O dia foi calmo, a manhã passou tranquila, o clima estava bom, os pássaros cantavam. O típico tempo perfeito para escrever aqueles romances meia-boca que mesmo você não querendo acaba por fazer clichês, sabe?
Eu havia acordado às sete e meia, levantei da cama e fiz nosso café da manhã. Você ainda dormia, eu não quis te acordar porque você se esforçava muito no trabalho para que pudéssemos viver em paz.
Eu como sempre, me sentia um peso morto dentro de casa.
Esse é o lado ruim de ser autor, você funciona por momentos, aquele famoso "quinze minutos de fama".
Você dizia que eu era incrível, que meus livros eram aqueles que apesar dos clichês, eram ótimos e nenhum pouco chato, era aquele tipo de livro que mesmo no quinto capítulo o leitor já descobria o final e lia assim mesmo na esperança de não ser aquilo, e bem, era o que acontecia, sempre uma reviravolta e um final inimaginável.
Mas não é sobre isso apenas que quero contar. Mas sim sobre como nos conhecemos, e como estamos hoje em dia.
Lembra quando nos falamos pela primeira vez?
Pois é, éramos tão novos, eu tinha lá meus nove anos e meio, eu era um rapazinho, tinha quase dez. Um adulto em ascensão..
Lembro claramente que minha mãe chegou em casa conversando com uma mulher um pouco mais baixa que ela, também loura e junto à elas um pacote louro e esguio caminhava olhando curioso para os cantos da casa.
Você estava tão bonito ali, não sabe quantas vezes aquela cena repetiu na minha mente, bem isso até você falar seu nome.
Tão lindo!
A voz fininha, típica de uma criança, as bochechas rechonchudas sendo marcadas pelas veias coloridas que só o dava um toque mais fofo.
Garoto, você não sabe o quanto eu fiquei feliz por você ter me elogiado.
Eu lembro que fiquei envergonhado.
Quase um tomate.
Depois desse dia nos tornamos amigos.
Éramos nós dois para tudo quanto é lado.
Mas, quando você completou seus treze anos, já estava certo de sua sexualidade, meu mundo caiu quando você disse ter encontrado alguém.
A princípio eu quase morri em pensar que tu eras hétero.
Mas meu coração deu um salto mortal falho quando o vi com a mão entrelaçada à daquele cara.. Calum o nome né?
Naquela época eu já gostava de você. Eu só não sabia o quanto.
Aos dezoito entramos em faculdades diferentes.
Nosso vínculo tornou-de mais forte do que nunca.
Meu sentimento foi criando rótulos.
De um simples gostar foi pra amar.
Mas, você sabe o que é amor?
Amor é aquilo que sentimos quando olham alguém especial.
Existem vários tipos de amor; o fraternal, o maternal, o de amigos, o de dono para bicho de estimação.
E o que namorados sentem.
Amor é uma palavra complexa, não há definições certas sobre ela. Talvez porque amor seja algo para sentir, e não para explicar e entender.
Quando nos reencontramos pela primeira vez depois de anos estudando longe um do outro eu quase morri.
Você estava maravilhoso.
Tão lindo, seu olhos. a boca....
seu rostinho continuava o mesmo.
Uma coisa inusitada aconteceu quando você falou.
Não só o fato de sua voz ter engraçado.
Você me pediu em namoro.
Você lembra?
Minha reação?
A princípio eu achei que era brincadeira e me desatei à rir, mas sua expressão triste me chamou atenção, então eu parei, respirei fundo e perguntei se você estava fazendo algum tipo de jogo comigo.
Você negou com a cabeça, nunca fostes de muitas palavras.
Eu te encarei por segundos, mas para mim pareciam horas, e pra você então?
Você ficou desesperado, estava com medo de minha resposta, seus olhinhos lacrimejaram. Como eu sei disso? Você me falou.
