Chegou de repente, no improvisar das quintas-feiras.
Veio na embolada das marolas e do sargaço,
corpo curvilíneo dos saveiros,
a voz um coro de sereias,
os cabelos dançando à luz de sete mil sete-estrelos.
Tinha olhar traiçoeiro, de amor nenhum,
bailado de cobra-norato,
gume de faca de cor verde-azul.
Fui sendo levado por teus caprichos e carinhos,
naufragando no mar de teus personagens...
Era Natella, Hécate, Macário e Macunaíma no mesmo palco.
Iemanjá, Obá, Anhangá, Kerpimanha e Oxum na sela de um só cavalo.
Mas ela partiu no clarão do luar.
E eu voltei sozinho, na boca da madrugada,
da beira-mar à areia,
da areia ao Leme,
do Leme ao quarto de treva enlutada.
Não me lembro do gosto de teus lábios,
nem do calor de seus abraços.
Mas lembro do azul de suas unhas,
azul nos pés e gêmeo azul nas mãos.
Tanto azul em torno dela:
no oceano, no céu, no chão.
Azul em tudo...
Menos no coração.
Era tudo um sonho vagabundo, fogo-de-santelmo, desdita.
E hoje eu creio,
mirando a lua de aro prata que vai e vem em meu devaneio,
que tudo não passou de brisa fingida.
Tudo se foi como veio.
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Carne de Trópico
Non-FictionNão, não escrevo isso para vocês. Faço isso em uma exclusiva e patética homenagem aos inúmeros diálogos que tive comigo mesmo no silêncio dos quartos de hostéis emporcalhados, nos vôos turbulentos de um hemisfério ao outro, nas praias escondidas, na...