Mirela também havia ido embora, assim como as pessoas e os Combatentes, restando no pátio somente as crianças brincando de um lado e uma Clara matutando de outro. Por que Daniel a havia trazido em segredo? Isso explicava porque ela havia sido tratada como uma prisioneira por Nana no início, antes de tentar fugir e até mesmo pelo fato de receber visitas e cuidados apenas da senhora. Com um ferimento daqueles e pelo modo como as coisas se conduziam ali, o mais provável ter sido levada para a enfermaria como os demais feridos.
— Moça! Moça! — chamava uma das meninas mais velhas se aproximando de Clara. — Um dos garotos jogou a boneca de pano da Maria em cima da árvore, mas ela é muito alta...Será que você pode ajudar?
Clara olhou da menina à sua frente para o grupo reunido em volta de uma garotinha chorosa e de volta para a garota à sua frente.
— Ok. Vamos lá.
Clara acompanhou a garota e viu a boneca presa em um galho bem alto. Mesmo sem fazer a menor idéia de como iria tirá-la dali, aproximou-se da árvore. Olhou para os lados na esperança de encontrar uma vara ou coisa parecida, mas é claro que não havia.
— Fique aqui. — disse para a menina enquanto se dirigia à base da árvore.
Parou um momento e olhou para cima, analisando seus galhos. Com um impulso, começou a subir com uma agilidade e destreza que nem ela mesmo sabia que tinha. Era algo totalmente natural passar de um galho a outro até chegar ao local onde estava o brinquedo. Desprendendo-o, jogou-o para a pequena Maria olhando-a ansiosa do solo. Viu quando a menina agarrou a boneca e a abraçou com um grande sorriso no rosto. Sem perceber, Clara também estava sorrindo enquanto pensava com como era fácil fazer uma criança feliz.
— Obrigada, moça!! — agradeceu a menina mais velha enquanto voltava para onde estavam as outras.
Quando chegou ao solo, Clara estava sozinha ou pelo menos foi o que pensou até que percebeu um ligeiro movimento às suas costas e voltando-se, deu de cara com Daniel a poucos passos dela. O coração parou e acelerou fazendo as palmas das mãos suarem. Tudo parecia suspenso no breve momento em que seus olhares se cruzaram e ela se perdeu na imensidão negra, semelhante a um céu noturno com pequenos pontos brilhantes.
— A Nana...me...
A frase morreu nos lábios finos dele. Daniel fechou os olhos por um momento, parecendo concentrar-se. Levou as mãos às costas e parou a poucos metros de Clara. Ao abrir os olhos, a frase saiu mais firme.
— A Nana me disse que você já está melhor.
— É...sim. Eu acho que...sim. — gaguejou Clara, também tentando recompor seus pensamentos e passando as costas das mãos pela testa, como se isso pudesse ajudar a retomar o raciocínio. — Obrigada por....por perguntar.
O silêncio instalou-se entre eles e Clara se permitiu perder-se nos olhos de Daniel outra vez. Ele também a encarava. Aquelas sensações, o frio na barriga...já havia sentido antes? Tentou buscar no fundo da mente, mas havia se tornado difícil concentrar-se em algo além dele.
— Tem uma... — Ele começou, gesticulando para uma Clara confusa.
— O que?
— Tem uma...
De novo ele começou a gesticular em círculos com a mão acima da cabeça. Aproximou-se o suficiente para deixar apenas milímetros de distância entre eles e um coração batendo descompassado no peito de Clara.
— Tem uma folha no seu cabelo.
Daniel esticou a mão em sua direção para retirar a folha que havia se enroscado em seus cabelos e por uma fração de segundo Clara poderia jurar que ele tocou seu rosto suavemente enquanto abaixava o braço. Quem diria que algo tão sutil fosse capaz de provocar uma reação tão intensa como a que ela experimentava naquele momento? Era como se um choque elétrico sacudisse seus músculos. Nem queria imaginar o que lhe aconteceria se, de fato, Daniel a tocasse.
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Por onde ela esteve? DEGUSTAÇÃO
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