O fim da negação

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"Lia, já faz dois meses desde que desembarquei na Nova Zelândia e desde então nós não trocamos sequer uma palavra. Cara, eu não te entendo. Nós não havíamos combinado que agiríamos como se fôssemos amigos?! E, nessa lógica, não deveríamos conversar?! Mas que porra, Lia! Por que é que você não respondeu as minhas mensagens? Eu sei que provavelmente você nem vai ver esse e-mail, a gente nunca se lembra de checar o e-mail porque não tem nada importante e eu me recuso a criar um facebook só pra dizer que tô puto por você estar me ignorando assim. Cara, foi você quem disse pra gente terminar, lembra? Foi você quem disse que seria melhor assim, eu nem queria isso, lembra? Mas que merda, Lia! E o pior é que eu sinto a porra da sua falta, sabe? Eu sinto falta das suas manias esquisitas, como dobrar o pão diferente de todo mundo e nunca comer a bundinha dele, eu sinto falta de discutir sobre os filmes da Marvel, sinto falta de falar sobre qualquer coisa aleatória, porque com você qualquer besteira parece ser interessante! Por que é que você tá fazendo isso, Lia? Poderia ao menos ter me avisado antes que não queria mais falar comigo, sei lá! Mas me ignorar sem dar a menor explicação?! Eu entendo que você acha que tem que me superar porque eu é quem fui embora e porque seis meses é tempo demais, mas caramba Lia, a gente combinou de conversar! Se um dia você chegar a ler esse e-mail, me manda uma mensagem, me chama no Skype, qualquer coisa assim, nós precisamos conversar."

Termino de ler o e-mail de Pietro e fico estática. Que merda. Eu não acredito que não vi isso antes, se eu tivesse aberto a droga desse e-mail antes tudo agora seria diferente! Pietro não estaria namorando com outra pessoa, nós até poderíamos estar juntos! E de pensar que eu fiquei brava com ele depois que o vi com Gabriela... Argh! Mas, também, ele poderia ter pensado que eu não recebi as mensagens, né? Afinal, essas coisas acontecem, certo? Começo a imaginar Pietro ansioso esperando por uma mensagem minha, consigo vê-lo bravo comigo por eu estar ignorando-o, consigo imaginá-lo com muita raiva, mas no fundo mal por não conseguir entender os meus motivos. Nós tínhamos combinado de conversar, afinal de contas. Sinto um aperto no peito, eu também sofri achando que ele estava me ignorando, mas fui eu quem não tentou sequer procurá-lo achando que aquela era uma obrigação dele, mas que merda passou pela minha cabeça?! Isso tudo foi orgulho? Só porque era ele quem estava indo embora significava que eu não poderia ir falar com ele? Eu realmente não consigo entender o que passou pela minha cabeça e então fico com muita raiva de mim mesma, fico com raiva de tudo, até que acabo explodindo em lágrimas. Eu ainda gosto de Pietro, por que é que eu estava mentindo para mim mesma sobre isso? Por que é que eu fico fingindo que superei quando claramente não superei? Eu queria tanto poder voltar no tempo e mudar tudo, dizer para mim mesma para parar de ser orgulhosa e mandar uma mensagem para Pietro, mas eu não posso fazer isso, eu não posso! Não há nada que eu possa fazer agora porque Pietro tem outra pessoa, porque já faz muito tempo e porque deveria ser uma ferida cicatrizada, mas há tanta coisa que eu gostaria de mudar... Quando me dou conta as meninas estão me encarando com uma expressão assustada.

— Er, Lia, tá tudo bem? - Rebeca pergunta, se aproximando.

— Não. Eu li o e-mail do seu irmão e... - Não consigo terminar a frase porque estou soluçando devido ao choro. Beca e Analu sentam na poltrona ao meu lado e me abraçam.

— Vai ficar tudo bem, Lia. - Analu diz.

Quando eu canso de chorar e de pensar nisso, me afasto delas e dou um sorrisinho envergonhado.

— Me desculpem por isso, eu não costumo ser emotiva assim, quer dizer, eu não costumo demonstrar minhas emoções assim. - Digo.

— Ah, Lia... Você ainda gosta dele, né? - Rebeca pergunta e eu nem tento negar. Chega de negar.

— O que você tá pensando em fazer agora? - Analu pergunta, receosa.

— Ainda não tenho certeza, mas vocês têm que prometer que não vão comentar nada sobre isso com ele, ok? - Falo, torcendo para que elas colaborem. As duas se entreolham, em dúvida sobre o que responder.

As Duas VersõesOnde as histórias ganham vida. Descobre agora