Depois da Tempestade

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Depois da tempestade, vem a bonança. Minha mãe sempre me falou isso,
mas nunca levei a sério. Esta bonança demorou demais. E tenho medo dela ser

curta. Peguei todos os textos do Chinewski para fazer um arquivo caseiro e fui

vendo os sinais. O Iuri escrevendo poesias. O Cláudio idem. Beatriz falando de
uma paixão. As sempre lindas linhas de Alice. E eu, quieto ali.

Sofrendo por dentro, mas achando que estava feliz.

Até que de repente, algo aconteceu. Voltei a escrever poesias. Comecei a

comer comida macrobiótica. Estou quase parando de fumar, e desta vez, de vez.

Minha guitarra, pela primeira vez em doze anos, gritando frases de amor e não de
melancolia. Estou conseguindo tirar o melhor de mim e tomar decisões que talvez
nunca tenha conseguido. Quem me encontra na rua e não andou me vendo,
pergunta o porquê desta felicidade.

Ao contar, sentem de primeira que sou o pior dos seres. Mas após explicar
detalhadamente o porquê disso, deixo-os felizes também. Nenhum ser humano é

feliz preso dentro de uma caverna, mesmo que ela pareça quente e segura. Às
vezes, você pode encontrar mais lá fora. Curtir um pouco o Sol, a floresta, a vida.

E talvez volte, por ter a certeza que ali é seu lugar. Mas talvez não.

Houve uma névoa, um efeito dominó que destruiu muitos
relacionamentos. Pelo menos mais de dez que conheço. E acompanhei esta crise

de perto. Vivi.

Mas, após um mês de ter começado, vejo que o que ficou é bom. Está
tudo deserto, mas todos estão se esforçando agora para reconstruir o que
perderam.
Talvez não as mesmas moradas, mas a morada que querem. Que
realmente querem. Não lugares seguros, mas lugares que nos deixem felizes.

Muitos não vão esquecer-se desta névoa e do que existia antes dela. Eu

não vou.

Mas temos que fazer o melhor. O melhor de si. Arriscar. Ir para São Paulo

seguir um sonho, largar tudo e tentar ser músico, acabar um relacionamento de

tempos porque cansara de enganar a si e seu parceiro. Não quero viver numa

Fantástica Fábrica de Chocolates, nem em Oz, nem em nada disso.

No more games, no more illusions. Quero viver no meu amado Rio de

Janeiro. Viver cada dia certo de que estou vivendo este dia. E do lado de alguém
que realmente curtirá cada momento como estou. Sentindo o lugar. Não quero
mais fantasias de filmes, quero o sabor da realidade, por mais mágica que ela seja.

Achei que alguns livros e textos eram ficção. Escutei isto da boca da

pessoa que amo. Mas quando se vive isso, sabe que parece ilusão, porém é real.

Existe um verdadeiro amor em algum lugar, o negócio é estar disposto a

encontrá-lo. Eu encontrei. Não repeti o erro de Silent Bob em Procura-se Amy.

Quando ela quis ir embora, disse não. O resto não é história, é vida.

Uma ótima vida. Somos muito jovens para nos sentirmos presos. Alguns

nem devem ter idéia do que estou falando. Sortes de vocês, provavelmente nunca

o foram. Mas muitos são. Eu sei, estou vendo eles se libertarem. Estamos

ajudando uns aos outros a soltarem as algemas. Estou solto. Tenho que correr

agora. Já estou atrasado para minha vida. A gente se fala.

:: tommy molto::

Por uma vida menos ordináriaWhere stories live. Discover now