Capítulo 17

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― Comprei as últimas folhas de carvalho amarelo... ― começou o Cordial entrando no quarto segurando o saco de remédio, no entanto parou ao notar Elisie na varanda olhando bobamente para Alex que lhe segurava o rosto, carinhosamente. 

A voz do Cordial sumiu, o peito deu uma brusca batida como a queimadura de um peixe relâmpago. Ele deu um passo até eles, porém assim que se moveu Alex se aproximou mais, o nariz brincou com o dela em uma carícia suave, fazendo-a sorrir mais ainda, uma lágrima escorreu de seu olho, e então ela se esticou para que ele a beijasse. 

Dixon deixou cair o saco, as mãos começaram a tremer como se estivesse tendo convulsões, e um não mudo e trêmulo ficou entalado em sua garganta, preso entre a fúria ensandecida de Gomon que o estava matando e a sua própria fúria. Ele apertou o peito antes de cair no chão cuspindo sangue, as veias negras do peito se esticaram pulsando até o pescoço dele rubro de agonia. 

Nunca tinha sentido tanta dor em toda a sua vida. As garras surgiram em altos estalos de ossos se partindo, os dentes do mesmo jeito, e sangue escorreu dos orifícios de seu corpo como um pudim cheio de recheio sendo esmagado, as lágrimas também se converteram em sangue e da boca a fumaça negra e grossa saia e se tornava correntes de fumaça sólida que rodeava o jovem caído, ela por fim se fechou entre ele, o acorrentando tão fortemente até que se quebrou depois dos gritos horrorosos dele, o som dela se partindo fez Elisie e Alex finalizarem o beijo e encararam o homem banhado de sangue, sem garras, sem olhos brancos ou azuis e sem Gomon. 

Apenas um humano quase morto estirado no chão gemendo em uma tentativa de pedir que alguém o matasse e o livrasse dessa dor maligna. Levou exatamente quatro dias para que o Cordial acordasse. Assim que abriu os olhos chorou como uma criança emocionada por receber um lindo e desejado presente. Ele se levantou e com as mãos apertadas contra o peito gritou na varanda: 

— Meu coração bate, ele bate como o de todos. Recebendo respostas óbvias de comerciantes mal humorados que o encaravam como se ele fosse um louco, e de fato parecia um louco, porém um louco feliz. Depois ele abraçou Elisie girando-a no ar, gritando que seu coração batia agora, mas então ele se lembrou do beijo de sua esposa com seu primo.

 E o sorriso belo se foi dando lugar a sua rotineira face de defunto e ele a soltou, e se virou para que ela não notasse suas bochechas rubras pelo sangue agora em excesso que circulava em seu rosto pálido. Logo em seguida, ajeitou a postura e contou que voltariam para Vrisan na manhã seguinte. Alex se aproximou, sério e praticamente ordenou que o príncipe falasse com ele a sós. 

 ― Você é humano agora, está livre daquela tortura. Então eu e Elisie partiremos para a ilha de Olivis quando chegarmos a Vrisan. ― o Cordial se virou para o primo, por um momento levou a mão ao peito por reflexo achando que a dor iria cutucá-lo, todavia nada aconteceu, ele engoliu em seco e disse quase em um sussurro:

 ― Entendo. Vocês conversaram sobre isso, presumo... acho que ela está de acordo, não é? ― Vossa alteza não fará nenhuma objeção? Ou negará nossa ida pelo fato de que eu não o levei até a bruxa? ― Alex o olhou com desconfiança, querendo arrancar a verdade do Cordial que ele se impedia de ver.

 ― Do que adiantaria? Ela quer ir com você... Além do mais, de que utilidade ela será para mim agora que não preciso mais de seu amor? Podem ir... eu não me... importo.

 ― É isso que você quer, Leican? É realmente o que você quer? Tem certeza disso? ― Dixon fez uma careta de insatisfação, o desejo de socar o rosto imaculado de Alex o estava deixando com as mãos dormentes, ele cerrou os punhos.

 ― O que mais eu poderia querer além de ser um humano? Não entendo aonde você quer chegar, Alexyan.

 ― Onde eu quero chegar? Na verdade, apenas na verdade. ― o príncipe caçador parou assim que curvaram em um beco deserto, e antes de continuar ele empurrou o Cordial contra a parede: 

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