Capítulo 10 - Revelações

102 9 0
                                    

Mas isso durou um momento. Depois de cansados uma duvida me veio a cabeça e enquanto estávamos deitados olhando um pro outro, decidi que deveria perguntar.

– Quem foi que agiu contra sua tribo?

Seu olhar mudou.

– Os mamelucos – a resposta fez eu sentir algo muito ruim dentro de mim. Era como se até ali, eu tivesse apenas "ascendendo" mas então caí de uma vez.

– Mas esse é meu nome – falei.

– Eu sei, antes de lançar o feitiço, observei você em sonhos. Péssima escolha do espírito que lhe batizou.

– Mas o nome não é algo ruim, mamelucos são os filhos dos brancos e dos índios.

– E pertencendo aos dois mundos, são rejeitados pelos dois. Acham-se inferiores aos familiares por parte de pai, e superiores aos por parte de mãe. E tendo o conhecimento ancestral desta terra, são os melhores para se embrenharem no mato, empunhando as bandeiras dos escravocratas para capturar aqueles tão parecidos com os ancestrais maternos. Agora, meus parentes pertencentes apenas a natureza possuem donos. Eles me fizeram mal. E sabe porque te chamei? Porque eles te fizeram mal também. E foi pra isso que você veio aqui.

Uma fogueira se ascendeu entre nós. E ali nas chamas, se mexiam imagens. Eu sabia controlar o fogo, então ali eu entrei e presenciei a cena em minha frente.

– O que é isso? – perguntei.

– O dia que você morreu. Um encantado.

Saindo de uma casa, uma mulher trazia nos braços uma criança que chorava. Sangue escorria pelas pernas e ela andava com dificuldade em direção a lagoa que identifiquei como sendo a minha.

– Quem é?

– Sua geradora.

– O que ela vai fazer??? Esperaaa... NÃÃÃOOOooo!!!

– Sua progenitora jogou você naquela lagoa. Mas a complexidade que compõe a natureza se apiedou do pequeno pagão. E mesmo afogado, seu choro se fez ouvir naquele dia. A lagoa se encheu de luzes e se elevou sobre a pequena vila de seus assassinos.

– Assassinos? – perguntei.

– Ela não te gerou sozinha.

– Porque ela me matou? A mãe de Crispim foi morta por ele, e por isso ela o amaldiçoou. Mas eu não fiz nada.

– Sua geradora um dia encontrou um homem por quem se apaixonou. Mas ele não ficou com ela pra sempre, logo que soube que estava grávida, sumiu, e ali, ele matou você e seu pai passou a ser o Boto. Então, sua geradora teria uma vida desgraçada. Uma não casada grávida? Um absurdo. Mas sua família arranjou quem se casasse com ela, um velho amigo da família, de outra cidade, que a havia conhecido quando ela era criança ainda. Mas ele não se casaria se soubesse que ela possuía um filho. Então, tudo foi marcado, mas o velho não a viu grávida, e quando você nasceu, ela tratou de afogar sua existência, planejando se casar depois.

Eu não conseguia dizer uma palavra. Era isso que era sofrer. Era duro, mas acredito, que eu já sabia de tudo antes. Ali só tive a certeza.

– Eu sinto muito Mameluco, mas você pode se vingar – ela falou e eu ergui o meu olhar para ela. – A cultura que te assassinou foi a que pôs fim a minha tribo. Veja bem...

Ela ergueu na minha frente um ovo.

– Estou chocando ele a algum tempo. E tornarei ele mais poderoso, se alguém como você me ajudar a criá-lo.

– O que é?

– Uma criatura chamado Pinto Piroca. Ele é capaz de devorar a natureza, mas a ressuscita sobe sua vontade. Isso matará o mundo que te matou. Juntos, teremos um lugar grandioso o novo mundo.

MAMELUCO, Existência afogada.Where stories live. Discover now