— Você quer ir embora, então, vá. — Assustei quando papai gritou. Seu grito foi tão alto que eu podia jurar que a casa havia tremido. — Mas Nicoletti fica. A garota inútil não vai sair daqui, nem que me paguem milhões de euros.

— Para quê você a quer, Pietro? Você não gosta dela. Deixe-me levar a minha filha comigo, juro não pedir nenhum centavo sequer para ajudar-me a criá-la. — Argumentou mamãe. Eu poderia sentir a mágoa e a irritação em seu tom de voz.

— Rosé, eu já disse que daqui Nicoletti não sai! — Meu pai voltou a berrar. — Tenho planos para ela e isso poderá ajudá-la a quitar a grande dívida que tem e terá comigo.

E, então, ouvi minha mãe bater e vociferar palavras feias como desgraçado, filho da puta, bastardo e entre outros, para meu pai. Queria poder colocar música no iPod para não escutar mais nada da discussão, mas eu não sabia mexer direito naquela coisa, tinha medo de quebrar e mamãe ficar chateada comigo ou de papai me bater porque segundo ele, eu era uma destruidora, que eu tinha o dom de destruir tudo que eu tocava.

À medida que eu tentava forçar a minha mente a bloquear meus ouvidos de algum modo, escutei um barulho ensurdecedor e aquilo me assustou o bastante para ver o que estava acontecendo.

— Nunca mais coloque suas mãos imundas em mim — Meu pai segurava os pulsos da minha mãe com força, rugindo. —, ou eu não respondo por mim. Quero que saia dessa casa amanhã mesmo e se levar Nicoletti, já sabe o que vai acontecer!

Quando ele soltou minha mãe, que foi direto para o chão com tudo, percebi que um dos lados do seu rosto estava vermelho — quase roxo — e em um canto da boca dela estava sangrando. Meu pai foi até o pequeno barzinho no lado direito da sala e encheu um copo com um líquido marrom, ao virar-se seus olhos encontraram-se com os meus. Senti medo, muito medo, mas não deixei que ele percebesse isso.

Papai sentou numa poltrona e tirou um cigarro de dentro de seu terno, acendeu-o e deu uma longa tragada, segundos depois soltou-a lentamente. Fez tudo isso sem nem tirar os olhos de mim em momento algum.

Mamãe agora estava sentada no sofá do lado oposto da poltrona, ela tentava limpar a boca com sangue e esconder o hematoma que se encontrava em seu rosto delicado.

— Mamãe? Papai? — Eu não sabia o que dizer, estava receosa. Já estava tarde e não queria dormir com a bunda quente.

— O que aconteceu, minha princesa? — Minha mãe perguntou em um sussurrou falho.

Eu não respondi, estava com muito medo do meu pai, seu olhar frio e sombrio estava pousado em mim desde o momento que ele havia percebido a minha presença.

— Nicoletti, venha aqui garota. — A voz de papai soou autoritária.

Meu corpo todo tremia e eu não sabia o que fazer. Olhei para mamãe, depois para o meu pai e voltei a olhar para minha mãe, ela fez um sinal com a cabeça, indicando que eu fosse até papai. Assim que cheguei perto dele, ele me pegou pelos braços e me pôs sentada sobre suas pernas, é a primeira vez que ele faz isso.

— Sabe ler? — Ele perguntou e eu assenti de cabeça baixa — Sabe diferenciar o certo do errado? — Assenti novamente — Ora! Ela não parecer ser tão inútil assim, afinal das contas.

— Pietro, por favor... — A voz da minha mãe soou como uma súplica agonizante.

Meu pai encarou mamãe por longos e intermináveis — pelo menos para mim pareceu isso — minutos, suas mãos permaneciam em volta de meus minúsculos braços, seu aperto estava cada vez mais dolorido.

Bufou para demonstrar toda a sua raiva e, então, disse: — Está bem, Rosé! Talvez eu deixe você ficar, por uma condição, que isso não volte a acontecer nunca mais na sua vida. — Sua voz saiu dura nas últimas palavras. Minha mãe o observou por alguns segundos. — Vai garota, o que está esperando? Saia já de cima de mim, sua inútil.

Como um rato em fuga, desci do colo de papai e corri para os braços de minha mãe.

Naquela noite, mamãe dormiu no meu quarto comigo, na minha cama. Ela desmanchou-se em lágrimas a noite inteira, e eu não pude fazer nada de útil para fazê-las pararem. Apenas retribuía o abraço forte que ela me dava, mostrando que tudo iria ficar bem. Tinha que ficar.

Porém... nada ficou bem!

No dia seguinte, acordei sozinha em minha cama, em uma hora dessas meu pai já havia ido para a empresa trabalhar, minha mãe estaria na cozinha fazendo meus waffles com bastante mel. Como uma boa menina grande e madura, tomei banho, escovei meus dentes e cabelos. Quando fui para a cozinha minha mãe não estava, nem meu pai, cautelosamente, aproximei-me da mesa, havia um prato com quatro waffles com bastante mel e deliciosos morangos vermelhinhos e embaixo do prato havia um pedaço de papel com algo escrito. Peguei-o e li as cinco palavras escritas por minha mãe.

"Sinto muito. Eu te amo."

"

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Obsession -  Livro 1 [REVISANDO]Where stories live. Discover now