Açaí com brigadeiro

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— Hey. - É tudo que eu consigo falar ao sentar ao lado de Pietro.

— Como vai, Lia? - Ele pergunta, tão constrangido quanto eu. 

— Bem e você?

— Também. - Ele diz e olha para os próprios pés.

Isso não pode estar acontecendo. Digo, como é que eu vou falar para a coordenadora que quero mudar de turma na frente do Pietro?! E se ela me perguntar o motivo disso, o que eu vou dizer? "Bem, o motivo, está sentado ao meu lado"

— Animada para começar as aulas? - Pietro quebra o silêncio que havia se instalado.

— É... Na verdade, eu nem tava pensando nisso. Mas agora que você falou, até que sim, um pouco, eu acho. - Falo e faço uma careta, desde quando eu sou tão péssima com as palavras? Pietro dá um sorrisinho. — Pietro. - Digo e ele me olha com seus olhos castanhos claros. — Por que você não vai mais fazer faculdade no Rio?

— É complicado, Lia. - Ele diz e faz uma longa pausa, enquanto olha para o nada. — Meu avô morreu há um tempo, enquanto eu ainda estava na Nova Zelândia e eu não pude me despedir. - Ele diz e eu percebo um traço de tristeza em seu rosto, meu coração dispara pensando no quanto Pietro deve ter sofrido por isso, ele e o avô eram extremamente próximos.

— Pietro, eu... Eu não fiquei sabendo. - Falo, colocando a minha mão sobre a sua e ele a aperta levemente.

— Se você tivesse ficado sabendo... Teria ido falar comigo? - Ele me pega desprevenida, eu não sei o que eu teria feito se tivesse sido informada. Nós não nos falávamos há tanto tempo e, naquela época, eu estava tão certa de que já havia superado... 

— Eu não sei, honestamente. - Falo, mordendo os lábios e ele assente. — Então, você não quer ir para longe porque...

— Minha mãe não tá muito bem, depois que meu avô morreu as coisas se complicaram. Ela tá com depressão. Morando em BH, eu posso vir todos os fins de semana, já no Rio, não sei, uma vez por mês?

— Entendi. Ela vai ficar bem, Pietro. Sua mãe sempre foi uma mulher forte. - Digo firmemente, afinal, aquela é a mais pura verdade.

— Com licença. Vocês queriam falar comigo? - A coordenadora entra na sala e eu dou um pulinho, assustada.

— É, queríamos sim. - Pietro fala.

— Damas na frente. - Ela diz, olhando para mim e eu quase tenho um ataque. Droga, como eu vou falar isso?!

— Na verdade, o Pietro pode ir primeiro, sem problemas. - Digo, tentando me safar.

— Não, sério. Eu faço questão. - Ele diz. Mas que merda.

— É, eu... - Começo a falar e olho para Pietro, ele está prestando toda atenção possível em mim. — Eu quero mudar de turma. É isso. - Falo de uma vez e não olho para Pietro, não quero ver sua reação, nem sua expressão, nada. 

— E eu posso saber por quê? - Ela pergunta e eu juro que quero gritar. Por que raios eu tenho que falar isso na frente do Pietro?!

— Porque, bem, eu tô meio sem tempo.

— Mas você não tá de férias? - Pietro pergunta e eu lanço-lhe um olhar raivoso.

— Tem outro horário ou não? - Pergunto, começando a me estressar.

— Me desculpa, Marília. Mas só temos outra turma de francês e ela já está lotada. - Ela fala, por fim. Tá vendo? Custava ter me dito isso desde o começo? Pra que ficar me enrolando? — E você, meu jovem? - Ela pergunta, virando-se para Pietro, que fica muito corado.

As Duas VersõesOnde as histórias ganham vida. Descobre agora