prólogo

132 13 14
                                    

Engraçado o fato de que todas as histórias tristes têm sempre o tempo igual: escuro, nubaldo e frio; parece que o tempo sabe quando algo ruim vai acontecer. A famosa Goyang seguiu o clichê, ou talvez tenha sido apenas a bolha formada pelo pequeno Jaebum.

Jaebum. Sua história de vida não era interessante, suas namoradas não foram as gostosas do colégio, sua mãe não era uma escritora famosa e seu pai não era um advogado prestigiado. A bolha que o menino criou ajudou-lhe muito para falar verdade. Jaebum não iria aguentar muito tempo vivendo no mundo em que o resto das pessoas compartilhavam. Sua bolha era perfeita - era para o próprio, porque qualquer outra pessoa odiaria o modo em que Jaebum vivia -, era bem cinza e tenebrosa, mas Jaebum adorava esse seu mundinho.

Im não pode ver como sua querida avó estava no caixão, porque não o deixaram ver. Assim como não o deixaram vê-la no hospital, perto da morte. Os últimos momentos com a idosa estavam bem frescos em sua memória. Eram memoráveis. "Memoráveis por que foram belos?". Não. Memoráveis porque foram desagradáveis. Ela reclamava de dores no corpo todo e Jaebum não aguentava mais os gemidos de dor dela. Eles não discutiram feio, mas não foi algo muito pacífico. Na manhã do dia seguinte a levaram para o hospital. A coitada já estava bem debilitada. O tios de Jae estavam sempre no hospital para acompanhar a senhora, enquanto Jaebum ficava sozinho na casa em que a mulher morava. Que depois da morte dela, foi demolida, para ser construída novamente e se tornar o novo lar de um dos tios do garoto. Ele não queria admitir, mas doía ver que o lugar onde cresceu e que criou momentos especiais fora simplesmente habitado por gente que nem sequer ligava para o que a mulher sentia.

A avó e o neto tinham uma conexão inexplicável. Talvez a compatibilidade de amizade entre os signos, ou só o muito tempo de convivência. Mais de onze anos vivendo com ela não era coisa pouca.

A velhinha tinha alguns problemas de memória naturalmente, mas depois esse caso ficou sério. Pensaram ser Alzheimer. Era ainda pior. Um ovo de Solitária em seu cérebro, que causara Neurocistiscercose. Perda de memória não era um sintoma comum, mas a senhora Im teve a infelicidade de a possuir. Neurocistiscercose não era o único problema; o histórico da família apresentava problemas na vesícula, e novamente, a senhora Im teve a infelicidade de possuir esses problemas. Ela já estava fadada a ter uma morte dolorosa.

"Mas por que diabos Jaebum se culpa pela morte dela?" você pergunta. Bem simples. Jaebum não achava nada daquilo citado acima válido. Ela já estava se tratando a tempos, se fosse apenas aquelas coisas, ela ainda estaria viva. Jaebum sentia. Ele era o neto favorito, a mulher era quase dependente dele. E essa dependência era mútua. Por isso Jaebum já não via mais sentido em sua vida.

Ele não desabou em lágrimas no enterro, ele nunca deixaria sua fraqueza exposta. Deixou para chorar rios naquela casa grande, naquele quarto que era apenas dele, naquela cama que era da sua avó, molhando a fronha do travesseiro que a mulher fez especialmente para ele. Guardou todos aqueles sentimentos só para si, porque ninguém jamais entenderia o que ele passava.

Faltava algo. Palavras não ditas. Ele devia ter demonstrado mais o amor pela sua avó.

Vendo que transbordaria a qualquer momento, decidiu-se que iria vazar aos poucos, fazendo o que mais amava: escrevendo.

fault. +✿.* jackbum [cancelada]Where stories live. Discover now