23. DEZ DIAS DEPOIS

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Dou de ombros, fazendo biquinho.

Depois de tudo o que me aconteceu, as agressões de meu pai, sua morte, o abono de minha mãe e outras coisas,
percebi no momento em que sai do hospital, que mudei um pouco minha personalidade e me sinto muito bem com isso. Agora não sou mais aquela garota tímida e tapada, percebo as coisas no ar. Sei quando tem algo de errado e quando não. Gosto muito dessa nova eu.

— Só não vai se lamentar quando Remy cansar desse jogo de gato e rato e você perceber que é apaixonada por ele. Nem todos os homens são iguais Helouise.

— Não, eles só mudam de nome, endereço e identidade — tenta brincar, rindo...

A cerimonialista — contratada de última hora — da duas batidinhas na porta do quarto, abre e nos avisa que todos os padrinhos tem que estar no salão em cinco minutos, pois logo começará o casamento.

Helouise e eu levantamos ao mesmo tempo da cama, damos uma última olhada no espelho e antes de caminharmos para fora do quarto, sendo escoltada pela a mulher baixinha e meio rechonchuda com cara de quem está impaciente, esclareço.

— Eu só acho que não devemos culpar todos os homens só porque um imbecil errou com você!

*

A cerimônia foi realizada ao ar livre na casa — que mais parecia com um castelo do tempo da realeza — de campo, com o cenário virado para o pôr do sol. Foi a coisa mais linda que já tive o prazer de presenciar, por muito pouco não chorei de tão emocionada que fiquei.

A casa de campo foi um presente casamento de três dias de uma amiga da faculdade de Aimee. A casa é dos avós da garota que alugam uma vez ou outra para festas e eventos. Eles até tem uma página no Facebook.

A festa aconteceu no salão mesmo que fica entre a enorme casa principal e a grande casa de hóspedes. Rafaello e Aimee acharam melhor ser no salão com aquecedor do que ao ar livre, dado que, apesar dessa tarde ter feito calor, ao anoitecer o clima caía drasticamente.

Como ensaiado nos últimos dias, logo após que os noivos terminaram sua primeira dança e começar outra, um por um dos padrinhos foram entrando na pista de dança e fomos formando uma roda, deixando os noivos no centro. E, quase no fim da dança os convidados nos aplaudiram e ao poucos foram entrando na pista para dançarem também.

Já que eu não era muito fã de dança — e Travis também não, apesar de insistir que eu dançasse só mais um pouquinho — preferi voltar para a nossa mesa e descansar um pouco os pés, pois a sandália nova estava machucando meu calcanhar, formando aquela famosa bolha que só os sapatos novos causam.

Visto que Helouise parece ter ficado chateada ou, sei lá, meio aérea depois do que eu disse a ela, vez ou outra me pegava olhando-a tentando adivinhar o que se passava em sua cabeça.

Talvez um planejamento de assassinato?

Nem ligando para os homens solteiros — pelo menos eu acho que são — cobiçando-a, ela estava. Realmente era um motivo para preocupar-se. Peguei outra taça de champanhe rosé, deixei Travis conversando com o senhor Robert e fui conversar com a Dona Aloise.

— Licença — peço para as senhoras que estão na mesa e sento na cadeira vazia ao lado da mãe de Helouise. — A senhora sabe o que está acontecendo com sua filha? Estou meio preocupada, eu disse umas coisas para ela e acho...

— Não querida, Helouise está bem — ela me corta, sorrindo simpática. — Não se preocupe, tenho certeza que não foi nada do que você disse. Ela só está meio brava comigo, e isso a deixa meio... atordoada.

Tomo o resto do champanhe, assinto para dona Aloise peço licença novamente e me levanto indo a procura de Travis. Ou, quem sabe de Remy, talvez ele saiba o que se passa com Helouise, já que ele está no pé dela desde o momento em que entraram na igreja.

Andando distraidamente, vejo, ao longe quando Remy sai às pressas do salão e acabo esbarrando em alguém.

— Opa! Desculpa, você está bem querida? — pergunto segurando a tempo de impedir que menina não caia de bunda no chão. Espero ter certeza de que ela recuperou o equilíbrio das pernas e só então a solto.

— Não, eu estou bem — responde achando graça do nosso tombo e alisando a saia de seu vestidinho verde. — Ei! Eu conhece você!? Você é aquela moça cheio de dodói da farmácia, não é?

Oh! É a Nicolle? Uau que mundo pequeno.

E então do nada a menina solta um gritinho agudo, pulando e tagarelando perguntas uma atrás da outra, sem se preocupar em esperar que eu responda algumas delas. Nicolle pega minha mão, ainda tagarelando muito, e sai me puxando pelo o salão, dizendo que quando me viu entrando com o tio Travis, ela e a mãe estavam me procurando.

— Sabe, minha mãe está grávida né. E é uma menina e ela vai se chamar Nicoletti. Eu que escolhi, porque gostei muito do seu nome.

— Sério? Ah que lindo, obrigada princesinha, seu nome também é muito lindo.

Ela para e aponta o dedo para uma mulher grávida ao longe, conversando e sorrindo enquanto bebe uma taça de suco.

— Eu sei que é feio apontar o dedo, mas aquela com a barriga grande é minha mamãe, Rosely.

Olho na direção que ela está apontando e instantâneamente congelo em meu lugar. Tudo e todos ao meu redor congela ou simplesmente some, e tudo o que eu ouço agora, nesse momento é meu coração batendo descompassado no meu peito ou talvez em meus ouvidos?

Pisco algumas vezes, ignorando totalmente o que Nicolle e Travis diz e ando para mais perto da mulher — que agora conversa distraidamente com Aimee e Rafaello — não acreditando que pode ser realmente ela.

Pietro me disse incansável vezes que ela havia morrido, mas eu nunca acreditei nele... até na semana passada.

Não podia ser verdade. Minha mente está querendo me pregar uma brincadeira, de muito mau gosto por sinal ou então eu tinha bebido champanhe e coquetéis demais... Mas não, quando cheguei um pouco mais perto tive minhas dúvidas sanadas.

Ela estava viva.

Rosé, a mulher que me deu a vida, esta viva e tem uma nova família formada.

No final das contas, meu pai sempre esteve com a razão. Ela não me amava o suficiente para levar-me junto dela. Preferiu me abandonar com um homem maluco do que me levar junto e, sei lá, me abandonar em um lugar mais seguro pelo o caminho, tipo um abrigo para menores ou um orfanato, talvez.

— Ei, meu amor, você está bem? — questiona-me Travis, entrando no meu campo de visão e alisa meus braços gelados, movimentando sua mão grande e macia para cima e para baixo. — Estou falando com você, Morena, por favor me responde. Você está bem?

A contragosto deixo que uma única lágrima fuja do meu olho e balanço a cabeça, negando a pergunta de Travis.

— Está vendo aquela mulher grávida conversando com a sua irmã? — discretamente, Travis vira-se e olha para trás dele, onde Aimee está. Então, vira para mim novamente e assenti cautelosamente. — Ela é minha mãe!

 — Ela é minha mãe!

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Obsession -  Livro 1 [REVISANDO]Where stories live. Discover now