A Pesca

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   Quando era mais novo eu costumava pescar com meu pai. Na região em que vivia corria um rio largo de média profundidade. Nunca fui o rei da vara ou algo do tipo, mas de tanto viver entre aqueles homens velhos que faziam daquilo seus hobbies, eu acabei aprendendo alguns macetes de como fisgar um peixe, e alguns deles se aplicavam em qualquer situação da vida.

   Quando tinha por volta dos 13 anos de idade me apaixonei por uma garota chamada Joana. Essa menina era um mistério. Ela não era a mais feia, muito menos a mais bonita. Ela não era a mais chata, muito menos a mais legal. Ela não era desengonçada, muito menos a mais sexy ... mas ela era diferente. Ela era aquela garota normalzinha que se destaca entre todas as bonitas e feias de um recinto, aquela que todos sabem que tem uma beleza diferente, mas ninguém consegue explicar. E infelizmente eu me deixei apaixonar por aquela garota. O que realmente me fazia ser fissurado nela era seu jeito de olhar e seu modo de andar, e os dois juntos se casavam de uma forma convidativa a um safári de emoções. Ela caminhava como se suas pernas soubessem pra onde ela deveria ir, mas seus olhos não, então tudo pra ela era um brilho diferente naqueles olhos negros, como se a novidade e o encantamento da mesma estivesse em tudo, mesmo se aquela coisa já fosse rotineira pra ela.

   Joana acabou se interessando por mim também, e não conseguia entender o porque. Existiam vários garotos na minha sala, e a maioria com atrativos maiores que o meu. Uns faziam parte do time de futebol, outros surfavam com frequência no litoral do estado, tinham até os que faziam parte do grupo de teatro da escola ... e eu, um garoto nerd que adorava fazer todos rirem com piadas em momentos inadequados. Não sei se foi o humor ou a inteligência, mas não importa qual dos dois fosse, eram critérios de escolha muito evoluídos para uma garota daquela idade.

   Eu e Joana começamos uma espécie de namoro as escondidas, onde nós só nos víamos as quartas e sextas, das 16h às 19h, por conta de sua agenda cheia. Era de extrema importância que ninguém soubesse de nosso "relacionamento" e por isso não podíamos nos tratar como mais que colegas dentro da escola, pois, segundo ela, se a mãe descobrisse de tal caso ela iria pedir transferência para outra escola, não me pergunte o porque, mas é isso.

    Mas por quê estou tentando juntar pesca, Joana e minha vida atual na mesma coisa? Porque um dos macetes que aprendi se chama: 4 fatores. E eles são: O pescador, o peixe, o rio e a isca. E sim, isso tem explicação em minha história com Joana.

   Depois de uns 3 meses de "namoro" com essa Joana ela disse que iria passar um fim de semana em sua avó, no interior de Espírito Santo, e por conta disso iria precisar se ausentar em nosso encontro de sexta. E alí foi a última vez que vi o rosto da "menina mistério", que mesmo me relacionando por um tempo com ela, não sabia nada de sua vida, apenas de seus gostos musicais e hobbies.

O rio ... com sua nascente na escola, seu intermédio nos encontros e seu fim ao se encontrar com a partida de um amor juvenil.

O peixe ... eu, fisgado por um amor que não existia mais em minha vida, e mesmo sendo invisível aos olhos era estonteante a dor dentro de mim.

A isca ... o mistério daquela garota. O que fez eu e mais meia dúzia de garotos ficarem caídos por aquela menina.

E o pescador ... ou pescadora, Joana. Que em nenhum momento deixou a parecer para ninguém que namorava quase todos da sala separando algumas horas de sua semana para cada um deles.

E no final, é exatamente como uma pesca ... joga-se a isca, você morde a morde e depois anseia que tudo aquilo acabe, mas quando voltamos ao rio, morderemos outras iscas. Mas não será mais assim. Decidi ser pescador ao invés de pescado.

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   Como um anjo adormecido ela está na minha cama. Espero que ela tenha gostado da noite passada, porque com certeza pra mim foi inesquecível. A tempos não conhecia uma tão boa assim.

   Desci as escadas afim de passar um café. Enquanto colocava o filtro, o pó e assistia a água esquentar, uma cena passou como flash em minha cabeça.
Era ela. Deitada em minha cama, exatamente como estava naquele momento, mas dessa vez banhada por sangue, como se uma carnificina tivesse acontecido naquele quarto. Fiquei assustado e apreensivo com aquela "visão", algo ruim estava por acontecer. Em meio a distração e pensamentos sobre o que era aquela imagem que me transtornou, levei um baita susto, ela se debruçou em meu ombro e disse:

   - Buuu!

   QUE PUTA SUSTO!

   Acabei derrubando o pó que eu estava colocando no coador, todo em cima de mim ... fiquei com tanta raiva que arremessei longe o coador com o pó dentro.

   Quando caiu a ficha do que tinha feito eu me senti envergonhado. Com vontade de enfiar minha cabeça num buraco, igualzinho a um avestruz. Ridículo. Não tinha necessidade de fazer aquilo, foi só um sustinho de brincadeira, acho que por conta daquela imagem que deslumbrou minha mente esse susto teve esse impacto totalmente negativo, mas não tão negativo quanto minha ação agressiva e infantil.

   A vergonha era tanta que nem tinha coragem de virar para encará-la. Mas alí era meu lugar, meu papel, minha ocupação ... e por honra e caráter deveria me desculpar. Passei por cima de qualquer vergonha, estufei o peito e me virei para me desculpar. Seu rostinho triste, seus olhos brilhando em um quase choro e suas pernas tremendo fez com que eu à abraçasse colocando seu rosto no meu peito e meus lábios sobre sua cabeça ... acho que meu ato já serviu como desculpas, pois ela retribuiu o abraço, e assim ficamos por uns 40 segundos.

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⏰ Última atualização: Feb 03, 2020 ⏰

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