[Fifty]

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Estive trancada na cabine durante horas a fio a encarar o oceano pela janela..
À hora do jantar a Dawson veio-me bater à porta, mas nem apetite tinha, só me apetecia dormir para esquecer..
Eram 22 e tal quando alguém voltou a bater desta vez de uma forma mais insistente e eu apenas gritei sem disposição:
"Dawson, já disse que hoje não vou jantar!"
"Malia, abre a porta e cala-te!" Disse aquela voz autoritária e nem sequer mexi uma palha, sinceramente não tinha absolutamente vontade nenhuma de olhar para a sua cara...
"Deixa-me em paz!" Disse apagando a luz da cabeceira, metendo os meus fones e ligando a música no máximo.
Passado uns 5min retirei os fones aliviada por saber que ele tinha desistido e voltado para o seu camarote, mas para minha grande surpresa a porta foi aberta e rapidamente levantei-me assustada encarando a sua figura e como podem imaginar ele estava passado comigo..
"Tu não podes fazer isto! Acabaste de infringir uma lei que corresponde à violação da privacidade alheia..."
"Malia eu sou o comandante posso infringir todo o tipo de leis!" Disse ele como se fosse uma coisa óbvia.
"O que queres?" Atirei frustrada..
"Já jantaste ao menos?"
"O que é que isso te interessa?!" Disse já sem paciência e quando menos esperava ele puxou-me pelo braço contra a minha vontade até ao refeitório que aparentemente se encontrava vazio.
"D.Lincoln, aqueça por favor um prato de sopa e um prato com peixe, batatas e brócolos." Disse ele e a senhora que aparentava ter uns 67 anos assentiu com um sorriso amigável.
"O que pensas que estás a fazer?!" Atirei revirando os olhos.
"Já que insistes em não te alimentar, vou passar a tratar-te como uma autêntica criança." Disse ele sentando-se numa longa mesa.
"Do que estás à espera para te sentares?" Disse ele com uma voz reprovadora e eu virei costas e caminhei o mais rápido até à minha cabine que se encontrava trancada e eu suspirei frustrada, isto só podia ser uma brincadeira!
"Só voltas a entrar aí depois de comeres!" Disse ele e a minha vontade era esmurrar aquele ser repugnante.
"Tu não és ninguém para me estar aqui a bancar ordens! Agora abre-me a merda da porta antes que me passe a sério." Ele manteve-se imóvel e soltou uma risada.
"Se tu fosses outro recruta já tinhas levado um estalo, tens noção não tens?" Disse ele apenas.
"Sinceramente não sei o que te impede.." Disse séria.
"Malia vai comer, tu não me queres ver irritado!" Saí dali irritada voltando ao refeitório e sentando-me na mesa onde estava um tabuleiro com uma dose de cavalo, sem exagero e foi nessa altura que reparei que na verdade estava esfomeada...
Ele encarava-me seriamente como se fosse algum tipo de guarda cujo objetivo era assegurar que comia cada migalha naquele prato.
"Estás me a meter desconfortável..." Comentei após levar uma garfada à boca.
"Eu já te disse que daqui em diante te irei tratar como uma criança.."
"Deixa de ser idiota!" Atirei bebendo um golo de água.
"Malia já te avisei que não podes lidar comigo como se estivéssemos lá fora..."
"Achas que eu consigo olhar para ti como um mero comandante depois de tudo o que já se passou?"
"Malia..." Começou ele.
"Não, agora vais me ouvir! Desapareces do nada deixando-me apenas uma carta de merda e voltas ao fim de um ano como se nada fosse.. Eu nunca mais poderei olhar para ti da mesma forma! E o pior de tudo é que tu não passas de um cobarde de merda!" Disse sem controlar o meu tom e ele apenas suspirou.
"Tu não entendes..."
"E vais parar de me tratar como uma atrasada que não entende nada, porque na verdade eu sei muito bem o que se passou... Eu confiava em ti e no momento mais difícil da minha vida, simplesmente desapareces sem sequer te importares!"
"Não vamos falar disto agora..." Disse ele.
"Pois não! A conversa acabou aqui, agora por favor dá-me a porra da chave!"
"Primeiro vais-me contar o que se passou hoje e dá-me um bom motivo para não te expulsar agora!"
"Eu já disse tudo o que tinha a dizer, agora cabe-te a ti decidir se hás de acreditar ou não.."
"Malia eu não posso acreditar na tua palavra tendo cerca de 23 soldados que afirmam que a causadora da situação foste tu."
"Tu não entendes pois não?"
"Não entendo o quê?"
"Ela subornou-os! Ela não me suporta e neste momento está a tentar fazer de tudo para me pôr fora daqui!"
"Tens noção da gravidade dessa acusação?"
"A mim não me interessa a gravidade, pois esta é a pura verdade. Mas muito sinceramente já não me interessa em quem decides acreditar, já estou suspensa de qualquer forma..." Ele olhou-me nos olhos como se quisesse acreditar em mim, mas sabia que algo o prendia..
"Esse tipo de acusações a tenentes são levadas muito a sério aqui dentro e normalmente nunca acabam bem, pois um tenente tem muito poder e a culpa acaba sempre por ficar nos recrutas que apresentam a queixa..." Disse ele e agora percebia o porquê dele não levar esta situação avante.
"Como eu te disse, a mim não me interessa mais nada.." Suspirei.
De repente instalou-se um silêncio constrangedor e ele continuava a encarar-me com aqueles olhos verdes penetrantes como se me quisesse dizer algo, mas pelo que percebi ele preferiu não dizer...
"Já está tarde, devia ir para a minha cabine.." Disse finalmente após aquele silêncio que provavelmente se prolongou por alguns minutos.
Ele levantou-se após eu ter feito o mesmo e seguiu-me até à cabine.
"Não precisas de vir atrás, eu ainda sei o caminho..."
"Eu acompanho-te."
"Pára! Apenas pára de fingir que te importas comigo ou com o meu bem-estar, não precisas de continuar a representar..."
"Malia, eu importo-me.." Disse ele apenas passando a mão esquerda pela minha bochecha que provavelmente subiu uns 90° após aquele suave toque.
Novamente aquele silêncio e quando percebi que ele se aproximava aos poucos, virei o meu rosto quebrando o contacto e abrindo a porta.
"Boa noite Jake." Disse fechando a porta em seguida.
Fiquei encostada à porta como se pudesse sentir a sua respiração do outro lado e controlei-me ao máximo para não voltar a abrir a porta e saciar o meu desejo de o beijar... No fundo eu sei que o desejava, mas tentava ao máximo lutar contra esse sentimento, pois sei que não me podia permitir apaixonar novamente.

A Filha do PresidenteWhere stories live. Discover now