Capítulo 4- Sharpen

206 31 25
                                    



Meu pai demorou horas para chegar, mas eu permaneci acordada, olhando para o nada e pensando em todas as possibilidades racionais para aquilo que estava acontecendo. De fato Stella tinha alguma coisa contra meu pai, algo convincente o suficiente para conseguir reabrir o caso, ela tinha alguém que estava fazendo tudo isso por ela e por algum motivo ela queria que eu fizesse a parte suja dessa vingança inútil. Eu só tinha uma única opção, confirmar com meu pai que ele não estava bêbado no dia do acidente e que ele não era culpado por aquelas mortes, assim eu não precisaria entrar no jogo de Stella e ficaria ao lado do meu pai para ajudar a mostrar que aquelas provas eram falsas.

Ele entrou em casa, já afrouxando a gravata que usava. Quando me viu sentada na mesa da cozinha ele parou, seu olhar parou imediatamente no colar que eu havia pegado no quarto da minha mãe; colocara-o em meu pescoço logo depois de assistir o vídeo da Stella, de alguma forma muito estranha, com ele, eu não me sentia sozinha no meio dessa confusão.

Eu e meu pai nos encarávamos, percebi que ele queria dizer algo mas simplesmente não conseguia. 

 —É verdade? O que os policiais disseram é verdade? Você tinha bebido?

Meu coração batia muito forte, poderia jurar que meu pai conseguia ouvir de onde ele estava parado; em pensamento, eu torcia para que ele dissesse não, que ele jurasse para mim que não e que tudo não tivesse passado de um erro. Mas ele desviou seu olhar do meu, e confirmou com cabeça.

Então me veio uma sensação estranha, algo que eu não sentia a muito tempo – impotência, eu estava nas mãos de uma garota morta, que de alguma forma havia descoberto o segredo mais obscuro do meu pai e estava disposta a acabar com a minha vida. Logo depois senti raiva, raiva porque ela estava certa, meu pai havia sido responsável pela morte da minha mãe e nunca tinha me falado nada, nunca tinha pedido desculpas.

Ele percebeu minha raiva, mas não disse nada, não se aproximou de mim. Ele nem se mexeu. Apesar de tudo, eu não queria que ele fosse preso, ele era a única família que tinha e não poderia perdê-lo; respirei fundo e me levantei, fui até ele e parei bem na sua frente.

— Eu preciso que me matricule no Instituto Monte Carlo — disse. Sua expressão foi de espanto, obviamente não era o que ele esperava que eu dissesse.

— Como assim? Por que lá?

— Porque eu preciso ficar um tempo longe do assassino da minha mãe.

Foi a coisa mais dolorosa que eu já disse. Minha garganta se apertou na minha tentativa de segurar o choro, o olhar de dor que meu pai me deu foi igual quando eu o visitei no hospital e ele soube que minha mãe tinha morrido. Podia ver que ele tentava achar algo para dizer, sabia que ele queria negar mas não conseguia, e simplesmente ele confirmou com a cabeça.

— Apenas uma condição, Nora, você precisa continuar tomando seus remédios.

                                                                                ---

Uma semana depois, meu pai me deixou em frente ao Instituto Monte Carlo. Ele havia conseguido me matricular com facilidade já que havia uma vaga disponível, apenas precisei passar na prova de nivelamento para o segundo ano do ensino médio, o que não foi muito difícil. Por duas horas ficamos no carro sem trocar uma única palavra, assim como foi durante todos os dias desde que ele foi prestar depoimento; ainda não sabia o que sentia em relação a ele, mas de uma coisa eu tinha certeza—eu não queria que ele fosse preso.

Meu pai já havia levado a maioria das minhas coisas no dia anterior, tanto que eu apenas cheguei no Instituto com uma mochila. Apesar de não estarmos nos falando eu sabia que ele estava preocupado comigo, tanto que mandou a Sra. Mercedes para falar sobre a realidade do ensino médio.

Filme Nº 7Onde as histórias ganham vida. Descobre agora