01 💙 A pior coisa do mundo

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Ela se olhava no espelho pela décima vez consecutiva

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Ela se olhava no espelho pela décima vez consecutiva. Faziam seis meses desde que começou uma dieta estritamente regrada e, embora estivesse se esforçando, sabia que não estava tendo o resultado que deveria. A garota tinha catorze anos, estatura mediana e mais de dez quilos acima do peso. Não é tanto se comparado a sua altura, mas considerado demais para uma bailarina.  O balé exige um certo biótipo devido ao esforço físico e a estética, por isso, mesmo que pensasse que seu sobre peso não lhe atrapalharia; sabia que uma hora ou outra ia intervir. Era genético, ela sabia, tinha facilidade para engordar e precisava manter uma dieta regrada além de exercícios físicos, — o que não costumava fazer com frequência.

Continuou observando cada detalhe do seu corpo e não conseguiu achar algo que não lhe agradasse. Sim, ela gostava de ser quem era. Gostava dos cabelos escuros em um tom quase azulado, da sua pele bronzeada, olhos esverdeados e dos seus lábios volumosos. (Isso ela amava!) Gostava das suas bochechas marcadas e do seu quadril largo; até mesmo da sua barriga cheia de dobrinhas, do seu bumbum e das suas pernas grossas. Gostava até dos pés deformados de calos e machucados, marcados pelo esforço da dança. Não havia nada de errado consigo, sentia. Era uma bailarina fora dos padrões? Sim! Mas não se sentia menos capaz por isso, e mesmo que tivesse alguma dificuldades, todos têm! As pessoas criam conceitos inadequados uma das outras. Mas o que é bonito aos olhos delas, afinal?

Decidiu que se fosse emagrecer, seria pela sua saúde, mas tinha medo do que ainda estaria por vir. Júlia é uma bailarina com o peso acima da média e sempre foi, desde pequena. O balé era sua maior paixão e sabia que não era pior que as outras colegas por causa disso, mesmo que tivesse dificuldades e que seus pés e pernas doessem o dobro que as outras meninas por conta do peso; sabia que podia suportar tudo aquilo. Não era fácil, mas ser bailarina em quaisquer que sejam as condições não é, e mesmo que muitas vezes tivesse que aguentar as dores insuportáveis nos pés sem dizer nada, valia a pena.

No dia anterior, treinou os primeiros passos na sapatilha de ponta e tinha sido horrível. Por mais que a dor fosse insuportável e o equilíbrio difícil de controlar, ela não desistiu; apesar de que Ana, a sua professora percebesse que estava em seu limite.

Mas e se não conseguisse emagrecer e por isso, tivesse que abrir mão de seu sonho? Era o que mais temia. Afastou os pensamentos ruins da sua mente e vestiu a farda da escola. Em seguida, amarrou seu casaco com estampa de unicórnio na cintura, — que era apenas mais uma peça no meio do seu quarto combinando as cores vermelho, amarelo vivo e azul, completamente decorado com unicórnios. Desceu às pressas para tomar café, sentindo o cheiro das inconfundíveis torradas com queijo da sua mãe. Seu pai também estava à mesa, uma raridade.

André era um homem de estatura mediana, gordinho, com olhos castanhos e expressões faciais fortes. Não era a toa que Júlia tinha olhos tão marcantes, puxava ao pai. Tinha um sorriso muito bonito, assim como o dela.

— Já estou indo — falou André, assim que ela se sentou. — Até mais tarde.

— Bom trabalho, querido — disse Janessa, sua mãe, dando um beijo discreto no marido.

Mais Perto do Que se Imagina (COMPLETO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora