Dias 1 a 6 - De volta a minha terra

35 4 0
                                    

    "Ao atravessarmos o portal tudo o que senti foi uma imensa pressão, como se uma âncora me puxasse, afim de me levar mais fundo a cada segundo. Depois de um certo tempo não sentia estar afundando, mas ​sim emergindo, o que de certo modo foi um alívio por conta da falta de oxigênio.

    Avistei uma luz e comecei a nadar ​desesperadamente em busca da superfície. Foi só quando respirei que percebi o quanto aquele ar me fazia falta. Logo que recupero o fôlego vejo Mikhail com o olhar perdido, parecia estar me procurando. Chamei-o e ele logo veio nadando esforçadamente em minha direção.

- A senhorita está bem? - ele pergunta ofegante.

- Estou sim, obrigada. - digo me apoiando em seu ombro. E foi olhando para o horizonte que avistei-o, me parecia um navio. O brasão do quase desconhecido Reino de Piterum era visivelmente estampado nas velas, juntamente com o brasão do Reino de Vitara.

    Nadamos de encontro ao navio e antes de nos lançarem uma corda perguntaram se éramos á favor do 'rei', Mikhail me encarou esperando que eu respondesse.

- Sim, sou á favor do rei! - disse apressada.

- E quanto á você ? - pergunta um homem autoritariamente a Mikhail.

- Não apoio essa monarquia, mas poupe minha vida. Não vou embarcar! - responde ele nadando em direção ao seu barco. Eu não havia reparado mas o barco dele estava ali o tempo todo, logo atrás de nós.

    Algumas horas depois o mesmo homem que havia poupado a vida de Mikhail se sentou ao meu lado e disse:

- Senhorita, poderia me dizer o que faz perambulando pelos mares com um grupo de desconhecidos e ainda vestida a caráter masculino? - interroga curioso.

- Eu... só agora percebi a situação deplorável de minhas roupas! Me perdoe cavalheiro mas é tudo o que tenho. - respondo envergonhada por ainda estar vestida com as roupas da outra dimensão: uma calça e uma blusa de mangas compridas e gola alta, as botas haviam sumido no meio da viagem.

- Não se exaspere, logo chegaremos ao nosso destino. - diz tocando meus ombros com um terno sorriso. Aquilo me incomodou, onde estava Ashton quando eu precisava? Em casa, eu o havia deixado lá.

- Por falar nisso, para onde vamos?

- Para Piterum. Levamos alguns tecidos por conta de um acordo comercial, assuntos para homens! - exclama ele. Mas que homem ignorante! Senti saudades do séc. XXI, aquela dimensão além de ser completamente diferente geograficamente, era também cronologicamente.

- Preciso que me leve para as aldeias, procuro o guardião de minha filha e trato o assunto com urgência! - solicito desesperadamente.

- Mas é claro não se preocupe, eu faço questão de acompanhar você! - responde inconvenientemente simpático.

- Muito obrigada por toda a atenção, mas conheço bem as aldeias de Piterum. - recuso sua oferta.

- Mas imagine! Uma tão bela e atraente dama andando pelas aldeias lotadas de rebeldes?! Se a virem vestida como nobre, o que sem dúvida vejo que é, certamente a atacarão. Além de que você poderia se perder, Piterum não é a mesma de sempre, houveram mudanças! - argumenta.

- Eu lhe asseguro que ficarei bem, sou piteriana! Nascida e criada no bom e velho reino, o visito com frequência ... - menti. - Ficarei bem.

- Bom eu deixarei que pense no assunto - ele acaricia minhas bochechas com sua mão direita e minhas cochas com a esquerda. Steven sem dúvidas queria algo, algo que se eu desse a ele sem lutar terminaria sendo pra sempre a amante do rei.

    Eu amo Ashton, e não deixei de lutar contra o que aquele homem estava tentando fazer comigo, até onde eu podia eu tentei evitar. Os dias que se passaram se tornaram uma incessante fuga de Steven, mas não consegui evitar o inevitável. O que sofri neste navio não desejo que minha filha sofra jamais, e é por conta disso que continuarei perseverante em busca do guardião de Melissa!"

- Ela... eu nunca a amei o suficiente! - disse fechando o caderno com força. - Eu nunca dei carinho o suficiente a ela, e ela foi triste desde que voltou daquela viagem.

    Os olhos da princesa se encheram de lágrimas e Aaron, logo que viu, a envolveu em seus braços e sussurrou algo, para silenciar os pensamentos sombrios que se faziam visíveis nos olhos de Melissa:

- Não foi culpa sua! - mas ela permanecia em prantos - Shh! Olha pra mim. Ei, não foi você que fez isso com ela! Foi aquele homem horrível, um verdadeiro monstro! Mas depois de tudo que aconteceu ela ainda procurava por mim, pra que isso jamais tenha que acontecer com você! E não vai, eu nunca vou deixar, entendeu? Melissa, você entendeu?! - ela assentiu.

- Prometa pra mim que não vai me deixar fazer isso, que não vai deixar que eu faça isso com meus filhos, com o Ashton! Prometa, por favor! - ela diz olhando fixamente nos olhos do guardião. Eles estavam tão próximos que podiam sentir a respiração um do outro.

- Eu não vou! Prometo! Você não fará isso com nenhum de nós! - ele se aproxima cada vez mais da "amiga" - Eu também não vou te beijar, eu prometi a você espaço! Eu vou dar espaço. - se afastou um pouco e beijou sua testa.

    Enquanto Ashton avistava os dois adolescentes não deixava de pensar na conversa que teve com Melissa, e no quão certa ela estava em sentir medo. As responsabilidades de dois simples adolescentes como eles na outra dimensão não paravam de crescer, enquanto que aqui eles deveriam estar vivendo o primeiro amor, livres e sem impedimentos.

    Logo que Aaron se levantou da cama, Marchetti se esquivou e foi diretamente para o quarto, e de lá pode ouvir a voz do guardião:

- Estarei no quarto ao lado! Qualquer problema, por mais insignificante que seja, me chame! É sério!

- Eu vou, prometo! - ela respondeu.

***

Um beijo e um queijo, o beijo com carinhos e o queijo com furinhos!

The ReignWhere stories live. Discover now