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Anthony

Sirene de ambulância. Cores piscando vermelho e amarelo. Calor. O som do fogo. E mais sirenes. Água. Tudo isso ligado em um lugar só. Eu devo estar sonhando. Só posso estar sonhando.

- Senhor... Senhor, mantenha os olhos abertos... Senhor, sou a socorrista, me chamo Elisabeth, por favor mantenha-se acordado... Leve ele para o leito de trauma... ainda tem o restante da família para chegar...- o sacolejo acaba.

Sinto meu corpo todo arder, a dor fica intensa a cada segundo. Começo a gritar, sinto uma mão em meu rosto, e abro os olhos, vejo que não a conheço, ela é jovem, e com os olhos compassivos, tenta me acalmar.

- Senhor, se acalme, estamos quase chegando na emergência. Você se lembra do que aconteceu?

Tento lembrar, e recordo de tudo o que aconteceu.

2 horas antes...

Estávamos na porta esperando o manobrista trazer o carro. Eu segurava a mão de Julia, enquanto nosso pai estava procurando me comediar. As vezes ele é um escroto.

- Xarás na sua família. Isso é um sinal. - ele diz todo presunçoso.

- Sinal de que pai? - O encaro preparado para merda que vai sair da boca dele. Do meu pai eu espero tudo. Ele faz uma pausa dramática.

- Um sinal de que... vocês devem ficar juntos. - Ele finaliza, rindo de mim. Sempre me sacaneando, juro que ele cantaria minha namorada. - Filho relaxa. Nunca vou querer sua garota, não sou o seu tio. Mas gosto de te sacanear.

É meu tio, eles dois têm história. E não termina muito no final feliz. Julia faz cara feia, acho que lembrou daquele dia que conheceu o meu tio.

- Já o conheceu né? Pela sua cara, a apresentação não foi muito amigável. - meu pai coloca a mão no queixo.

- Digamos que ele acha que sou prostituta de cargo. - ela finaliza, dando de ombros.

Particularmente essa colocação me ofende um pouco, não por mim, mas por ela. Esse termo é muito escroto. Tenho vontade de mostrar que também não penso assim. Desfazer essa frase da boca dela.

- Ele acha que você dorme com meu filho por causa do dinheiro. É sempre assim, sempre pensa no dinheiro. Ele é um grande filho da puta.

- Pai, não xinga a minha vó, ela não tem culpa. - digo revirando os olhos.

- Na verdade ela tem sim, mas isso fica para outro dia, seu carro chegou.

O manobrista vem em nossa direção e me entrega a chave, não antes de ativar o alarme. Não entendi por ele fazer isso, mas também não questionei.

- Foi um prazer revê-lo pai.

- O prazer é todo meu.

Deixo Julia se despedir do meu pai, e o restante da família que apareceu na porta, me aproximo do carro, e o destravo. E a explosão acontece.

Só consigo escutar zumbido nos ouvidos, tento localizar minha mulher, olho para um lado e vejo respingo de chama, estilhaços espalhados pelo chão. Olho para o outro lado, e há vários estilhaços, mas tem uma chama muito maior. Aquilo é meu carro?

MEU DEUS! O que aconteceu?

Miro meus olhos para frente e vejo Julia no chão, desacordada, sua cabeça está sangrando, tento me levantar, mas meu corpo não obedece. Grito por ajuda, mas ninguém aparece. Olho para o lado dela, e meu pai também está lá, chamo, mas ele não se meche. Será que... não eles não podem estar mortos, eu estou mais próximo das chamas, eu que deveria estar morto.

Irresistivelmente AtraenteWhere stories live. Discover now