A ovelha atacada na noite

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Obediência era tudo o que Gregory Wolf desejava de Elle, e a jovem sabia que não conseguiria continuar daquela forma por muito tempo. Apertou suas mãos com força assim que desceu as escadas pela manhã no horário em que ele solicitara. Já havia se passado dois dias após o beijo trocado, e ele não lhe falara nada. Gregory não a encarava e muito menos lhe dirigia a palavra. Elle sentia como se fosse uma benção disfarçada, pois a cada segundo desejava ver os olhos do arrogante homem ir em sua direção, como uma tola. Ela sabia que o seu comportamento não seria aceitável em seu orfanato e que as freiras estariam rezando se soubesse o que pensava, mas a curiosidade era demasiadamente grande para perpetuar a cega obediência que ele desejava.

Se sentou na cadeira habitual, ao lado de Gregory e aguardou para ser servida, porém manteve sua cabeça baixa. Elle não desejava ceder a tentação de olhar para o demônio.

— Vergonha ou interesse? – Wolf indagou ao manter os olhos fixos nos cabelos loiros da jovem que caiam e cobriam a sua face. Aguardou calmamente a resposta dela – Lhe fiz uma pergunta – Aumentou o seu tom de voz para vê-la erguer a cabeça, encará-lo com confusão e com leveza colocar uma mecha de seu cabelo atrás da orelha.

— Perdoe-me, Senhor Wolf. – Sua voz refletia calmaria, porém algo em seus olhos o desafiava. – Não o escutei.

— Em que estava pensando? – O sorriso malicioso preencheu a face do homem que a olhava com o semblante entediante. – Deveria cortar seus cabelos – O modo casual como mencionou fez a jovem estremecer de medo. Seus longos cabelos loiros era algo de que se orgulhava, por serem iguais aos de sua mãe. Ao menos era disso do que ela se recordava. Uma de suas poucas lembranças. De forma automática, Elle, levou a mão a ponta de seu cabelo e encarou o homem a sua frente. Ela ansiava por enfrenta-lo. – Não precisa me olhar como se desejasse me matar – Sorriu divertido ao vê-la estreitar os olhos para em seguida desviar o olhar – Já se decidiu sobre qual universidade deseja ir?

Elle pensara no assunto durante os últimos dias e se sentiu tentada a negar a oferta, pois ter seus estudos pagos pelo homem que a desprezava significava que algum dia deveria pagar o que ele lhe oferecera. E ela temia o preço.

— Eu gostaria de recusar – Falou atraindo a atenção de Wolf.

— Motivo.

— Não tenho como retribuir a oferta e, provavelmente, jamais terei como lhe pagar.

Wolf passou a língua pelos lábios sentindo a excitação da caça. Elle Laffont exalava um odor característico dos animais que ele habituou-se a caçar desde pequeno. Um odor de medo, e isso o instigava a continuar provocando.

Gregory se perguntava o quanto ela ainda aguentaria antes de tentar fugir como todos os animais fazem antes de serem abatidos.

— Dinheiro não me preocupa – Deu de ombros após piscar e sorrir em seguida – E é meu dever como seu tutor lhe fornecer roupas, casa, comida, estudos e diversão – A última palavra continha um teor de malicia, e Elle percebeu contrariada – Pagar a sua universidade não é um empréstimo que deverá me retornar de alguma forma, Laffont. O que os orfanatos ensinam para as jovens? Sempre fazendo acreditar que qualquer ato repleto de caridade deverá ser retribuído.

— Eles não são assim. As freiras não ensinam isso – Ultrajada respondeu.

— E o que ensinam?

— A sermos bondosos, compreensivos e gentis.

Gregory gargalhou assim que ela terminou de falar. Sua risada soou cruel e cínica.

Inocência (DEGUSTAÇÃO)Where stories live. Discover now