— Então você fala? — ouviu a voz de Lícia. — Fala, da onde você saiu... Monstrengo.
Mas nada foi dito pela pobre garota que já se encontrava, menos pálida do que o habitual. Angel sentiu um puxão forte em seus cabelos.
— Fala de onde você veio! — Lícia agora gritou. — Você é ridícula, garota. Dá nojo tocar em você.
Angel ouviu as risadas dos outros, sentiu o gosto salgado de uma lágrima no canto da boca.
Gritou.
— Cale a boca — ouviu a voz de Alan. — Vão descobrir a gente desse jeito. Voltou a gritar.
— Faça-a se calar, Lícia! — um dos garotos ordenou.
Lícia chutou com o joelho o rosto de Angel e a jogou no chão.
— Olha só, agora seu rosto não está mais tão pálido assim.
— Ih, ela tá chorando, pessoal. - uma voz feminina gritou.
E logo começaram a rir novamente.
— Você é um lixo, Adams. Quem é a idiota da sua mãe? Deve de ser muito burra pra te chamar de Angel. Angel de que mesmo..? Ah, Hope... Esperança? Será que você não tem nada que preste, garota? - Lícia chutou sua costela.
Então se virou para trás, para procurar Alan.
— Hey, você não disse que queria se divertir um pouquinho com ela. Venha aqui.
Esse foi o tempo necessário para que Angel se levantasse e corresse ladeira a baixo. Porém alguém a segurou a tempo e Alan se aproximou.
— Pra onde você vai, garotinha? Nós ainda não acabamos.
— Me largue, por favor - a garota suplicou.
Mas Alan apenas riu.
— Vamos ver quantas peças de roupa você usa. Porque não importa como o tempo esteja, você sempre está usando esse casaco de lã fedido. - ele puxou bruscamente o casaco preto da garota, rasgando uma das mangas.
— Não! Pare! - suplicou novamente Angel.
Os outros haviam formado uma pequena rodinha envolta deles dois e se mantinham rindo e caçoando da garota. Alan jogou o casaco de lã no chão, enquanto com a outra mão desabotoava a camiseta branca, então, já na metade, com a blusa cinza embaixo desta a mostra, ele parou.
— Ah, é. Você sempre usa essa coleira, não é? - Ele mencionou o colar, que realmente parecia uma coleira negra no pescoço de Angel.
Então tentou arrancá-lo, mas foi tão rude nesta ação que quase a estrangulou. A roda envolta deles se apertou mais e as risadas aumentaram. Por fim Alan conseguiu arrancar o colar.
— Agora sim, podemos continuar - ele disse, arrancado o resto da camiseta de Angel.
— Alan, pare! - ela gritou, tentando apanhar sua camiseta do chão. Mas então algo acertou suas costas. Alguém puxou seu cabelo.
— Alan! Pare. - alguém que não era Angel gritou. - Isso é demais.
— Tudo bem se você quer tomar banho de roupa, então. - ele ignorou e saiu arrastando-a pelos cabelos ladeira a baixo, rumando para o lago, não muito longe dali.
Angel gritava loucamente de dor, enquanto os outros iam atrás, chutando-a e empurrando-a. Ao chegarem à beira do lago, Alan largou-a e tirou seus sapatos. Angel tentou se levantar, mas sentiu mãos firmes de outro garoto prendendo-a no chão.
— Sua maquiagem é a prova d'água? - ouviu a voz de Lícia perguntar.
— Aposto que deve de ser mais um daqueles materiais baratos - outra garota respondeu.
— Ela deve de ter comprado no circo. - agora era um garoto que falava.
E isso atraiu a risada de todos, inclusive de Alan, que arrastava a garota pelas pernas até o lago. Ela sacudia as pernas, seu corpo ricocheteava, suas unhas se cravaram na areia e puxaram a grama que estava acabando e dando lugar a água escura do lago.
— Olha! Parece um peixe fora d'água, leve-a para dentro depressa, Alan.
Angel gritou e tentou se levantar, tirando o equilíbrio de Alan, que soltou suas pernas por meros cincos segundos. Então braços firmes a seguraram de volta e ela foi esmagada contra o chão. Levantou a cabeça, e pelo pouco que conseguiu, captou o rosto do seu agressor.
Estava escuro, mas a luz clara e um pouco forte que vinha do ginásio iluminou um pouco o rosto pálido e os cabelos castanhos escuro do garoto. Uma coisa Angel reparou: outros olhos estranhamente azuis, de um tom parecido com os de Alan, porém mais escuro. E então voltou a ser arrastada. A água penetrou no seu nariz e logo ele começou a arder, Angel tentou levantar a cabeça, mas Alan ia cada vez mais para o fundo e logo tornou impossível respirar naquela profundidade. A água era fria e escura. Sentiu suas pernas serem libertadas e seu corpo foi empurrado para longe, com a ajuda da correnteza. Angel tentou colocar a cabeça inclinada a superfície, e quando o fez, viu apenas a sombra de Alan se afastar em direção a margem. Tentou colocar os pés na área, porém percebeu que não estava mais no raso, a correnteza arrastava-a cada vez mais para o fundo e logo se tornou impossível ficar de pé dentro do lago. Angel começou a engolir água sem parar, o ar começava a lhe faltar nos pulmões e o desespero a dominava completamente.
— Soc-socor... - tentou falar, porém ao abrir a boca ingeriu mais água.
— AAH! - conseguiu gritar — Socorro! - conseguiu falar concretamente, por fim.
— Eu não sei... Não sei... - mais água foi engolida.
— Alan! - alguém gritou — Volte até lá, já chega!
Alan não deu ouvidos, continuou parado, olhando a cena.
— ALAN! - o garoto voltou a gritar. - Ela vai se afogar.
Angel continua engolindo água, quase perdendo ar, e juntamente os sentidos. Então o garoto empurrou Alan e entrou no lago, estava na hora de pôr um fim na brincadeira. Ele tentou ir contra a correnteza, tentou enfiar os pés na areia para que não se afogasse também. Porém quando se aproximou da garota tudo que percebeu foi uma forte pancada, um chute na barriga e logo ela estava se agarrando a ele. Angel empurrou a cabeça do garoto para baixo da água e se apoiou nele para respirar.
— NÃO! - Alan pareceu sair do transe. - Largue ele, monstro!
O garoto tentava se soltar, tentava voltar a superfície, porém ela empurrava-o cada vez mais para baixo. Até que sentiu-o ceder e seu corpo relaxou, escorregando para a areia. Angel caiu novamente e mergulhou. Agora ela estava perdendo o ar. Viu a silhueta do garoto abaixo de si, ele havia desmaiado. Tentou subir a superfície diversas vezes, viu em uma delas que Alan havia voltado e estava retirando o garoto de lá. Tentou alcançá-lo também, mas ele foi mais rápido e com a ajuda de outro garoto, tiraram o menino que havia tentado salvá-la da água. Angel voltou a perder o ar e voltou a gritar. Mas dessa vez ninguém fez nada, estavam ocupados demais tentando trazer o garoto desmaiado de volta, o sacudiam sem parar e gritavam para que ele acordasse. Angel tentou gritar mais forte, porém eles estavam voltados para o menino desmaiado. Aos poucos Angel foi perdendo os sentidos, e então... Tudo ficou escuro para a pobre garota. Ela não havia feito mal a ninguém, não em sua vida.
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A lenda de Selene Adams. (PARADA)
Mystery / ThrillerComo em todo bom conto ou quem dirá em uma lenda, pode haver o típico início: "Era uma vez"; mas, talvez, aqui não terá essa de "final feliz". Nem se torna preciso a realidade por si só é imprevisível. Contudo, não há como negar que tudo dependerá d...
Capítulo 1
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