Reencontro de All Star

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"Estranho é gostar tanto do seu All Star azul" - All Star, Nando Reis.

Apesar de todo o meu discurso sobre não me sentir uma adulta, em dois meses eu vou me mudar e, não digo que vou morar sozinha, pois provavelmente ficarei em uma república. O fato é que, depois de um ano de cursinho, eu passei numa faculdade federal, no curso de Relações Internacionais. E vou me mudar. Semana que vem mesmo vou para a cidade que vai me abrigar fazer matrícula e procurar uma moradia. Parece que, em breve, terei que decidir sozinha se levo ou não o casaco.

Após contar para minha mãe que eu tinha sido aprovada, ela me abraçou, disse "parabéns!" e, claro, completou com um "finalmente, hein", afinal, ela é a minha mãe. Meu irmão disse que vai pegar minha escrivaninha para ele, até me impressionei por ele não ter dito que pegaria o quarto inteiro e meu pai me disse que sabia que eu conseguiria, ainda bem que alguém sabia, porque eu tinha minhas dúvidas. Minha prima, Fernanda, está dizendo que vai morrer de saudades, como se a cidade para onde vou não ficasse apenas 3h daqui, dramática. Ainda não contei para a Ana que estou indo para a mesma faculdade que ela, apesar de serem cursos diferentes, o campus é o mesmo; ela costumava ser a minha melhor amiga, mas acontece que ela foi para a faculdade um ano antes de mim e fez novas amigas lá, ainda nos falamos de vez em quando, mas não é a mesma coisa, nunca é.

Nesse momento estou observando fotos nossas no meu mural, é estranho pensar em como as coisas mudam... Há um ano, nós jurávamos que não iríamos nos afastar. Mas acontece que, ao nos formarmos, não deixamos apenas o ensino médio para trás, deixamos histórias, amigos e amores. Mas, como eu sempre digo, vida que segue. Mas ainda preciso contar para a Ana que vou me mudar, quem sabe ela não conhece uma república que tenha vagas sobrando?

— Marília, vamos comigo comprar o material do seu irmão? - Minha mãe pergunta, depois de entrar no meu quarto, sem bater, claro.

— Ah, mãe, sério? - Pergunto, mas eu já sei que não tenho escolha. Se fosse o meu irmão pedindo, ela certamente cederia.

— Sério, né! Aí você aproveita e compra o que tiver que comprar para a faculdade.

— Ok.

— Ah! E depois eu vou fazer unha, você vai ter que trazer o material para casa. - Ela diz e eu respondo com uma cara de confusa, afinal, para que existem os carros? — O carro estragou, lembra? - Ela parece ler meus pensamentos. Mães. Logo depois, ela vai atrás do meu irmão perguntar sobre qual personagem os materiais dele vão ser esse ano. Na minha época, eu não podia escolher, ser o caçula é uma maravilha mesmo.

***

— Ufa! Ainda bem que conseguimos comprar tudo a tempo! Te vejo em casa, então? - Ela diz, assim que saímos da papelaria, me manda um beijinho e vai embora, enquanto eu tenho que lidar com as dez sacolas cheias de coisas de escola.

Olho para o meu ex-colégio, do outro lado da rua, e uma onda de nostalgia percorre meu corpo. Uma das sacolas quase cai, mas que merda! Tenho que lembrar de agradecer a minha mãe por me mandar levar isso sozinha para casa.

Atravesso a rua com muita dificuldade, considerando meu estado "entupida de sacolas" e o estado da rua "entupida de carros". Respiro aliviada ao chegar na calçada, mas o alívio passa no instante em que sinto um par de olhos castanho claros me encarando, olho de novo para o garoto alto próximo a mim, não acreditando que a sua presença ali possa ser real. Uma das sacolas cai da minha mão. Eu sou um desastre. Me agacho para pegar o que derrubei, ele dá alguns passos na minha direção e agacha também, me ajudando a pegar os materiais. Ele está mesmo aqui. Estou atônita.

— Oi. - Ele diz, depois de me encarar por alguns segundos, ainda estamos agachados. O som de sua voz parece provocar arrepios na minha pele, minhas pernas perecem ficar bambas, a faísca que existia em mim parece se tornar uma chama e tudo que quero fazer é abraçá-lo.

— Oi. - Respondo. Ele se levanta e me oferece a mão para que eu levante também, eu a aceito e, sem conter o ímpeto, o abraço. Sinto seus braços me envolverem e milhares de memórias passam pela minha cabeça, meu coração está extremamente disparado, seus cachos tocam a minha bochecha e eu acabo com o pequeno espaço que ainda existia entre nós, tentando prolongar aquele momento.

— Eu sabia que você gostava de Transformers, mas não achei que chegasse ao ponto de comprar um estojo do Optimus Prime. - Ele fala rindo e se afasta de mim. Seus dentes inferiores são levemente tortos e eu sempre achei isso tão sexy.

— Você não mudou nada. - Sorrio pela primeira vez desde que o vi. Vejo seu olhar abaixar para os... meus pés? Ah, merda! Não acredito que estou usando o All Star azul!

— É o mesmo? - Ele pergunta curioso.

— Quanto mais surrado melhor. - Falo, relaxando os ombros.

— Quanto mais surrado melhor. - Ele concorda, apontando para seus próprios pés. Ele também está usando seu All Star preto. Qual a probabilidade de nós nos encontrarmos e estarmos usando nossos respectivos all stars de anos atrás? Isso mesmo, quase nula.

Imagens antigas começam a tomar espaço em minha mente:

— O seu All Star azul combina com o meu preto. - Ele parou ao meu lado, cantando. É uma música do Nando Reis.

— Falta o cano alto. - Eu disse rindo e fazendo referência à letra da música, ele sorri de volta. Nós éramos só amigos naquela época, mas estávamos ficando cada vez mais próximos, meus sentimentos por ele começavam a surgir.

Mexo a cabeça, tentando parar as lembranças, ele está me encarando com seus olhos castanhos, eu gostaria de poder ler seus pensamentos. Estamos numa espécie de silêncio confortável, algo que eu costumava ter com ele. Seu celular toca. Droga.

— Oi. - Ele atende sem olhar o visor e, ao ouvir a voz do outro lado da linha, parece se espantar. — Putz! Desculpa, já estou indo praí! - Diz e termina a ligação. — Preciso ir, mas foi... Foi ótimo te encontrar. Tchau. - Ele diz, voltando-se para mim e o clima fica estranho.

— É, ok então. Tchau. - Eu respondo e vejo ele ir na direção oposta a minha.

— Ah, Marília! Você ainda gosta de One Direction? - Ele se vira e pergunta, sorrindo. Ele sempre riu de mim por gostar da 1D, eu não ouço mais as músicas da banda, mas longe de mim criticar algo que já gostei.

— Faz muito tempo que não escuto as músicas deles! - Respondo, mostrando a língua para ele.

— Sabe, eles nem eram tão ruins, mas eu gostava de te irritar. - Ele diz rindo e vai embora de vez. E me deixa aqui, sem saber o que sentir. Se é que isso se sabe... Quando estávamos juntos, eu costumava achar que não havia nada além do "sentir".

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Oi! Depois de muita enrolação (da minha parte) e muita espera (da de vocês), aqui está o primeiro capítulo! O que acharam desse reencontro? Espero que tenham gostado!

Ah! Eu tive essa ideia de fazer alguns personagens baseados em pessoas que eu conheci por aqui, então se vocês virem seus nomes por aí, são vocês mesmos! É uma forma de agradecer por vocês estarem lendo, votando e, principalmente, comentando (adoro seus comentários! haha). Mas, sério, muito obrigada mesmo! ❤

Hoje quem aparaceu foi a... (Acho que ela já está cansada de ser mencionada nos meus livros, mas ela meio que me acompanha desde o começo e sempre me deu força, então whatever) a... worldcoolture ! Sim, você é Ana (dã)!
E quem também teve uma aparição bem discreta, foi a minha prima ( FeeeerP ) que fez o papel de prima mesmo! Hahahaha.

Queria fazer uma menção honrosa (hahaha) à MeridaTordelicia que, com seu bom gosto, adivinhou que essa seria a música do capítulo! <3

Ah! Postei um conto curtinho chamado "Cantada à la Shakespeare" pro desafio do RomanceBr , se quiserem dar uma olhada, é só ir no meu perfil!

Semana que vem tem mais capítulo e personagens novos! Não deixem de votar (e comentar)! Beijão!

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