Capítulo 22

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Um mês. Eles passaram um mês em cativeiro. Sem notícias de Elisie, sem ver a luz do sol e de braços para cima, presos por grossas correntes que estavam ao ponto de deixar seus pulsos em carne viva. Dixon sempre perguntava aos que entravam no depósito para enfiar em suas gargantas pão duro e água amarelada, todavia a única resposta que ganhava era um soco no estômago que o fazia se calar na hora, já Alex era mais desbocado, gritava insultos em meio aos socos até que cansado o bruxo revelasse o que todos os outros revelavam:

 ―Ela ainda está bem, pelo menos ela é uma mulher medrosa demais para tentar fugir. ― Diziam eles suados e com as mãos doloridas. Dixon olhou de soslaio o primo com a aparência de um morto gemer de dor em meio à tosse rouca. 

― Não os enfrente, Alex... você vai acabar morrendo dessa f-forma...― Alex abriu um sorriso ensanguentado e cheio de sarcasmo antes de balançar a cabeça para o lado, e encarar os cansados olhos do primo que miravam a parede diante deles. ― Penso que estou à beira da morte... o terrível Cordial está preocupado comigo...

― P-pense o que quiser... ― V-você tem a-alguma ideia do que M-Mercúrio está esperando... já estamos aqui a muito tempo... o que ele trama? 

― Ele sempre faz isso... deixa as coisas guardadas para o-o tempo certo... não sei o que ele fará, mas tenho certeza que nenhum de nos viverá depois disso... 

♦♦♦

 Não olhe para a luz, não olhe para a silhueta, não olhe para a luz... Isso se tornou a oração de todas as manhãs para Elisie, que sentada em uma cadeira de pau, com os pés e mãos amarados esperava pelo que viria depois. O rangido estridente da porta velha e com cheiro de barata como todo o pequeno quarto se abriu, a luz forte foi penetrando o lugar apressada até chegar à princesa, mas não tão forte ao ponto de trazer luz a sua imagem cinzenta, Elisie fechou os olhos, apertou o maxilar para não deixar seu carcereiro perceber seus dentes batendo de medo. E esperou ela dizer algo, esperou para saber se ela estava de mau humor ou indiferente, Elisie se sentia aliviada quando ela estava indiferente, não estapeava o rosto dela, nem começava a gritar a culpando de algo que ela não fazia ideia do que era.

 ― Comida! Você precisa comer princesinha. ― o metal gelado tocou os lábios bem fechados dela, que abriu a boca temendo que acontecesse o mesmo da outra vez, quando lhe enfiaram a colher com força quando ela gritou de dor pelo cabelo puxado. 

― Isso, boa garota.

 ― Por que fazem isso? Porque não nos deixa ir? É dinheiro que você quer? Eu tenho dinheiro... eu sou realmente a princesa de Margoth e futura rainha de Darkeng, tenho dinheiro... ― a mulher estapeou Elisie, ela estava de mau humor, se estivesse indiferente, não se daria ao trabalho de bater nela. ― Calada! Eu já não expliquei? Não quero seu dinheiro imundo, quero meu amor, quero a paz, quero viver feliz aqui. E você destruiu minha paz, destruiu o coração quase curado de meu amor. Sua escória. ― Eu não sei, eu juro, eu não sei do que você esta falando. ― a mulher jogou a bacia de barro no chão, e agarrou o queixo de Elisie puxando-a para cima, ela abriu os olhos, porém como das outras vezes, ela viu somente uma silhueta difusa. Mas de alguma forma naquele rosto escurecido ela viu um sorriso de ódio. ― Você não precisa saber. Apenas morra! Morra infeliz. ― outra silhueta surgiu na porta, sua imagem foi quase nítida. Era um jovem bruxo. ― Mãe, não mate ela, o mestre tem planos, essa ai precisa está perfeita no dia. ― a mulher soltou instantaneamente Elisie, e se virou como se estivesse lutando para não matar a princesa e sumiu pisando duro. O bruxo se aproximou, chutou alguns das várias bacias quebradas de barro junto com a comida mofada de vários dias no chão, e se inclinou para ela pousando as mãos nos braços da cadeira. ―Você não pode ficar quieta? Está pior que os imbecis lá embaixo. ― Por favor, me tire daqui, eu te darei ouro, te darei trezentos dakios de ouro, com isso você pode comprar uma ilha, barcos e muitos animais. Por favor, deixe eu e minha família ir. ― Você quer salvar sua família? ― ela balançou a cabeça em uma afirmação desesperada. ― Pois bem, a mãe e o mestre são a minha a minha família, e naturalmente eu também quero salvar minha família. ― finalizou soprando seu hálito de cerveja no rosto dela e se foi fechando a porta gritante. E mais uma vez ela estava sozinha na escuridão, sentindo o cheiro de barata, comida podre e seu próprio suor de vários meses. Tinha tanto medo em seu ser, que por mais que repetisse: sou corajosa, isso de nada adiantava. 

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