She Looks So Perfect - Ashton Irwin

332 4 0
                                    

"Faz tempo, sabia? Há muito tempo te observo. Você caminha pela multidão sem se importar com os comentários. Tem um sorriso radiante no rosto, mesmo com sua vida desmoronando à sua frente. Todos sabiam sobre seus pais, sobre o vício em drogas contra o qual seu irmão deixou de lutar há anos e seu histórico de tentativas de suicídio.

Seu caminhar é calmo, descontraído, talvez embalado pela música que toca em seus fones de ouvido, te impedindo de ouvir os murmúrios rudes e cruéis lançados em sua direção.

Seu cabelo, antes loiro escuro, agora é tomado pelas cores do arco-íris de um modo absurdamente belo. Você é de verdade? É real? Ou apenas um delírio dos meus sonhos mais loucos? Não é uma impossibilidade. Acredito no surreal, assim como acredito em vida após a morte e na gravidade. Acredito também nas mudanças, e que uma pessoa pode mudar. Por que não? Dê-lhe uma chance e espere! É isso que você vem fazendo, não? Dando chances. Esperando que as pessoas mudem. Sinto em lhe dizer que nem todo tem salvação como você.

Pare. Pare de insistir em quem você sabe que não mudará e dê uma chance à outros, à outras possibilidades. Você pode me dar uma chance? Estou aqui, ao seu lado, como uma estátua, mas você não vê, não é? Eu estou aqui, mas sou invisível. Já chegamos a conversar? Não, nunca. Eu só estou aqui.

Isso é tolice, eu sei. Meus amigos me dizem para te deixar para lá, para te esquecer, mas não consigo. Entende o que fez comigo? Onde está o maldito boneco vodu que você usa para me fazer sentir assim? Me diga, pois isso está me matando por dentro. Toda vez que você se aproxima, eu sinto meu coração batendo tão rápido que parece que ele vai pular do meu peito.

Não consigo mais cantar sem te dedicar uma música, ou compor sem pensar em você. Luke me chama de louco, Calum ri do modo bobo como falo de você e Michael apenas se limita a me dar tapinhas nas costas, dizendo que se sentia assim ao olhar para Crystal antes de começarem a namorar. Talvez seja isso. Estou tão apaixonado que chega a doer.

Ontem eu te vi na rua com aquele moletom enorme que você diz ter roubado do seu irmão. Seu semblante era triste, tanto que esta tristeza lhe escorreu pelos olhos. Atravessei a rua com pressa e fiz a única coisa que me ocorreu. Eu te abracei. Abracei tão forte que não te deixei desabar ali mesmo. Suas pernas fraquejaram, mas eu te segurei. Te carreguei da forma mais cuidadosa que pude e te levei para a casa que dividia com os rapazes. Suas lágrimas molhavam minha camisa favorita, mas eu não me importei. Sentia seu corpo balançar contra o meu e seus soluços pareciam facas contra o meu coração. Nenhum dos três reclamou quando eu sentei com você no sofá, ainda mantendo seu rosto contra o meu peito.

-Cara, o que é isso? - Calum notou o que eu não notei. Manchas vermelhas agora cobriam parte da minha camisa branca, exatamente onde antes você havia apoiado seu braço. Segurei sua mão com delicadeza e puxei a manga do moletom preto para cima, mesmo com seus protestos e reclamações. O que eu vi me destruiu ainda mais. Grandes hematomas roxos marcavam sua pele branca, misturados com o líquido vermelho que lhe escorria de um corte, onde ainda se via um caco de vidro preso.

Com protestos da sua parte e a gritaria que se seguiu, conseguimos arrancar de lá o caco e fazer um curativo. Você apagou depois de tomar o remédio para dor e posso dizer com toda a certeza agora, que você realmente parece um anjo enquanto dorme. Um anjo maltratado pela vida, cheio de feridas e cicatrizes, mas um anjo.

Você é meu anjo, Bryana. E eu vou cuidar de você. Até meu último suspiro e a última batida do meu coração será dedicada à você, ao seu cabelo louro escuro e ao seu sorriso.

Ass: Ashton"

Foi assim que Bryana recebeu a notícia da morte de Ashton. Uma carta entregue por Michael à garota de cabelos agora castanho escuros. A jovem apenas se deixou desabar, caindo de joelhos, enquanto Michael tentava reconfortá-la, sem qualquer sucesso.

Aquilo era meio que uma tradição dos cinco, desde a última tentativa de suicídio de Bryana. Todo ano, os amigos escreviam uma carta de despedida, uma para cada um deles. Ao todo, eram vinte cartas depositadas numa caixa de papelão que todos esperavam não precisar abrir, a menos que fosse para renovar os bilhetes do ano anterior. Ashton não renovaria a sua.

A notícia sobre o acidente chegou primeiro à Calum, que disse à Luke, que disse à Michael que, por fim, contou à Bryana. Nenhum deles queria acreditar que era verdade, mas era. O vazio nunca seria preenchido e mal sabiam os rapazes que, no dia seguinte, perderiam mais um integrante.

A jovem de vinte anos sabia que nunca superaria. Ashton fora sua salvação quando ela pensou não haver mais nenhuma. Ele a arrancou do buraco escuro em que vivia e lhe mostrou como a vida era bela. Tê-lo perdido era o mesmo que ter seu coração arrancado. Os três anos que passaram juntos seriam apenas memórias se aceitasse sua perda, mas ela não queria isso. Queria viver com ele na eternidade, e foi isso que escolheu fazer.

De quê adianta viver em um mundo depois que sua felicidade lhe é arrancada?

Ela perguntou a si mesma naquela noite. Foi então que tomou a decisão.

Com um vidro de remédios aberto e três cartas recém-escritas, abriu um sorriso triste e começou a contar. Uma pílula para cada pessoa que lhe fez feliz, lhe fez sorrir e lhe fez ver o mundo de outra maneira. Ashton, uma. Michael, duas. Luke, três. Calum, quatro. Jordan, seu irmão, cinco. Magdalena, sua mãe, seis. Keith, seu pai, sete. Crystal, a namorada de Michael, oito. Heitor, seu ex-namorado, nove. Bryana Holly, dez.

ImaginesWhere stories live. Discover now