Capítulo 25

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"Meu pequeno anjo,

Sei que faz muito tempo que eu não te chamo assim, mas é que agora você já não é mais tão pequena, pelo contrário. A cada dia cresce um pouco mais, seja em estatura ou personalidade.

Se estiver lendo essa carta, é bem provável que eu esteja morto e que Meg obedeceu às minhas ordens, mas principalmente, que você foi capaz de me perdoar.

Sei que nesses últimos anos eu não fui um bom pai. Tornei-me um homem arrogante, autoritário, e passei a agir feito um idiota, porém, isso é pouco perto do que você e sua irmã presenciaram.

Aurora, minha filha, há muitas coisas em nossa família. Muitos segredos que por muito tempo foram escondidos e que agora é o momento de ser revelado, pois já é uma moça adulta e talvez formada. Porém, antes de mais nada, quero implorar o seu perdão. Pode parecer bizarro, mas eu tentei fazer de tudo para que você tivesse uma vida melhor e fugisse de um sonho que lhe traria problemas. Eu não queria que a história se repetisse, e por isso, fui extremamente irredutível ao te obrigar a seguir a carreira de direito.

Aurie, vou lhe contar uma história. Algo que nunca pode imaginar, mas que talvez possa justificar boa parte das minhas atitudes e te fazer ter uma visão diferente das coisas. Não sei como você se encontra neste momento, se está feliz, ou permanece em silêncio, aguentando o sofrimento calada, mas com certeza é muito amada e cuidada por Meg. Sei que há cicatrizes em sua alma, extremamente profundas e é por isso que chegou a hora de você saber toda a verdade.

Sua mãe era uma prostituta. Sim, não é brincadeira ou algum xingamento. Ela trabalhava em uma boate em Los Angeles. Eu estava iniciando a vida adulta, mas ainda buscava pela diversão, quando então, eu a encontrei. Com um vestido vermelho justíssimo, dançando sensualmente. A beleza de Helena era estonteante, os cabelos loiros e os olhos azuis tão intensos que me apaixonei de imediato e, na primeira oportunidade, nos entregamos a uma profunda paixão.

Helena havia se tornado a minha vida, o meu refúgio e a minha alegria.

Naquela época eu ganhava bem e seu avô havia acabado de falecer me deixando uma herança grandiosa e eu investi o que foi necessário para poder tirar sua mãe de lá. Num primeiro momento pode parecer chocante, mas foi a única ideia que tivemos, pois fugir era arriscado demais.

Então nós passamos a ter uma vida tranquila, eu era um grande empresário e Helena, uma bailarina exímia, passou a dar aulas para crianças e a trabalhar em uma casa de dança, mais conhecida como Dancing – quase como um circo ou uma espécie de teatro. Eu nunca entendi o que realmente era aquele lugar, mas ao contrário do outro, não funcionava como um prostíbulo.

Quando sua mãe engravidou e eu soube que seria uma menina, eu enlouqueci. Nós teríamos uma filha, fruto de um amor intenso e profundo. Helena se emocionava a cada mês, porque acreditou que jamais poderia ser concedida com tamanha graça. Era um sonho em que ela jamais pensou em realizar. Sua alegria, era a minha alegria.

Então você nasceu. Tão igual a sua mãe. O mesmo jeito doce e carinhoso, e confesso, um pouco tinhosa. Uma criança linda, o meu pequeno anjo. Em seguida, veio Melany, mais uma alegria em nossas vidas até que tudo aconteceu. A gravidez tornou-se arriscada e a vida da sua mãe e de sua irmã estava comprometida. Eu disse a Helena para abortar, mas ela não quis. Não que eu quisesse também, mas a possibilidade de perder a minha esposa me torturava a cada dia, a cada consulta ao médico, a cada vez que ela passava mal.

E quando ela se foi, eu perdi o chão. Meu coração havia sido enterrado junto ao dela e eu não tinha forças para seguir em frente. Eu fracassei na minha promessa de cuidar de vocês duas, de dar amor e carinho a vocês. Você foi crescendo e a sua vontade de querer seguir os passos de sua mãe me corroía por dentro com medo de acontecer o mesmo que aconteceu a ela. No fundo eu não queria lembranças de Helena e te proibir de dançar me poupava em partes.

Aí aconteceu o estupro e você engravidou. Assim como sua mãe, recusou-se a abortar. O jeito como você me enfrentou era como seu tivesse visto Helena a minha frente e talvez por isso, eu aceitei sua ideia.

Você estava feliz e eu via o quanto se esforçava para me agradar. Melina, de certo modo, era seu amparo, e assim como a sua irmã, um impulso para seguir a vida com os obstáculos que seu próprio pai colocou.

Porém, eu havia descoberto que estava doente e que poderia morrer a qualquer momento. Isso não me incomodou, pois eu iria ao encontro de sua mãe. Como se não bastasse, eu acabei me endividando com contas de jogo e prestações atrasadas. Sorte que Meg estava disponível para nós, pois minhas últimas economias foram para que eu não deixasse você arcar com as dívidas quando eu partisse.

Você era muito jovem. Praticamente uma menina iniciando a vida adulta, com um futuro brilhante pela vida. Nessa idade, ter que lidar com tantas responsabilidades e com um trauma em sua vida, era sofrimento demais. Sofrimento que eu gostaria de lhe poupar quando eu partisse. Mas eu estava errado. Acabei trazendo um sofrimento ainda maior a você e tenho certeza que é o pior de todos.

Sua Melina, minha neta, era um bebe adorável, e mesmo eu, cego e sem coração, era capaz de sentir o quanto aquela menina, mesmo não sendo planejada, era especial. Eu a segurei em meus braços e a vi toda frágil em meu colo. Eu queria odiá-la, mas não consegui, e mesmo assim, eu agi feito um idiota, porque na minha cabeça, era a melhor coisa a se fazer.

Você tinha razão. Melina nasceu forte e saudável, e vai por mim, com um ótimo pulmão. Os olhos azuis intensos e os cabelos intensamente loiros. Lembrava você quando criança.Mas eu não podia permitir tamanha responsabilidade em sua vida. Não havia como imaginar que Meg nos ajudaria, que ela estaria lá. Como você cuidaria de sua irmã e de um bebê com apenas dezoito anos e sem nenhum dinheiro? Do que viveriam? Seriam três a passar fome e seria crueldade demais fazer isso com um bebê. Porém, depois, quando Meg nos acolheu em sua casa, meu coração apertou e eu tentei voltar atrás, mas já era tarde.

A essa altura já deve ter entendido o que eu quero dizer. Sim, meu pequeno anjo, Melina está viva. Viva em algum lugar do mundo com outra família. E quer saber mais? Minha monstruosidade foi tamanha que fui capaz de vendê-la. O preço foi generoso e deu para sanar algumas dívidas. Não sei te dizer quem era a pessoa que a acolheu, mas ela vestia uma camisa vermelha e tinha os cabelos castanhos, é somente isso que eu sei. O atestado de óbito e o enterro, foram forjados para que você acreditasse.

Sei que nesse momento você voltou a me odiar novamente, e eu não a culpo por isso. Mas não desista de encontrá-la, por mais difícil e dolorosa que seja a caminhada o final será compensador.E se ainda puder, me perdoe. Eu, junto com a sua mãe, tentaremos lhe colocar lado a lado com ela. Seremos seus protetores. É só ter fé. Não perca as esperanças e não deixe que as dificuldades da vida lhe arranquem o amor, assim como eu permiti que isso acontecesse a mim.

Melina e você estarão sempre ligadas, onde quer que estejam. O coração de vocês é um só.

E com isso, eu me despeço, sabendo o quão odiado eu sou. Porém, nunca duvide do meu amor por você e sua irmã, mesmo de um jeito torto e até cruel. Dizem que nunca é tarde para se arrepender, então talvez, em algum momento, você possa me perdoar.

Charles".

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Capítulo extra para o feriado, recheado de emoções. O que será que vai acontecer agora?

Bem amores, amanhã tem mais, espero vocês.


Beijoooos

Red Blush - O cabaréOnde as histórias ganham vida. Descobre agora