3 - Estrelas

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Por Pedro

Eu passei a noite toda pensando naquele fudido do sorriso lindo, isso não era normal.
Mas vocês sabem como o destino gosta de brincar, não é mesmo?

Então, eu só fui encontrar aquele cara novamente em uma sorveteria que tinha perto da casa dos meus avós. Com um óculos imenso na cara, pra não ser reconhecido, lá estava eu, sentado sozinho em uma mesa tomando uma taça que continha seis bolas de sorvete de banana, não tinha coisa melhor, eu não comia besteira com a freqüência que eu queria, eu tinha que seguir uma dieta super insuportável onde só continha mato, pelo amor de Lady GaGa, ninguém merece uma tortura dessas.

Droga, desviei do assunto!

Mas então, lá estava eu sentado, me sujando todo parecendo uma criança quando ele se sentou na mesma mesa, mas não estava sozinho, havia uma menina de no maximo doze anos com ele.

A sorveteria estava realmente cheia, mas era coincidência demais!
Ele não me reconheceu, obviamente, e assim pude ouvir atentamente a conversa dos dois.

- Não acredito que o senhor conheceu o Pedro! - dizia a menina toda animada - Eu amo ele muito!

- Pois é... - ele pareceu pensar por um pouco e falou - Eu ainda derrubei ele - e riu logo em seguida

- Não acredito nisso - ela estava realmente empolgada com a história - Ele é lindo não é?

- Sim, ele é realmente muito bonito! - disse passando o guardanapo na bochecha da menina, que estava suja com calda de chocolate

- Você também não é nada feio... - falei baixo, mas o suficiente para eles ouvirem

A menina prendeu a respiração por um longo tempo, e o Marcos apenas ria, logo depois ela soltou um grito agudo e me abraçou fortemente

- AAAAAAAH! - berrava desesperada - ISSO PARECE UM SONHO!

Eu ri  e depositei um beijo na sua bochecha, e ela ficou toda feliz, mas continuou agarrada a mim

- Estava ouvindo nossa conversa? - perguntou Marcos e o sorriso que não saia da minha cabeça estava novamente no seu rosto - Que coisa feia!

- A culpa não é minha... - eu olhei para os lados e varias pessoas nos encaravam - Vamos sair daqui!

Saímos e aquela garotinha continuava segurando minha mão

- Como é seu nome, princesa? - perguntei quando nos sentamos em um dos bancos de praça que tinha na calcada que levava a praia

- Ana Clara - disse sorrindo e o sorriso dela era idêntico ao do tio - Seu nome é Pedro Hushel mesmo ou é artístico?

- É esse mesmo, só que tem o Morais no final - ele era uma fofura. Negra, com os cabelos trançados que iam até a altura dos ombros, quando sorria apareciam covinhas nas suas bochechas

Passamos a tarde toda ali conversando, tirei varias fotos com ela, e uma eu fiz questão de postar no meu instagram, e teve mais de cem mil curtidas em poucos minutos. Depois ela foi brincar em um parquinho ali perto, e minha conversa com o Marcos sorriso lindo fluiu mais ainda, 25 anos, solteiro e policial.

- Você é o primeiro polícial que vou com a cara - eu não deixaria de criticar a polícia militar por nada nesse mundo - Muitos dos seus colegas são racistas, e acham que em favela só mora bandido, mas não se ofenda.

- Não posso me ofender com tanta verdade sendo jogada na minha cara - ele riu sem graça - mas nem todos são assim...

- Uma pouca parcela, até polícias negros reproduzem esse tipo de comportamento - talvez eu estivesse exagerando, mas como meu tio Allan me ensinou, nunca devemos perder a oportunidade de criticar o sistema

- Eu sei... - ele deu um suspiro derrotado, mas logo voltou a sorrir - Achava que cantores pop não ligassem para essa realidade

- Eu sou negro, meus avós vieram de periferia, esse assunto sempre vai me atingir, mesmo que seja indiretamente - respondi calmamente e não me importando pelo pensamento fodido dele - Um dia as coisas melhoram!

- Se eu te chamasse pra sair... Obvio que é uma suposição, pessoas como você devem ser muito ocupadas - ele estava muito envergonhado - Mas digamos que eu te chame...

- Pode ser amanhã? - não sei de onde me saiu essa cara de pau - Ótimo, te encontro as 8, aqui mesmo  - ele apenas sorriu e concordou com a cabeça - Agora tenho que ir, até amanhã!

Depois de trocarmos números e eu me despedi da Ana, voltei para casa com um sorriso de orelha a orelha.

- Ele está assim já faz algum tempo... - ouvi minha avó Sônia sussurrar para meu avô - Aposto que tem rola na história!

- Vocês estão ligados que eu posso ouvir vocês não é mesmo?!

- Você está sentado nesse sofá, olhando para o nada e sorrindo já faz duas horas! - disse meu avô exasperado

- Conheci uma pessoa...

- Vou ligar para o Math! - disse minha avó e antes que ela conseguisse alcançar o telefone, eu me joguei sobre o sofá e peguei primeiro

- Tá louca? Nem me deixou terminar!

- Não precisa terminar, tem homem nessa história, isso é mais que suficiente pra ligar. - disse ela andando de um lado para o outro - E você, Carlos? Não vai falar nada?

- Ele já sabe se defender... - respondeu meu avô Carlos - Vem cá, meu Amorzinho!

Eu me deitei no seu colo e contei tudo, e apesar da minha avó ter ficado fula da vida, ele disse que tudo bem se eu saísse com o Marcos e eu não poderia estar mais feliz.

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RECOMEÇO (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora