- Oi, Adam – Selene estava de bom humor.

- Selene... Você está assistindo televisão ? Quer dizer, mesmo que não esteja... Já deve saber... -  ele se interrompeu quando viu a mãe o observando.

A garota parecia despreocupada do outro lado da linha.

- Sim – respondeu apenas. - Era só isso que queria conversar ?

- Não. É que... - ele voltou a olhar para a mãe. - Eu preciso falar com você.

- Fala – Selene estimulou do outro lado da linha.

- Agora não dá, é que... - respirou pesadamente. - Mãe. O almoço – ele balançou as mãos no ar, tirando o telefone do ouvindo e recolocando-o novamente.

Sim, ele estava mesmo nervoso. Estalou a língua e olhou urgentemente para Anne que não havia se movido.

- Adam ? - Selene perguntou. - Tudo bem... Aonde a gente pode se ver ?

- No... - ele fechou os olhos tentando pensar em algum local bom para falar com ela. - Sei lá. Em qualquer canto. Só preciso falar com você.

- Você não vai sair de casa, Adam – a mãe advertiu.

- Droga, mãe. Vai embora! - ele gritou.

Selene escutou do outro lado da linha. Ela pareceu entender agora o real estado em que Adam se encontrava.

- Calma – tentou tranquilizá-lo. - Eu posso ir até aí, estou no carro voltando para casa. Posso voltar.

Ele mordeu os lábios. Anne ainda estava parada na porta da cozinha, olhando para ele.

- Tudo bem. Mas vem logo – Adam respondeu por fim.

- Tá. Tchau – ela sorriu.

- Não, espera – ele a interrompeu, saindo em direção à sala de trás, na biblioteca da casa. Estava ficando incomodado com o olhar da mãe.

- O quê ? - Selene perguntou.

- Não desliga... Quer dizer, por favor – pediu. - Ou eu vou ficar te ligando a cada segundo até você chegar aqui.

Ela riu do outro lado da linha. Mas concordou. Ele sentou na cadeira em que o pai costumava ficar quando ia ler na biblioteca e pegou um caderno. Colocou o telefone no viva-voz e o pôs sobre a mesa, então começou a rabiscar na última folha do caderno em branco. Era para distraí-lo até ela chegar.

- Adam ? - Selene chamou.

- Fala amor, quer dizer... Oi ?

Ouviu a risada da garota.

- Eu estou quase chegando.

- Tô esperando.

Ele voltou a rabiscar no caderno, começou a desenhar o homem que vira na televisão, o policial. Acabou perdendo a noção do tempo. Ouviu Selene cantarolar do outro lado da linha, então o barulho de uma porta de carro sendo batida, e logo ela voltou a falar.

- Cheguei, estou andando até sua casa. Pode ir esperar na porta ? - perguntou.

Ele se levantou num salto da cadeira, mas ainda deixou o telefone ligado e levou-o consigo. A mãe estava acabando de colocar os pratos na mesa e o viu passar apressado em direção à porta.

Ela viu a garota entrar no mesmo instante em que Adam a abriu e ele a abraçou instintivamente. Selene franziu as sobrancelhas, estranhando o fato, não com tanto intensidade, mas o abraçou de volta.

A lenda de Selene Adams. (PARADA)Where stories live. Discover now