Atacada pelo lobo

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A cada passo de Elle em direção as escadas, o seu vestido de organza balançava de um lado para o outro lhe dando a impressão de estar flutuando. O vestido que Cris havia escolhido na cor rosa claro lhe dava um aspecto demasiado infantil, ela percebeu ao dar de ombros ao deixar seus cabelos soltos. O tamanho não lhe incomodava devido ao pequeno volume de sua saia, e havia um simples decote reto. A fina alça lhe dava uma sensação de segurança. O livro, Elle trazia abraçado em frente ao seu corpo.

Os sapatos sem salto lhe deixaram segura ao descer as escadas e ao parar em frente a sala de jantar se viu suspirando diante da provação que se seguiria.

Bom Deus, me daí forças para este desafio que impôs a mim.

Rogou aos céus antes de avançar, se deparando com o olhar frio e tedioso de Gregory Wolf, o qual possuía um copo em sua frente. Elle engoliu em seco ao observá-lo com atenção. As longas pernas dele, estavam cruzadas, suas mãos pousavam em cima de seu colo. Mãos longas, ela reparou.

A roupa de Gregory consistia em um conjunto de calça social e paletó da mesma cor. O que a fez torcer o nariz.

— Sente-se – Elle olhou para a cadeira que ele apontava hesitando antes de sentir ao lado dele – Vejo que está se comportando como uma boa menina.

O tom de escarnio não passou despercebido para a jovem que assentiu ao colocar o livro em cima da mesa. E como da última vez, os pratos foram servidos sem ele precisar emitir um único som. Elle sorriu ligeiramente ao não receber o mesmo prato que ele. Ela havia recebido salada e comida italiana, enquanto Gregory optara por frutos do mar. Jantaram em silêncio, entretanto Elle a cada minuto olhava para Gregory, observando a forma como ele comia educadamente sem emitir um único ruído.

Gregory se sentiu cada vez mais incomodado. Os olhares de Elle em sua direção, ele sentia todos. Ao depositar os talheres no prato vazio ergueu o olhar para Elle, e a viu desviar o olhar continuando a comer.

Wolf esperou paciente ao beber o seu uísque até que Elle terminasse de comer para então a intimidar. Ele desprezava o ar inocente que ele emanava. Não importasse o tipo de roupa em que ela era colocada, seus trejeitos infantis ainda permaneciam assim como o seu olhar doce e ingênuo.

Ele odiava tudo aquilo que a fazia ser humana.

— Leia, senhorita Laffontt – A sua ordem a fez assentir ao pegar o livro, abrir em uma página aleatória e ler com eloquência em francês. Elle continuou a ler inebriada pela narrativa e pela dor dos personagens a tal ponto que não escutou a voz de Gregory Wolf até ele bater na mesa, fazendo-a gritar com o susto largando o livro, o qual caiu no chão. – Quando eu a chamar deve responder. Não gosto de repetir, compreende?

— Eu estava lendo como havia pedido, e não foi minha culpa que.. – Se calou ao ver a expressão dele se transformar. A inexpressividade familiar do homem a sua frente desaparecera dando lugar a lábios contraídos. Ele estava com raiva. – Entendi, senhor Wolf.

Os anos em que passara no orfanato lhe ensinara a enxergar o lado bom nas pessoas, pois sabia que todos possuíam um lado ruim e um bom, mas ela percebia a cada segundo que passava em sua presença que Gregory Wolf não lhe demonstraria nenhum sentimento positivo.

— Há algum motivo para me odiar? – Elle perguntou corajosa ao se abaixar pegando o livro. Ao erguer a cabeça manteve os seus olhos fixos em Gregory, ela ansiava por ver sua expressão, o que infelizmente nada mostrou. – Desde que foi até o orfanato demonstra o seu desprezo por mim, e por mais que odeie falar isso em voz alta, não me importo que me despreze, mas imagino que deva ter uma razão para isso. E é isso que desejo saber. A razão por ser odiada e desprezada por alguém que nunca vi antes.

Inocência (DEGUSTAÇÃO)Where stories live. Discover now