Parte 10

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Eu estaria mentindo se dissesse que retornar à torre dos rebeldes não me traz nenhuma lembrança ruim.

Lembro-me que chovia forte e que a Dama Agatha - ou melhor, senhora Agatha, mãe do Capitão DeVil - praticamente me sequestrou e me trouxe para cá com ela. Lembro-me de sentir grande desespero e preocupação, pois minha vida estava bagunçada novamente. Lembro-me de achar que ficaria presa outra vez. Lembro-me de que foi aqui que vi o Capitão pela última vez.

Agora, um ano depois e à luz do dia, a torre parece mais convidativa. Ou talvez seja a companhia que tenho ao meu lado, segurando minha mão e me transmitindo segurança. Há dois dias, aceitei me casar com o Capitão sem pensar duas vezes e apenas agora estou me dando conta de que as coisas estão ficando realmente sérias o suficiente para que ele tenha decidido me levar para conhecer seus pais oficialmente. Sinto-me ansiosa e entusiasmada ao mesmo tempo.

- Chegamos - diz o Capitão, enquanto abre a porta da carruagem. Ele se vira e estende a mão para me ajudar a descer.

Aparentemente, o acordo firmado com rei Theo rendeu certos benefícios à família dele.

Desço da carruagem e envolvo meu braço no do Capitão - o chão aqui é muito irregular e cheio de pedras e as probabilidades de que eu caia e cause uma má impressão são bem altas. Nós caminhamos escoltados por dois homens vestidos com uniformes que me lembram muito os dos guardas do palácio até a entrada principal da torre. Noto que os muros cinzentos estão quase completamente cobertos por hera e que as árvores ao redor da construção estão começando a florescer. É uma visão quase bela.

Respiro fundo quando o Capitão e eu paramos diante das portas de ferro e madeira.

- Estou nervosa - confesso a ele num sussurro. - E se não me aprovarem?

Capitão DeVil permanece tranquilo.

- Não se preocupe. Meus pais creem ser um milagre que eu finalmente decidi me casar, duvido que se oponham - ri com ironia.

- Não brinque com essas coisas, senhor.

- Se eu não brincar ficarei mais nervoso que você.

As portas são abertas para nós e logo nos deparamos com um casal de meia idade parado no hall de entrada - que parece infinitamente mais limpo do que me lembro. O homem e a mulher vestem belos trajes que os apontam como pessoas de posição social elevada. Levo dois segundos para reconhecer a mulher como senhora Agatha em seu sofisticado vestido de tafetá carmim. Ela parece mesmo um membro da realeza vestida desse jeito e não aparenta ter mais nada a ver com a chefe das damas da corte que um dia foi.

Seus olhos pousam em mim e se arregalam ligeiramente. Ela tenta disfarçar a surpresa sorrindo, mas é tarde. Eu percebi. Meu medo de ser rejeitada pelos pais do homem com quem quero me casar cresce mais a cada segundo.

O homem ao lado dela se parece muito com o Capitão DeVil e fica muito bem em sua túnica esmeralda. Sinto que o sorriso contido que dá para mim é sincero, mas distante. Ele também não parece estar morrendo de alegrias em me ver ao lado de seu filho.

- Filho - diz o homem -, estávamos aguardando por vocês dois.

Capitão DeVil troca um aperto de mão com o pai e cumprimenta a mãe meneando a cabeça. Então me segura pela mão e me traz para mais perto dos três.

- Pai - diz -, esta é Rose, do povoado de Vallahar. Minha noiva.

Sem saber muito bem como cumprimentar meu futuro sogro adequadamente, faço uma reverência contida. Ele sorri para mim.

Cruel: uma volta no tempo (spin-off)Hikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin