16.XEQUE-MATE-Por Vanessa Vendini

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Saí  dali, fui para o canto oposto , queria estar perto quando ela encontrasse aquele papel.

–Sabe o que a Denise me propôs há pouco? –Jonas aproximou-se de mim.

Balancei a cabeça curiosa.

–Que pedíssemos ao médico para fazer um exame de HIV em Livia.

Respirei fundo, olhei para a direção de Denise. Minha culpa acabava de se transformar em pó.

Eu torcia para que ela voltasse logo ao seu lugar, que pegasse aquele papel e que descobrisse o quanto estava ferrada.

–Eu vou até o café, quer alguma coisa? –Jonas ofereceu-me.

–Não,obrigada.Eu comi antes de voltar.

–Vai ser rápido, e qualquer coisa me chame. –Ele parecia receoso em sair dali.

–Fique tranqüilo...O senhor precisa mesmo se alimentar.

Ele foi, Júlia também não estava mais ali, e a sala já parecia mais vazia.Denise finalmente sentou-se e notei sua expressão confusa quando viu aquela folha saindo de sua bolsa.

Meu coração acelerou quando ela começou a desdobrar o papel e o varrer com os olhos.Seu rosto e a folha dividiam o mesmo tom, sua boca abriu-se involuntariamente.Ela ficou paralisada por um tempo, depois levantou-se e saiu em disparada.

Queria ir atrás, para isso Jonas precisava voltar,torci para que ele não demorasse mesmo.

"Graças a Deus!" –pensei assim que o vi entrando na salinha.

–Vou ao banheiro...já volto. –Saí levando comigo todos os outros e-mails impressos.

Denise só podia estar lá.Para onde mais ela iria?

Eu precisava aproveitar meu ímpeto, o calor do momento, tinha de ser naquela hora, ou não sei se conseguiria confrontá-la depois.

Abri a porta, a parede exibia um espelho grande, Denise estava refletida nele, alerta para ver que acabava de chegar ali.

–Eu sabia que encontraria você aqui... –Fechei a porta, o cheiro de desinfetante desagradou meu olfato.

Denise estava com as mãos nas costas e permaneceu quieta, estava me analisando.

–Aconteceu alguma coisa...Alguma novidade sobre a Lívia?

Encostei-me na pia, perto da saída, se ele tentasse alguma coisa eu tinha como fugir dali.

–Denise, sabe que quando a Liv acordar, vai querer saber como está Ian...O que você vai dizer a ela? –Fui direta, e mesmo tentando disfarçar, eu estava nervosa e Denise era experiente o bastante para saber disso.

Ela riu cinicamente e olhou para cima.

–Então foi você? –Perguntou balançando o papel.

Confirmei com a cabeça.

–Eu sabia que tinha um furo em toda essa história, e não precisei procurar muito. –Dei de ombros.

Denise deu alguns passos a frente, enquanto eu me mantive ali onde estava, mesmo querendo correr até aporta e sair daquele banheiro.

–Quem você acha que é, hein sua pirralha? –Ela arregalou os olhos. –Não devia estar se metendo onde não é chamada.

Baixei minha cabeça, sua proximidade me intimidava, eu só não podia demonstrar isso.

–Mesmo tendo lido esse e todos os outros e-mails, é difícil  acreditar que alguém possa ser tão má. Eu fico pensando em como Livia vai reagir ao saber disso.

–Você não está pensando em ... –Ela se virou de costas. –Eu vou proibir você de colocar os pés nesse hospital!Não vou deixar você envenenar minha filha.

–Vamos ver o que o pai da Livia vai achar quando eu contar a verdade a ele, quando eu contar e quando ele vir as provas de sua crueldade. –Ameacei já indo até a porta.

Ela correu e colou-se em minha frente, tentava impedir minha passagem, senti medo do que ela podia fazer para mim.Denise era uma mulher sem limites. Eu estava cada vez mais certa disso.

–Não pode fazer isso, Jonas não entenderia... –Ela levou as mãos a cabeça, começava a perder o controle.

–Conserte isso Denise...Você sabe o que tem que fazer. –Encarei-a antes de sair.

Voltei a respirar assim que fiquei longe dela.Honestamente eu não sabia se deveria contar toda a verdade a Jonas, aquele não me parecia um bom momento.

Se Denise tivesse um pouco de juízo, faria a coisa certa.Eu estava disposta a dar uma chance a ela.Decidi esperar, se estávamos jogando, eu teria de ver qual seria seu próximo movimento.

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Já era madrugada, voltamos a ser nós quatro naquela sala.Denise retornou uma hora depois da nossa conversa e mal conseguia me olhar.

Eu estava fritando meus neurônios.Por várias vezes me peguei pronta para contar a verdade a Jonas, principalmente quando me confessou sua preocupação com o estado de saúde de Ian. Ele estava desesperado, imaginado o que dizer quando a filha o perguntasse.

Sentia meus olhos pesando cada vez mais,brigava contra o sono, e o silêncio não estava ajudando.Estava quase cochilando quando então o médico surgiu, parecia preocupado.

Todos se levantaram ao mesmo tempo.

– Ela acordou? –Jonas foi o primeiro a perguntar.

–Acordou–afirmou mantendo uma ruga na testa. –mas, tivemos que voltar a sedá-la.

Nem deu tempo de comemorarmos.

–Por quê?Ela teve alguma piora? –Jonas era o que menos conseguia controlar a ansiedade.

–Lívia despertou muito alterada, chamava por Ian, queria saber se ele estava bem, e isso alterou seus batimentos, sua pressão... –Ele cruzou os braços. –Não tivemos outra escolha.

Leonardo fechou a cara instantaneamente, Denise começou a chorar e Jonas cobriu o rosto com as mãos.

–Meu Deus!Não sei o que fazer...Eu preciso de notícias desse rapaz, no entanto,como vou fazer uma viagem e deixar minha filha assim?

Olhei para Denise.Ela estava em pânico.

–Os pais podem ir até a U.T.I.,para uma visitação rápida, um por vez.

–Eu vou primeiro. –Jonas se adiantou.

Denise não se opôs, ficou parada vendo o ex marido partir junto do médico.Coloquei-me ao seu lado, ela arfou.

–Espero que já tenha feito alguma coisa. –Sussurrei para que Leonardo não me ouvisse. –Viu só? Eles não vão poder manter a Lívia sedada por muito tempo, e, quando ela acordar não vou hesitar em contar a verdade para ela.

Denise fechou os olhos, as lágrimas escorriam por conta própria.

–Fique tranqüila, eu sei que estou entregando minha cabeça numa bandeja,mas...em poucas horas ele vai estar aqui. –Ela secou o rosto com as costas das mãos. –Ian está voltando.

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