Capítulo 24

135 26 46
                                    



"Olhos azuis

Encantadoramete azuis

Azuis como o inimigo

Azuis como o de Melina

Azuis como..."

Na manhã seguinte Aurora recebeu uma ligação do hospital informando que Meg teve uma parada respiratória, mas que por sorte conseguiram contê-la. Sem pensar muito, decidiu que veria a antiga enfermeira e tentaria visitá-la com mais frequencia já que cada dia poderia ser o último.

Ela estava desacordada e, antes de entrar, o médico explicou sobre o estado dela, dizendo que seus órgãos estavam paralisando aos poucos. Por um instante, a jovem culpou a si mesma por não ter dado mais atenção a ela, e mais uma vez xingou internamente o cabaré, por lhe limitar o tempo.

Assim que viu Meg inteiramente entubada, aparentemente num sono profundo, seu coração gelou. Sua segunda mãe estava partindo sem que ela pudesse dizer qualquer coisa. Era como se a ficha houvesse caído naquele instante, dando-se conta do quão importante e essencial era Meg em sua vida. Foi tudo tão repentino que Aurora não teve tempo para se preparar.

O hilário em todos os momentos da vida de Aurora é que a cada dia, uma surpresa, e mesmo sabendo que sempre eram ruins, não deixava de sentir a mesma coisa, sempre – desespero, solidão.

Sentou-se ao seu lado e segurou em suas mãos, sentindo as emoções invadirem.

– Oh Meg! Eu sinto muito pelo seu estado. Sei que pode parecer bizarro o que eu vou dizer, mas eu é quem deveria estar no seu lugar. Pessoas boas não merecem sofrer, mas eu, eu meio que nasci destinada a isso. Deus me tirou amores essenciais na minha vida e eu me vejo prestes a perder mais um. Mais um anjo que estará olhando para mim. Eu quero dizer que eu amo você e que estarás sempre em meu pensamento e no meu coração. E acima de tudo agradecer por ser essa pessoa de extrema importância na minha vida. – secou as lágrimas. – Não sei o que será de mim sem você, e eu temo a cada dia por sua vida. Não estou pronta para dizer adeus. – soluçou. Engraçado que nesse momento, talvez meu pai tivesse razão em tudo o que ele disse e fez, ou pelo menos quase tudo. Se eu tivesse me dedicado aos estudos e largasse esse sonho idiota que agora tornou-se um pesadelo, eu não estaria no inferno o qual eu me encontro. Se eu não o tivesse desrespeitado aquele dia na festa, a minha dignidade tinha sido preservada e eu não teria engravidado e muito menos perdido minha filha. Eu teria me poupado desse sofrimento, e, talvez papai estivesse certo novamente ao dizer que era melhor que Melina não tivesse sobrevivido por mais que me doa admitir isso. Ela não estaria passando pelo mesmo que Melany. Mas as vezes eu penso que se ela estivesse aqui, as coisas seriam diferentes. Passei boa parte da minha vida odiando a meu pai e, no entanto, ele esteve sempre certo.

Aurora mergulhou num sofrimento profundo. Chorou tentando aliviar a alma, mas nada parecia ser suficiente. Ela tinha certeza que a cicatriz em sua alma seria para sempre. Que ela teria um passado, um presente e provavelmente um futuro o qual a pisaria e a testaria até seu último suspiro. No fundo, desejava que adoecesse para se livrar de tamanho sofrimento.

Sentiu as mãos de Meg se mexer e suas pálpebras se movimentarem. Conteve as lágrimas e ficou apreensiva sobre a reação da mulher. Meg olhava Aurora com dificuldades e com os olhos fundos, preenchidos com olheiras profundas. A antiga enfermeira engoliu seco, várias vezes, como se quisesse dizer alguma coisa, mas sua voz não saia. O ânimo não lhe vinha.

– Meg não faça esforço, você precisa descansar.

– Seu... Seu...

– Shhh! Por favor! Não diga nada.

Red Blush - O cabaréOnde as histórias ganham vida. Descobre agora