Víctor - 1 - E eu me ferro de novo

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Ok, ok. Eu sei o que você deve estar pensando: o que eu estou fazendo?! O que eu estou pensando?!

Peço que não me odeie e nem me bata, por favor.

Para lhe ser bem sincero, nem mesmo eu sei bem o que estou fazendo desde que decidi entrar na história desta família. Mas sei que a cada ato eu me embolo mais. Tantos nós, que acredito ser difícil desfazê-los daqui uns tempos.

Sério, meu dom deve ser entrar em todas as encrencas possíveis, se voluntariando para isso. Só pode ser...

No entanto, não posso falar que me arrependo de alguma coisa. Não. Eu sei os motivos das enrascadas que venho entrando. Sei os meus objetivos. Mesmo Leh não concordando. Ah Leh... minha irmã caçula desengonçada e ligeiramente ciumenta de uns tempos para cá... e que andou fazendo besteiras pelo modo que Jaqueline falou... vou ter que ter uma conversinha com ela...

Você quer saber a verdadeira história do passado dessa menina minúscula e maluca, não é? Maluca não seria bem o termo correto... pois de acordo com um ditado que ouvi de um terráqueo certa vez foi que "de bobo e louco, cada um tem um pouco". Jaqueline não era maluca. Assim como vários de nós neste mesmo Universo, ela era apenas uma menina incompreendida pelos tais "normais".

Não posso lhe contar isso tudo agora, pois ficaríamos talvez dias debatendo. Mas posso lhe adiantar, que parte da vida antiga de Jack... quer dizer, Jaqueline... também teve a ver com a minha antiga vida.

Só isso e nada mais. É... estou em missão difícil.

Bem, e lá vamos nós para o que realmente interessa agora: levar Allan de volta para sua vida pacata.

Acordei cedo. Cedo demais. Cinco horas da manhã. Não consegui dormir direito após um sonho que tenho desde minha infância. Um pesadelo, na verdade. Eu me encontrava no escuro, sozinho. Mas algo me dizia para ficar ali... eu tinha que esperar por alguém. Eu ouvia barulhos estranhos ao meu redor, barulhos que me davam medo, mas eu não podia sair. Tinha que esperar...

E então aqueles gritos recomeçaram como sempre faziam. Gritos femininos estridentes e agoniantes. Eu sabia muito bem de quem eram. Mamãe gritava como se sofresse muito. Eu queria muito ir até ela, descobrir o seu rosto que fora esquecido dentro de mim há muito tempo. Mas eu tinha que esperar... esperar. Não podia sair.

Porém, os gritos mudaram. De adultos passaram para infantis e dessa vez me chamavam com força.

-Víctor! Víctor! Não! Me ajude! -gritos de uma pequena menina talvez. -Não me deixe!

Saia Víctor, vamos lá! – meu subconsciente falava. Eu bem que tentei. Mas não conseguia. Eu não podia ajudar ninguém. Eu tinha que aguardar.

-Por favor... Víctor! – o grito foi estridente e tão agoniante para mim, que acordei sobressaltado, ofegando na escuridão do quarto ao me lembrar do motivo daquele grito em especial.

Passei a mão nos cabelos caídos em minha testa suada, e olhei para o lado, observando o garoto preocupado e temeroso dormindo em um colchão flutuante do meu lado.

Allan finalmente conseguira descansar, mas eu duvidava que dormia profundamente. Observei-o por um momento. Não o conhecia tão bem como eu queria, e ainda sim apagaria o pouco que conheceu sobre mim, sobre tudo o que vira.

Jaqueline me achava um monstro, e eu não discordo. Eu faria ela perder sua única amizade. Eu era sim, um monstro voluntário. Me sentia assim porque já havia passado por esta situação. Perder um amigo... Dizem que nada ou ninguém é insubstituível. Palavras terráqueas... eles realmente não sabem o que fazem...

Guerreiros de Argon -Floresta dos AnjosOnde as histórias ganham vida. Descobre agora