Mentira tem perna curta

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Três semanas se passaram desde o primeiro dia na faculdade. Tudo estava indo muito bem, eu estava amando o curso, tinha voltado a conversar com a Ana, Rogério realmente não era tão ruim como eu pensava, Analu, Beca, Nina e eu estávamos mais próximas que nunca e o relacionamento com Pietro estava ótimo, até que...

— Lia, me desculpa! – Ana fala ao se aproximar, toda esbaforida.

— Desculpar pelo quê? – Pergunto. Sua expressão é de desespero e eu começo a me preocupar.

— Pietro... Eu não sabia que... Você disse pra ele que eu tava passando mal há um tempo? – Questiona. Ai, meu deus. Eu estou ferrada.

— Como foi que...?

— Nós nos esbarramos na esquina de casa e ele perguntou se eu havia me recuperado bem desde aquele dia que passei mal e eu disse que não passava mal há anos. – Explica. Droga, droga, droga. — Me desculpa, eu realmente não sabia.

— Não é sua culpa, Ana. Eu preciso ir pra casa e resolver isso.

— Ok, boa sorte. – Me despeço de Ana e caminho para casa, pensando em como raios eu vou conseguir explicar tudo isso para Pietro. Se eu bem o conheço, a essa altura, ele já está muito bravo. Pietro odeia que escondam as coisas dele.

Chego no prédio, cumprimento o porteiro e começo a subir as escadas com o coração na boca. Paro na porta e fico encarando-a, eu nunca fui boa encarando os problemas, prefiro fugir deles, mas acho que não tenho uma escolha agora. Assim que coloco a chave na fechadura, a porta é aberta, revelando um Pietro com a testa franzida.

— Oi. – Digo.

— Por que você mentiu pra mim? – Oh, direto, ok.

— Não foi uma mentira completa, eu realmente tava ajudando... Alguém.

— Quem? E por que esconder isso de mim?

— Bom, essas duas coisas estão muito bem relacionadas.

— Isso não é uma resposta.

— Você pode ficar mais calmo? Conversar nesse tom de voz me deixa nervosa.

— Ah, me desculpa se eu descobri que você mentiu pra mim e agora não quer me contar a verdade, ou sequer o motivo, e eu não consigo manter um tom de voz calmo! – Ok, nada de conversa civilizada, vamos praticamente gritar um com o outro.

— Eu tava ajudando a Gabriela e não te falei nada porque ela pediu pra que eu não falasse.

— A Gabriela?! Por que ela precisaria de ajuda? – Questiona.

— Eu não posso te falar.

— Por que não?

— Porque é uma coisa dela! Não cabe a mim falar. – Dito isso, Pietro bufa e bate a porta, que ainda estava aberta.

— Se a Gabriela não quis me falar, significa que era algo que me envolvia, não é? E se me envolvia, como seu namorado, você não acha que eu tinha o direito de saber? Ou de pelo menos que você fosse honesta dizendo antes que não podia contar?

— Ok, duas coisas: a primeira é que você ainda nem era meu namorado naquela época, a segunda é que eu respeito a vontade das pessoas com escolhas relacionadas a elas e não a mim.

— Mas se você sabia de sei lá o que isso foi, então estava relacionada!

— Eu saber do que aconteceu, não me classifica como detentora da escolha de te contar ou não!

— O que pode ter acontecido de tão sério pra você defender a Gabriela assim? E por que ela não iria querer me contar? Ela achou que tivesse grávida ou o quê? – Fala num tom sarcástico, mas eu não consigo controlar a expressão de "é exatamente isso". Pietro então para e me olha por alguns segundos, assustado. — Gabriela achou que estava grávida? Espera, ela está grávida? Porque se for isso, você não tinha o menor direito de esconder isso de mim!

— Ela não está grávida! Só achou que estivesse. E não fui eu que escolhi esconder isso de você, por deus! Foi ela, a pessoa que quase morreu de desespero achando estar grávida. Eu só respeitei a vontade dela!

— Isso é ridículo! Eu tinha o direito de saber!

— Então vai discutir isso com ela, ué!

— Não foi ela que mentiu pra mim! E não é com ela que eu namoro agora!

— Mas foi ela que me implorou pra esconder isso de você!

— Você não precisava ter escondido!

— Não era escolha minha! Quer saber, você tá me julgando, mas o que faria se estivesse no meu lugar?

— Eu seria honesto com você!

— Ah, tá bom.

— Se não vai acreditar na minha resposta, então pra que perguntar?

— Porque eu não acho que você esteja sendo honesto na resposta! Você não tá realmente tentando se colocar no meu lugar!

— Sabe, eu acho que achar que poderíamos dar certo depois de tanto tempo foi ingenuidade da nossa parte.

— O quê?! – Pergunto, exasperada.

— É, tá dando tudo errado.

— Não. Nós tivemos um problema, isso não quer dizer que tudo esteja dando errado.

— Quer saber? Eu preciso ir embora.

— Ah, você vai fugir! A gente precisa chegar a um acordo aqui!

— Nós pensamos diferente, não tem acordo.

— O que isso quer dizer?

— Que eu preciso ir embora e pensar.

— Ah, vá a merda, Pietro! – Grito e viro de costas, entrando no apartamento. Dou uma rápida olhada para trás, a tempo de ver Pietro chutando o ar.

Rebeca e Analu estão sentadas no sofá, se olhando em dúvida do que fazer em relação a mim.

— Tá tudo bem? – Analu arrisca perguntar.

— Não. Mas vida que segue. – Respondo e vou para o quarto, me trancando lá. Queria ser uma dessas pessoas que conseguem dormir fácil, mas a adrenalina da briga ainda corre pelas minhas veias, fazendo com que eu revise cada uma de nossas falas mais de uma vez. O pior é que eu só consigo pensar em uma coisa: se Pietro transformou isso em algo tão grande, imagine quando descobrir sobre sua mãe e os remédios...

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Olá?

Todo mundo bem aí? Sobreviveram à briga? Acho que essa foi a briga mais feia na história de Lietro... :/ Mas gente, acontece, né? As pessoas são diferentes e elas discutem e relacionamentos precisam de mais que amor pra durar. Enfim, mantenham-se firmes aí e não me odeiem. Não falta muito pro livro acabar, acho. Confiem em mim, amo vocês ♥

As Duas VersõesOnde as histórias ganham vida. Descobre agora