Capítulo 1- Contrast

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Não era que nem os filmes.

Não estava chovendo, e as pessoas não estavam vestidas completamente de preto com seus guarda-chuva preto abertos por cima de suas cabeças. Estava um dia ensolarado, um sol frio porém ensolarado mesmo assim.

Por ter sido um suicídio, não havia um padre, aparentemente a igreja não aceita muito bem pessoas que tiram a própria vida. Foi típico da Stella se matar daquele jeito, o mais dramático e Hollywoodiano possível; foi encontrada na sala escura da aula de fotografia de sua escola, depois de engolir um monte de pílulas, enquanto suas próprias fotos momentos antes de morrer pairavam por cima dela, penduradas para todo mundo ver.

Como eu disse, dramático.

Estava com meu walkman grudado ao meu corpo por debaixo do meu moletom cinza, o capuz escondia meu fone de ouvido e o volume estava baixo para que ninguém percebesse que eu não dava a mínima para aquele show. A voz do Axl Rose abafava o discurso da minha tia Marie, que falava próximo ao caixão da Stella, mas ainda dava para ouvir sobre como ela era especial, como era bonita e inteligente. Parecia estar em choque ainda, falava como se estivesse decorado um texto qualquer, com os olhos vidrados olhando para o nada. Meu pai se aproximou dela, colocou os braços em volta de seu corpo, afim de tirá-la de lá; foi o suficiente para fazê-la chorar de novo. Apesar do meu pai e minha tia nunca terem se dado bem, eles sempre ajudavam um ao outro em um momento de dificuldade; era uma relação estranha de irmãos adotivos, apesar do meu pai nunca ter aceitado que meus avós tivessem adotado a minha tia, ele respeitava essa decisão deles mesmo após à sua morte. Ambos se odiavam, mas se suportavam nos momentos mais difíceis.

Talvez por isso eu não suportava a Stella também, não é como se ela fosse minha prima de verdade. Mas talvez o fato de ela ter sido uma maluca metida tenha ajudado. Logo após o acidente dos meus pais tive que morar quase um ano com ela e minha tia; minha mãe tinha acabado de morrer e meu pai ainda estava em coma. Na verdade esse ano todo ainda é um borrão para mim, a maioria das lembranças são flashs dolorosos, noites de choro e da Stella jogando o travesseiro na minha cara me mandando parar de chorar porque ela não estava conseguindo dormir.

Ela não era uma pessoa muito adorável.

Nos falávamos pouco, e quando decidíamos abrir a boca normalmente trocávamos palavras venenosas uma para a outra, e para mim estava bom assim. Fiquei lá até depois do meu pai acordar do coma, voltar pra casa e ter o tempo que ele precisava para aceitar que minha mãe havia morrido. Até que um belo dia meu pai foi me buscar e Stella foi mandada para um internato. Simples assim.

Isso já fazem mais de 3 anos. Então não é surpresa o fato de eu não lamentar a morte da minha prima. Eu quase não a conheci, e o pouco que conhecia não tinha me agradado.

— Porque ela fez isso, porque eu não percebi antes? —  Minha tia lamentava no ombro do meu pai, enquanto todas as outras pessoas em volta estavam de cabeça baixa, respeitando seu lamurio.

A maioria que estava no enterro eram vizinhos, conhecidos da minha tia, colegas antigos da Stella, mas aparentemente ninguém do internato estava presente. Aparentemente, ninguém dos últimos 4 anos de vida de Stella estava lá para vê-la ser enterrada.

Talvez isso quisesse dizer muita coisa sobre o porquê de ela ter se matado, talvez ela fosse solitária, excluída e ninguém gostasse dela lá. Talvez ela tivesse problemas nessa escola, ela parecia ter muitos problemas lá. Mas como eu sabia disso?

Filme Nº 7Onde as histórias ganham vida. Descobre agora