em repouso no seu quarto até recuperar." Disse a Karlene.
"No quarto? Mas não deveria estar na ala médica?" Perguntei indignada.
"Acho que ele preferiu ficar no quarto, pelos vistos o comandante odeia ambientes que envolvam hospitais." Logo a seguir a ela ter dito aquilo eu sabia exatamente onde é que o podia encontrar e saí do refeitório antes de terminar a minha refeição e muito discretamente fui ter em frente à porta traseira do seu quarto por onde saí da última vez que cá estive.
Rodei a maçaneta o mais delicadamente possível e assim que abri a porta deparei-me com ele deitado na sua cama enquanto dormia e não pude deixar de reparar na quantidade de gazes que continha em cima dos seus ferimentos e tal imagem abalou-me de tal forma que fui incapaz de sair do lugar onde estava apesar da minha louca vontade de me atirar para cima dele e de o abraçar, pois temia que o pudesse magoar.
A verdade é que não estava habituada a vê-lo num estado tão frágil e por isso sentia-me algo desconfortável com o cenário.
Aproximei-me aos poucos da cama e sentei-me na borda levando a minha mão à sua tão familiar face que se encontrava com alguns arranhões e contusões e não suportava olhar para ele neste estado sem querer chorar, desejei até mesmo que fosse eu em vez dele nesta situação.
Lentamente os seus olhos abriram e quando ele se apercebeu de quem estava diante de si, envolveu os seus braços ao meu redor levando a que o meu corpo caísse exatamente em cima do seu e quando o meu instinto foi de sair de cima dele afim de não o magoar, ele apertou-me ainda mais fortemente como se a dor que sentia naquele momento não importasse.
"Jake, tu estás magoado..." Disse ainda tentando sair da posição em que me encontrava.
"Tu estás aqui." Disse ele apenas inalando o meu cheiro.
"Eu estou aqui!" Respondi finalmente voltando à minha posição inicial, o que me permitiu olhar para o seu rosto.
"Eu tive tanto medo e ficar sem notícias tuas durante todo este tempo, estava me a consumir completamente." Disse ainda tremendo.
"Eu estou bem..." Disse ele apenas puxando-me para um beijo feroz mas apesar da sede que sentia do toque dos seus lábios, contive-me e tentei manter-me o mais delicada possível.
"Como podes dizer que estás bem tendo em conta a tua condição?!" Atirei chateada por ele tentar sempre mostrar que é forte e não dar a parte fraca.
"Já te disse que comigo não precisas de provar que consegues suportar a dor, podes expor as tuas fraquezas, eu estou aqui para isso!" Disse e ele suspirou.
"Na verdade estes analgésicos têm me mantido estável e sem dores."
"Jake, tu percebeste o que quis dizer.. Não me referia apenas à condição física."
"Malia, eu estou em recuperação e em breve já estarei melhor, não tens com o que te preocupar."
"Tu acabaste de passar por uma experiência traumática e esperas que não me preocupe?" Disse ainda mais irritada.
"Malia, por favor não vamos discutir por isto!" Disse ele mudando de postura e eu aproximei-me, deitando-me ao seu lado.
"Como é que entraste aqui sem ser vista?" Perguntou ele enquanto me fazia cafuné.
"Ser pequena e ter conhecimento de passagens secretas tem as suas vantagens." Respondi sorrindo.
"Tive tantas saudades tuas.." Admitiu ele e eu não pude evitar de alcançar os seus lábios novamente.
"Não houve um dia em que não pensasse em ti e no como estarias e acho que deverias ter isto de volta." Disse entregando-lhe a pequena âncora e acabando por adormecer no seu peito.