Capítulo 4

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O quarto era branco, seu lençol era azul bem claro e o único som que se ouvia eram a das batidas de seu coração no monitor. Aurora abria os olhos com dificuldade, piscou várias vezes e teve a visão distorcida. Sentiu uma dor de cabeça e um peso em seus quadris.

Finalmente abriu os olhos e estranhou o ambiente e principalmente o motivo pelo qual estaria ali. Levantou-se com certa dificuldade e percebeu que estava com o soro perfurando sua veia. Nem se deu conta de que seu pai estava parado ao seu lado com os olhos compenetrados.

Foi então que ela passou os olhos no quarto onde estava e viu seu pai. Demorou alguns segundos para raciocinar e então se assustou no mesmo instante, esquivou-se como um gato arisco e como se quisesse refúgio em seu próprio corpo. As batidas do deu coração aceleraram e o terror em seu rosto era nítido.

– Estranho. Não estava com medo quando mentiu para o seu pai. – Charles era irônico.

Aurora engolia em seco.

– Desculpa. – suplicou num sussurro. Charles riu debochadamente.

– Sabe muito bem que eu lhe daria um baita de um castigo, não sabe? – Aurora consente com a cabeça ainda sentindo seu corpo todo tremendo. – Mas alguém já se encarregou de fazer isso por mim.

– Do que está falando?

– Não se lembra? – Aurora balança a cabeça negativamente. – Você foi estuprada, minha filha.

– Eu fui... – Na mesma hora as lembranças ecoaram. Ela implorando para que o rapaz a soltasse, e todas as carícias forçadas que ele fazia a ela. Aurora estremeceu novamente e começou a chorar descontrolada. Charles podia sentir pena de sua filha naquele momento, mas ele via aquilo como uma punição pela mentira de sua filha, mesmo que fosse capaz de matar o infeliz que ousou fazer isso com Aurora.

– Isso Aurora, é pra você aprender que não se deve desrespeitar o seu pai. Jamais. Agora pare de chorar, daqui a pouco a policia virá aqui colher depoimento. O rapaz fugiu e ninguém sabe dizer quem é. – Charles se aproxima ainda mais do leito. – Você ainda teve a audácia de usar uma roupa de sua mãe, tem ideia da vergonha que ela deve estar sentindo neste exato momento?

Aurora estava como se fosse obrigada a carregar uma tonelada nas costas. Ela só queria chorar e soluçar. Estava com medo e se sentia vulnerável, ao mesmo que tempo que tinha nojo de si mesma. Ela encolheu os joelhos em posição fetal e murmurava coisas sem sentido. Sua cabeça e seu corpo doíam, mas seu coração latejava.

Charles decidiu que era melhor acalentar sua filha antes que achassem que ele fosse desnaturado o suficiente para sentir prazer em ver sua filha sofrer. Apesar de tudo ele a amava, mas não o suficiente para ser bondoso, apenas para cumprir o papel de pai. Um papel amassado, quem sabe.

– Já chega Aurora! – ele coloca a mão no ombro de sua filha e ela se esquiva de seu toque. Estava com ódio de seu pai por não lhe dar amor naquele momento em que seu mundo estava desmoronando.

Algumas horas se passaram e o choro havia cessado, mas não o remorso, não a sensação de que tudo havia acabado. Ela ainda estava na mesma posição, admirando o nada e com a mente vagando. Seu peito ainda estava cheio, seu medo ainda a consumia, mas se sentia oca por dentro. Raciocinar era difícil, tentar achar alguma solução para tudo àquilo era impossível. Se ela pudesse voltar no tempo, não pensaria duas vezes, mas já era tarde. A melhor solução talvez fosse ter morrido ao invés de carregar esse trauma.

– Aurie? – A voz de Melany preencheu o ambiente e Aurora reagiu. Percebeu que não poderia abandonar sua irmã tão pequenina e tão frágil. Não seria capaz de deixa-la sozinha com seu pai. Ela se levantou rapidamente e Melany soltou as mãos de seu pai para abraçá-la. Melany seria para sempre o seu consolo.

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