Capítulo 39

134 23 90
                                    

O céu escureceu sem que Aurora e percebesse. Passa rum tempo com Carlisto lhe trouxe uma paz que há tempo ela não sentia. Durante todo o tempo em que esteve aprisionada ao cabaré, sua meta era de ter uma casa tranquila com sua irmã.

Martin havia conseguido um advogado para acompanhar o caso da jovem, no entanto, explicou o necessário, sem entrar em detalhes para que ela não ficasse exposta. Logo pela manhã eles pediriam uma autorização ao juiz para poder ver as gravações e o controle de entrada e saída do hospital.

Durante a volta para casa, Aurora permanecera calada. O fato de dela ter descoberto que o delegado era pai da falecida esposa de Will, a deixou confusa e indecisa. No fundo ela estava com medo. Medo de ter se aliado ao inimigo, porém a imagem do primeiro dia em que viu Will insistiam em lhe dizer o contrário.

O filho de Cassandra estava nitidamente incomodado com a falta de diálogo entre eles. Tentava em vão puxar algum assunto desistindo logo que ousava abrir a boca. Aurora sabia ser fria quando estava nervosa e o que ele menos queria era sentir seu coração pesado, pelo menos não naquele momento em que estavam convivendo juntos.

Entraram na casa e Aurora foi direto ao quarto tomar um banho. Enquanto isso, Will decidiu preparar algo para comerem, e como de costume, tirou a camisa, pois ficava mais confortável sem ela na cozinha.

Assim que a comida ficou pronta, Will cogitou que a jovem não quisesse sair e, por isso, decidiu chama-la. Bateu na porta, mas não obteve resposta, abrindo-a em seguida. Ela estava sentada na cama olhando para fixamente o chão. Estava pensativa e o rapaz temeu tirá-la de seu momento. Os cabelos molhados soltavam gostas de água pelas costas e braços de Aurora, mas ela pareceu se incomodar.

— Eu fiz um macarrão para nós. Eu... pensei que pudéssemos comer enquanto conversamos sobre aquele assunto. Mas se preferir eu trago pra você comer aqui.

Aurora suspirou e olhou para Will. Ela não tinha uma expressão de que estava com raiva ou chateada, mas mantinha uma expressão vazia da qual William não conseguiu decifrar o que significava. Ela se levantou saindo pela porta, esfregando-se no corpo do rapaz sem dizer uma palavra.

Sentou-se a mesa que já estava posta, mas não quis comer.

— Quero que me conta tudo o que sabe. Eu preciso saber se durante todo esse tempo eu não me enganei quanto a você.

Will engoliu seco e sentou-se a frente de Aurora.

— Não quer comer primeiro?

— Prefiro evitar a indigestão, caso isso venha a ocorrer.

— Mia era minha esposa. Nos conhecemos em uma almoço que mamãe havia preparado em casa. Minha mãe era amiga da esposa de Juan há muito tempo, então as visitas de Juan e de Mia tornaram-se mais frequentes. Na época o Red Blush não era o que é hoje. Ele era um cabaré, mas não funcionava como prostíbulo. Tinha música e dança, algumas peças de teatro, as pessoas adoravam. Meu pai era um palhaço de circo e quando este faliu, decidiu abrir o próprio negócio. Meu tio, Lorenzo, trabalhava com ele como mágico. Então papai morreu e eu me casei. Meu tio simplesmente sumiu. Não tivemos mais notícias dele por um bom tempo. Daí eu me casei, Mia ficou grávida um ano depois, tempo suficiente para o Red Blush tomar forma e ser o que é hoje. Eu fiquei indignado com tudo aquilo e disse que os denunciaria, que jamais faria parte daquilo. Fiquei sem chão quando soube que minha mãe e meu irmão, pessoas das quais eu admirava, nutria amor e carinho, não valiam nada. Mas o pior ainda estava por vir. O cabaré ainda era novo e precisavam de alguém de confiança para trabalhar, meu irmão foi forçado por algum motivo especial que eu juro que eu não sei, e em seguida foi a mim, ameaçaram matar Mia ou esperariam Clair nascer para vende-la. Parecia estar vivendo em um filem de terror. Por causa disso, não ousei contar nada a Juan, temendo pela vida da minha família. Como eu disse, Mia foi diagnosticada com um câncer logo que nossa filha nasceu e as chantagens e manipulações aumentaram. Minha sogra não aguentou a morte da filha e morreu em seguida. Foi o pior ano da minha vida. Lembro-me da primeira vez que trabalhei no Red Blush, sentia pena das dançarinas e nojo daqueles que frequentavam tal lugar. O ambiente estava cheio, mal conseguiam se mexer. Naquela época a casa era novidade no bairro e na região, mas eu vi, sem ter certeza absoluta, um rosto familiar. Era ele, era Juan. Em pé, olhando fixamente as dançarinas. Ele se virou e nossos olhos se cruzaram. Senti que ele havia ficado incomodado e no mesmo instante ele saiu. Fiquei com medo de ir tirar satisfação e tentarem algo contra minha filha, mas eu nunca mais o vi por lá.

Red Blush - O cabaréOnde as histórias ganham vida. Descobre agora