Eu entrei na oca. Lá dentro, existia uma mulher, como esperado.
– Então é verdade, você veio mesmo! – ela disse.
– Seu amigo me trouxe aqui – falei.
– Ele não é meu amigo, é um anjo trazido do outro lado do mar. Ele não é nativo daqui.
– Ele usa umas coisas bem esquisitas mesmo no corpo. Eu também conheci uma Karaibebé que não era daqui. Iemanjá, da África.
– Conheci ele por intermédio de uma mulher exilada pela nação por manifestar sua religião. Ela me disse que se eu recitasse o feitiço "Vá Satanás, Barrabas e Caifás, tragam-me ele para que me dê quanto tiveres, me diga quanto souberes e me tornes a mais feliz das mulheres" poderia trazer a mim o homem que desejasse, e eu desejei você.
Ela me olhou de forma que eu não sabia explicar.
– Eu? Você me conhece?
– Não lembra? Quando você emergiu da lagoa, eu estava lá.
– Você era a mulher?
– Sim, Matinta é meu nome. A principio eu tive medo de você. Minha tribo foi destruída e capturada por um povo parecido com você. Mas quando vi que falava com um pássaro, percebi que não podia ser deles, pois eles não dialogam com a natureza, só matam.
– Uauiará me disse que eu deveria dar isso pra você – tirei o muiraquitã da barba ruiva.
– Nossa – ela se surpreendeu. – Eu já ouvi falar. Mas comumente são as mulheres que dão aos homens. Em especial as Icamiabas. Eu também tenho algo pra você...
Não sei descrever em palavras o que aconteceu posteriormente. O que posso dizer é que me senti muito atraído por Matinta e ali, me liguei a ela e fazendo isso, me liguei ao universo. E dando um pouco de mim a ela, eu me senti muito mais cheio de calor, do que quando apenas recebi das mães.
ČTEŠ
MAMELUCO, Existência afogada.
PovídkyA história gira em torno de um homem que desperta já adulto, na escuridão de uma lagoa. Sem memorias e incompreendendo a própria situação, ele se sente vazio, oco e insosso, sua busca se justificando na conquista do próprio sabor. "Primeiro...