Capítulo 11

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"A maldade bebe a maior parte do veneno que produz."





– Que tédio!

– Por que você não ajuda seu tio a varrer o quintal ? – o pai perguntou, lendo o jornal.

– Porque eu não quero.

– Então não fique reclamando que está no tédio.

– Eu não estava reclamando pra você.

– Já fez todas as suas atividades da escola ?

– Por que não cuida da sua vida ?

– ADAM! – a mãe apareceu da porta da cozinha. – O que está havendo com você ?

– Nada, mamãe – ele sorriu ironicamente. - Você sabe que eu amo estar aqui.

Anne suspirou e voltou para à cozinha. O pai parou de ler o jornal e ficou olhando para Adam.

– Tá me achando bonito ?

– Adam, vá ajudar o seu tio a varrer o quintal.

– Não – Adam olhou para ele.

– Adam, vá agora.

Ele nem se mexeu. Enrique jogou o jornal na cadeira e fez menção de se levantar. Adam bocejou. Parecia estar querendo provocar uma discussão. A mãe reapareceu na porta da cozinha.

– Você já foi ? – o pai perguntou.

– Que pergunta mais idiota. Não tá me vendo aqui ? Eu nem fui, nem irei.

– Adam, obedeça a seu pai – a mãe pediu.

– Não.

Então vários pares de olhos curiosos surgiram na porta da cozinha e ao pé da escada, em expectativa. O pai se levantou do sofá. Adam nem piscou, estava totalmente despreocupado.

– Levante-se daí agora – Enrique ordenou.

– Por que eu faria isso ? – o garoto deu de ombros. – Eu nem queria vir pra cá, mesmo.

Enrique já havia perdido o controle e não sabia mais o que ao certo iria fazer com Adam quando a tia apareceu e se aproximou dele. O olhar dela pedia para que ele se acalmasse. Ela se aproximou de Adam:

– Você quer fazer o que ? Que tal subir pro meu quarto ? Você pode usar o meu notebook, se quiser.

– Tá bom aqui – ele olhou para o pai.

– Vamos lá, Adam, por favor – a tia insistiu.

Ele suspirou e se levantou. Então subiu as escadas e sumiu da vista de todos. Anne passou a mão pela testa.

– Ai meu Deus! Eu não sei mais o que fazer. Ele nunca agiu assim – ela se queixou.

Enrique bufou.

– Eu sei perfeitamente do que ele está precisando.

– Calma! – a tia interveio. – Ele não está precisando de nada além de paciência. Vocês já pararam para perceber que o irmão e um dos únicos amigos do Adam morreram ? Como ele deve estar se sentindo com isso ? Deve estar frustrado, preocupado, desconfiado, inseguro. Deem crédito ao garoto pelo menos uma vez na vida, vocês nunca deram o carinho e atenção necessária a ele, e agora vêm reclamar da rebeldia ?

Anne arfou:

– O que está querendo dizer com isso ? Nós sempre zelamos pelo Adam e demos tudo que ele queria.

– Ah, é mesmo ? E por que será que eu nunca vi você depositar um abraço sequer no seu filho ? Quantas vezes ele fez alguma coisa importante e vocês nem pra elogiar estavam presentes ? Fale-me, o que o Adam mais gosta de fazer ?

Anne olhou para os presentes na sala e depois para Enrique. Retomou o ar.

– Bem, ele costuma ficar o dia todo dentro do quarto, como os adolescentes comuns. Às vezes ele até assiste televisão na sala, mas não gosta de ser incomodado.

– E só vive com aqueles fones de ouvido – Enrique complementou.

– Mas que tipo de pais vocês são ? – a tia meneou a cabeça. – Adam passou apenas poucas horas comigo e sabe o que eu percebi ? Que ele gosta de ler; tem um talento enorme para desenhar; é calado, porém quando conversamos com ele, sabe ser educado e fala de vários temas abordados da atualidade; é bem observador; gosta de ouvir algumas bandas bem metálicas e de rock bem pesado, mas também gosta de músicas calmas; e acima de tudo: não tem ninguém para compartilhar nenhuma das suas experiências. Isso se deve a quem ? Aos pais ausentes como vocês. Agora me falem de Alan... Aposto como sabem exatamente de todos os gostos do falecido filhinho de vocês.

– Olhe aqui, pode ser que a gente não saiba muita coisa sobre o Adam, mas ele também é nosso filho. E se não nos aproximamos dele foi porque ele sempre foi retraído e muito fechado – Anne se defendeu. – Alan sempre vinha conversar, falar sobre o que acontecia com ele, era divertido e se dava bem com todo mundo. Enquanto Adam sempre ficou na dele, não conversa com ninguém se não lhe chamarem a atenção, nunca fala muito sobre sua vida mesmo que for perguntado e anda ficando muito malcriado. Acho que é de tanto receber tudo que quer de mão cheia. Vou começar a cortar certas coisas dele.

– Alan sempre foi assim – a avó se intrometeu. – Mas porque vocês davam chance a ele, davam mais atenção desde que era pequeno. Quanto a Adam, vocês o cobriam de presentes e vontades atendidas para mantê-lo entretido, como se não gostassem da presença do garoto. E aí está o resultado: ele é quieto, recluso, teimoso e está revelando seu descontento com vocês a base da rebeldia.

– Mamãe! – Anne gritou como se tivesse recebido uma facada pelas costas. – O que você está dizendo ?

– Estou dizendo que Adam nunca devia ter sido criado por vocês. E que me arrependi muito de não tê-lo trazido para a minha casa. Com certeza ele estaria muito melhor comigo.

Enrique suspirou alto e saiu da sala. Anne desabou no sofá e se pôs a chorar.

– Era para Amanda estar aqui, ela teria sido muito mais competente nessa tarefa.

A tia se aproximou dela e sentou-se ao seu lado. O resto da família havia acompanhado tudo e agora se aproximavam também. A avó fechou os olhos, pensativa, e depois os abriu novamente. Iria falar alguma coisa quando Adam irrompeu descendo as escadas.

– Mãe. Por que está chorando ?

Anne enxugou as lágrimas.

– Nada, eu estava só conversando com sua tia Amelie e sua avó. Como você está ?

– Eu queria ir para casa – ele parou ao pé da escada e olhou para à avó. – Desculpe-me, vovó, não é que eu não goste da senhora. Mas aqui tem muita gente, eu não gosto muito disso.

– Eu entendo – a avó sorriu e se levantou do sofá. – Seu tio Ary vai deixar Jasmim e as crianças em casa, você poderia ir com ele.

– Mas... Ele ainda vai passar no supermercado, se você não se importar – a tia fez parecer mais uma pergunta.

– Onde está o meu pai ? – ele perguntou.

– Ele foi em direção à cozinha – Anne respondeu.

Adam agradeceu e foi até lá. Enrique estava sentado na cadeira próximo a porta, lendo o jornal, enquanto Jasmim arrumava às malas para ir para casa.

– Pai... Tio Ary vai deixar Jasmim em casa, só que eles vão ao supermercado antes. Eu poderia ir com o carro ?

Enrique nem levantou a cabeça para responder:

– Vá. Só lembre-se de vir nos buscar amanhã.

– Certo. Obrigado. – Adam quase deu pulos de alegria e saiu da cozinha.



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A lenda de Selene Adams. (PARADA)Where stories live. Discover now