Parte 2

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     Capitão DeVil de repente me puxa pela cintura e me ergue no ar, colocando-me sobre seu cavalo, não do modo como as damas da corte montam - com as duas pernas de um lado só -, mas da maneira como os homens montam - uma perna de cada lado do cavalo. Eu nunca tinha sido tocada por um homem antes e o Capitão não é nada gentil. Tudo sobre ele parece brusco e agressivo. Fico ainda mais surpresa e desconfortável quando ele também monta sobre o cavalo, passando os braços ao redor de mim para segurar as rédeas. Sinto seu peito em minhas costas e sua respiração em minha nuca. Nem sequer movo um músculo.

     - Vamos! - o príncipe ordena mais uma vez. Seus olhos pousam sobre mim, mas ele não parece incomodado em me ver tão próxima do Capitão.

     Nossa cavalgada ao palácio dura pouco mais de uma hora, de acordo com minhas contas - e eu tive muito tempo para contar, já que ninguém me dirigiu a palavra em momento algum. É minha primeira vez montando e eu já odeio. Minhas costas e pernas doem e parece que meu quadril está completamente paralisado. Para dificultar, o Capitão não parece conhecer os limites do espaço pessoal alheio.

     O ponto alto dessa viagem inesperada é quando atravessamos o jardim. Esqueço-me da dor em meu corpo e esqueço-me do Capitão. Tudo o que vejo são as flores exuberantes do famigerado jardim que cerca o palácio e elas com certeza superam todas as minhas expectativas. Um arquejo escapa de meus lábios e, quando viro o rosto para olhar para o lado direito do jardim, minha testa esbarra no queixo do Capitão. Rapidamente volto a olhar para frente, encolhendo os ombros. Estou a pouco de ter um ataque de pânico.

     - Rose de Vallahar! - o príncipe chama mais à frente, olhando para minha direção por cima do ombro. Ele está cercado por oficiais em seus cavalos de ambos os lados.

     - Você deve responder - o Capitão DeVil sussurra para mim.

     Meu coração bate muito forte.

     - Sim, alteza? - respondo ao príncipe.

     - Você gosta de flores?

     - Eu... sim, alteza!

     Ele sorri, tão contente que quase me convence a sorrir também.

     - Então você vai adorar o jardim do palácio!

     Não sei o que dizer, por isso simplesmente concordo sem olhar para o rosto dele. Quero chorar, mas estou com medo do que pode acontecer se eu  fizer.

     Em nosso reino, o rei Otavius é absoluto. Sua vontade é lei e não há quem o conteste, embora vinte conselheiros o ajudem a tomar as decisões reais. Ele não é um rei misericordioso e sempre castiga criminosos e descumpridores da lei severamente. Pensar que estou indo viver sob o mesmo teto imenso que ele me deixa, no mínimo, aterrorizada. Sei que a probabilidade de topar com o próprio rei por acidente é quase nula, mas tenho medo de que acabe acontecendo e de que eu o desagrade de alguma forma. Seria meu fim, com certeza.

     Finalmente, chegamos à ostensiva morada real e paramos diante do sentinela. Tenho que inclinar muito minha cabeça para trás para poder olhar o palácio de frente. Os muros são altos, cinzentos, imponentes e intransponíveis, o que faz com que meu instinto de fuga se agite dentro de mim. Se eu entrar aí dentro, sei que só sairei morta.

     - Respire - sussurra o Capitão mais uma vez.

     Solto o ar que nem sabia que estava segurando e cerro minhas mãos, para tentar fazê-las parar de tremer.

     - Quem vem lá? - o sentinela brada alto o suficiente para me fazer estremecer.

     - O príncipe herdeiro! - responde um dos guardas.

Cruel: uma volta no tempo (spin-off)Where stories live. Discover now