Como um último e ousado voo
lançado num escuro reticente
que povoa a alma mais sensível,
iluminando o sonho tão turvo,
embriagando a saudade fulgente
num assomo de intensa loucura,
sem, contudo, perder a doçura.
E após longos anos de demora,
vem o arfar mais forte da morte
como um guerreiro insano a matar
aprisionando as esperanças da vida
traspassando a alma com afiada lâmina
que incrusta o desesperar da tristeza
fazendo-nos perder, até mesmo, a clareza.
Assim quando a vida nos foge
sentimos o gelo mais vivo queimar,
sentimos ainda o brilho que outrora se fez
e nunca esquecemos da antiga solidão,
nunca abandonamos os lampejos senis
nas asas dessa nossa mais forte paixão.
Porém quando o grito alucinante nos envolve, fugimos.
A fuga covarde da verdade em eclodir suplicante
a fuga que, mais forte, rouba-nos a coragem
e sem sequer tentar determos falas tão rasas
simplesmente assistimos, passivamente, a morte das asas.