Allan parte 2 - E lá vamos nós para outro problema

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Eu estava tão fascinado pelas histórias que escutei desde que acordei, que a todo momento que olhava para Jack, me caía a ficha de que ela fazia parte delas e que não era apenas uma ouvinte.

Assim, quando Letícia perguntou tranquilamente a ela, em que animal minha amiga se transformava, tive que me lembrar de novo que ela era um deles, e que isso deveria ser natural... pelo menos para eles.

No entanto... Jack parecia tão assustada quanto eu por ser questionada. Tenho que dar crédito, eu já achava bem louco ela soltar ventos pelas mãos e poder fazer outras coisas mais...

-E-eu... não sei. Não possuo... nenhum animal...de ligação. -respondeu ela um tanto mortificada por não saber o motivo de não ter nada daquilo.

-Como assim? -Letícia questionou. -Todo argoniano recebe sua ligação assim que se torna digno de merecê-la.

- Eu não recebi nada... então... não a mereço?

Os ombros de Jack murcharam e seu rosto confuso ficou pensativo e tristonho. Víctor, que também a observava, engoliu o que estava mastigando e olhou de modo estranho para a irmã.

-É claro que você a merece. -murmurou consertando. - Todo argoniano a recebe. -ele olhou para irmã fuzilando-a de leve. -Por mais tardio que seja. Você vai receber o seu Jac... am... Jaqueline. -seus olhos se desviaram quando ele quase a chamou pelo apelido. E isso fez com que uma pontinha muito comichosa de curiosidade, surgisse em minha cabeça.

Os olhos de minha amiga se ergueram para ele, a dúvida e a esperança se misturando naquela escuridão de olhos.

-Você acha? -sua voz trêmula me comoveu. Passei meu braço ao redor de seus ombros e tentei confortá-la da melhor maneira que pude. Mesmo eu não sabendo muito o que fazer para melhorar o ânimo de uma argoniana.

-Tenho certeza. -Víctor respondeu com um sorriso torto. - A sua hora vai chegar. Não se preocupe.

Ela sorriu, um pouco mais aliviada e com a guarda um tanto já reduzida. Então se virou para mim e sorriu ansiosa, e tudo o que fiz foi sorrir também, maravilhado por tudo aquilo de natureza "impossível" estar se realizando bem diante de meus olhos.

Víctor se levantou recolhendo os pratos, -desta vez com as próprias mãos- e os levou à pia, começando a lavá-los.

Sorri secretamente adicionando a minha lista de prós, os itens:

· Cozinha bem;

· Ajuda na limpeza (Fantástico!);

Incrível como esses detalhezinhos só me faziam observar mais aquele garoto tão estranho e ao mesmo tempo tão... bonito... legal... um pouco teimoso e sarcástico, mas isso era de certo modo um charme.

Olhei para Jack para ver se ela observava o mesmo que eu, mas como sempre... Minha amiga parecia alheia a tudo que fosse do sexo oposto.

Ela olhou para a janela e exclamou:

-Nossa! Já anoiteceu? Passou tão rápido...

Víctor acompanhou o seu olhar e suspirou, terminando de lavar os últimos talheres.

-As coisas não devem estar muito boas lá no Centro. Seus pais estão demorando muito para voltar.

Olhamos para ele imediatamente, nos recordando de minha incrível e mais degradante situação: sem mãe por perto, em outra dimensão e sendo considerado intruso.

Lutei para não entrar em desespero de novo e Jack segurou minha mão, como se lesse meus pensamentos. Quando olhei para seu rosto, ela me dirigiu um sorriso solidário, subentendendo que tudo ficaria bem. Tentei sorrir, mas minha preocupação havia voltado à tona.

Guerreiros de Argon -Floresta dos AnjosOnde as histórias ganham vida. Descobre agora